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22/06/2009 - IPO da Visanet vai definir novas estreias na bolsa
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O IPO da Visanet - primeiro do ano - e o reaquecimento do mercado - desde seu pior momento, em outubro do ano passado, o Ibovespa já recuperou cerca de 75% de seu valor - animam analistas e investidores a projetar que o pior já passou e a questionar se um novo ciclo de negócios está por vir no segundo semestre, sepultando de vez a crise financeira internacional. Porém, para especialistas, ainda é preciso ter prudência ao avaliar o período de euforia pelo qual passa a economia.
A expectativa do mercado é de que a operação da Visanet, maior companhia de captura e processamento de pagamentos eletrônicos de cartões do País, movimente até R$ 10 bilhões e se configure como a maior captação já realizada na estreia na BM&FBovespa, superando a recordista OGX, que chegou à bolsa em junho do ano passado faturando R$ 6,7 bilhões. "Se for um sucesso, pode-se acreditar que o apetite do investidor estrangeiro voltou. Mas a dúvida é justamente se será um sucesso", aponta o sócio da Fundamenta Administradora de Recursos Valter Bianchi Filho.
Essa questão também é crucial para o sócio do Banco Geração Futuro de Investimentos Wagner Salaverry, ao lembrar que houve um grande negócio neste ano - a oferta do Citigroup de suas ações na Redecard que capitalizou R$ 2,2 bilhões em março -, mas outro ainda está por acontecer. "Não podemos dizer ainda que houve uma retomada de IPOs. Ocorreu um retorno significativo em um primeiro momento", diz Salaverry.
O que pontua a dúvida dos analistas é a condição do investidor estrangeiro, principal responsável pela retomada nos negócios na bolsa (na oferta da Redecard, 87% das ações foram compradas por investidores externos). "Aqui no Brasil, os estrangeiros foram os principais responsáveis pela recuperação, o que pode demonstrar que as economias emergentes são vistas de maneira diferente", afirma Salaverry. Segundo o sócio do Geração Futuro, o dinheiro que saiu no ano passado com o agravamento da crise está retornando, mas dificilmente trata-se de novos investidores.
Para Bianchi, a valorização das commodities é a responsável pela retomada dos negócios e sua continuidade no segundo semestre é fator essencial para avaliar a sustentabilidade do mercado. "A bolsa brasileira vem muito na esteira das commodities, mas para continuar com esse vigor dependemos da continuidade dessa valorização, que daqui a pouco pode acabar", alerta. Outros pontos para os quais o gestor chama a atenção é a valorização do real frente ao dólar e a taxa de juros ainda atrativa, fatores positivos para atração dos investidores estrangeiros.
As dificuldades pelas quais passam os Estados Unidos para pagar suas dívidas levam os grandes fundos a procurar outros tipos de ativos para investir e nesse cenário o Brasil se favorece. Porém, Bianchi diz que há um jogo sofisticado de interesses em andamento, com o mercado sinalizando que está bem, mas muito mais na expectativa de que 2010 será um ano muito bom. "Houve um pouco de exagero nesse rally que não condiz com a condição delicada atual. Por isso, há de se ter cautela, por mais que haja um clima de entusiasmo, crendo muito mais na diminuição do ritmo de piora do que na melhora", ressalta.
Assim como Bianchi e Salaverry, o professor de governança corporativa da Trevisan Escola de Negócios Roberto Gonzales elege o IPO da Visanet como um divisor de águas e um marco para o mercado de capitais brasileiro. "Após essa operação teremos uma visão mais clara do momento. Por isso, a considero ousada", explica. Gonzales já vislumbra um cenário de pós-crise a partir de 2010, com a retomada sustentável da economia e uma nova série de IPOs, classificados como de afirmação do mercado de capitais brasileiro. "O Brasil será a bola da vez porque se mostra como o porto mais seguro em comparação com os demais países do Bric", aponta.


