Os desdobramentos da crise financeira mundial prejudicaram os negócios de 63% das micro e pequenas empresas brasileiras, revelou ontem uma pesquisa do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP). Dos 4.200 pequenos negócios consultados entre março e maio deste ano, 2.646 empresas tiveram ou ainda enfrentam dificuldades em lidar com os reflexos da recessão mundial na economia, como com a queda da demanda e a menor oferta de crédito.
De acordo com o diretor-superintendente do Sebrae-SP, Ricardo Tortorella, as micro e pequenas empresas foram alvos preferenciais dos efeitos da crise. "São atividades que dependem de financiamento para a produção. Com a falta de crédito ou seu encarecimento no mercado, fica difícil ter capital de giro", afirmou. "Já as atividades que dependem mais da renda do consumidor sentem menos os efeitos da crise."
A pesquisa organizada pelo Sebrae-SP também entrevistou os pequenos empresários para saber os impactos da crise que mais causaram danos aos seus negócios. Em torno de 60% dos entrevistados disseram que a queda da demanda foi um dos piores desdobramentos da recessão mundial, seguido pelo aumento dos juros bancários (45%) e pela dificuldade de se conseguir um financiamento (40%).
O aumento no preço dos importados (33%) e a redução dos prazos de pagamento (24%) também foram citados pelos empresários. Apenas 2% dos entrevistados apontaram aumento da inadimplência dos clientes, demissões, queda dos lucros ou das exportações como reflexos da crise mundial em seus negócios.
Na análise por regiões, os empresários do Sudeste e Centro-Oeste foram os que mais reclamaram sobre danos causados em seus negócios pela crise mundial (64%). "São regiões com concentração de indústria e de agronegócio voltado para exportação, que sofreram mais com a queda do nível de atividade e do consumo no exterior", explicou Tortorella.
Os empresários das regiões Sul e Nordeste foram os que menos sentiram os impactos da crise. Apenas 57% e 43%, respectivamente, lamentaram os efeitos da recessão mundial em suas empresas. Na comparação por estados, Goiás teve o maior índice de empresas afetadas: 72% dos empresários foram ou estão sendo atingidos pelos reflexos da crise. Na outra ponta, com menor índice de prejuízo, aparece Santa Catarina.
O levantamento sobre os impactos da crise nos pequenos negócios também levou em conta os setores mais atingidos pela crise na opinião dos empresários. A indústria foi o segmento apontado como o mais prejudicado pela recessão (67%), seguido por comércio (66%) e serviços (56%).
"A crise afetou com mais intensidade as indústrias por ser um segmento mais dependente das exportações e dos empréstimos bancários, seja para financiar capital de giro ou para alavancar suas vendas", explicou o consultor do Sebrae Marco Aurélio Bedê. De acordo com ele, os segmentos mais afetados na indústria foram os de bens de consumo duráveis (máquinas e aparelhos elétricos) e de bens de capital (máquinas e equipamentos).
Os empresários de micro e pequenos negócios estão otimistas com o segundo semestre do ano. Dos entrevistados, 46% preveem alta no faturamento. Em relação ao número de funcionários, 67% manterão o quadro atual e apenas 8% pretendem demitir.
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