Executivos freiam planos e privilegiam outras fontes de captação

Nos últimos meses, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) registrou os pedidos de retirada de projetos de abertura de capital. A falta de recursos dos investidores levou os executivos a reverem planos de captação e a crise demonstrou que esse não era o melhor momento para um IPO. No Estado, empresas que trabalhavam com a estreia na bolsa entre suas metas, mesmo que a longo prazo, também frearam seus planos, mesmo que não gostem de detalhar esses planejamentos. A situação é encarada com naturalidade por especialistas, já que retrata o momento de incerteza que pauta a economia global desde 2008.
Há um ano, a Pilecco Nobre iniciou a preparação para a abertura de capital com o apoio do BndesPar, braço de participações do Bndes, e projetava aproveitar a valorização das commodities para ingressar no mercado de capitais. Hoje, o presidente da empresa, Onélio Pilecco, revela que a empresa permanece com seus projetos em andamento. "A história mostra que existem momentos nos quais os planos passam por determinadas reestruturações", diz.
A maioria das empresas é reticente em revelar seus planos, principalmente quando envolvem negociações de ações. Mesmo assim, diversos empreendimentos têm realizado movimentos que sinalizam a preparação para a abertura da capital, focando principalmente na adoção de práticas de governança corporativa. A fabricante de bebidas Fruki, de Lajeado, investiu nesses pontos e hoje a empresa está melhor organizada, com holding, conselho de administração e controladorias. A Fruki gastou quatro anos se preparando para modernizar sua gestão. O presidente-executivo, Nelson Eggers, nega a intenção de realizar o IPO e diz que as mudanças foram realizadas pensando em tornar a gestão mais profissionalizada, já que a empresa tem origem familiar. "Se surgir uma oportunidade e já tivermos tudo pronto, o caminho será mais curto", pondera.
Para as companhias, o IPO é uma opção para se capitalizar e realizar investimentos. Na falta dessa possibilidade, ganham importância as fontes regulares de financiamento, como o Bndes. A Vinícola Salton - que também nega planos de abrir capital - se utiliza das linhas de crédito e de recursos próprios para expandir seus negócios. Sobre planos de IPO, o presidente Daniel Salton questiona se a empresa, cujo faturamento neste ano deve ficar em R$ 200 milhões, possui porte para uma operação desse tipo.
Para o professor de governança corporativa da Trevisan Escola de Negócios Roberto Gonzales, companhias com faturamento médio de R$ 100 milhões podem sair ganhando com o sucesso do IPO da Visanet. O especialista crê que o segmento Bovespa Mais, voltado para empresas desse porte, deve ser o mais impulsionado nesta nova fase. Já o sócio da Geração Futuro Wagner Salaverry acredita que as novas emissões serão mais indicadas para grandes companhias. "O investidor estrangeiro vai precisar ter certeza de que empresas já estabelecidas poderão dar mais retorno", avalia.


Pesquisa mediu interesse de 75 empresas gaúchas em negociar ativos

No segundo semestre de 2008, uma pesquisa realizada em parceria pela Fiergs, BM&FBovespa e Fundação Dom Cabral mediu o interesse e o nível de preparação das corporações gaúchas em negociar suas ações na bolsa de valores. O levantamento envolveu 75 empresas e mostrou que o Rio Grande do Sul poderia ter mais 35 empresas listadas na BM&FBovespa nos próximos anos, sendo que pelo menos 11 dessas tinham a intenção de abrir seu capital em até dois anos. Essas companhias apresentam disposição para realizar seu IPO e estão também em um estágio avançado de gestão e governança corporativa.
O número de gaúchas operando na bolsa de valores pode ser ampliado quando são consideradas aquelas que estão prontas para ingressar no mercado de capitais, mas cujos diretores ainda não trabalham com essa perspectiva de gestão. "Existem empresas bem estruturadas, mas que ainda não têm o desejo de abrir o capital porque não possuem disposição para isso ou acham que não têm o tamanho adequado", avalia a professora da fundação, Virgínia Izabel de Oliveira, uma das responsáveis pelo estudo





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