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04/06/2009 - Investimento direto puxa fluxo cambial
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Os investimentos estrangeiros diretos (IED) na economia brasileira somaram US$ 2,75 bilhões em maio, informou ontem o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, em depoimento na Câmara dos Deputados. Outros US$ 2,5 bilhões, segundo ele, ingressaram no País para aplicações na bolsa. Esses investimentos contribuíram para que o fluxo líquido de dólares para o Brasil atingisse US$ 3,13 bilhões no mês passado, um aumento de 119% na comparação com abril. Foi o melhor resultado desde abril de 2008, antes do agravamento da crise, em setembro passado, de acordo com informações do BC.
Essa forte recuperação foi liderada pela chamada conta financeira, onde, além dos investimentos produtivos e na bolsa, são registrados também aplicações no mercado financeiro e em títulos públicos. Nessa conta, o BC registrou a entrada líquida de US$ 1,54 bilhão. Foi a primeira vez desde março do ano passado que essa movimentação feita por investidores e empresas ficou no azul.
Apesar dos números positivos da conta financeira, o segmento comercial perdeu força, segundo os dados do BC. Em maio, as operações de câmbio ligadas ao comércio exterior foram responsáveis pela entrada de US$ 1,551 bilhão. O resultado é 68,5% menor que o registrado em abril. Chama a atenção o aumento de 21% na conta paga pelas importações e a queda de 10,2% na receita obtida com as exportações.
Para Meirelles, os ingressos verificados no IED e para a bolsa revelam um "elemento extremamente positivo", que é a volta do capital para investimentos no País. Em abril, o País já havia recebido US$ 3,4 bilhões em IED. O superintendente do Banco Baniff, Rodrigo Trotta, bate na mesma tecla. "Os dólares que têm entrado buscam as ações brasileiras e também são destinados à atividade produtiva, na forma de investimento direto", disse.
Trotta observa que o fluxo não tem sido inflado pelos investidores interessados nos altos juros brasileiros, em operações que aproveitam a diferença entre as taxas dos países, a chamada arbitragem. "Quando isso acontece, o ingresso tem uma consistência completamente diferente porque acontece no mercado futuro. O que temos visto é a entrada de dólares à vista, em moeda", disse.
Nas últimas semanas, cresceu entre os economistas o debate sobre os motivos do forte ingresso de recursos externos e a influência desse fluxo de dólares na valorização do real. Para uma corrente, os investidores têm procurado obter ganhos de arbitragem, o que justificaria uma aceleração na redução dos juros.


Impacto do real na exportação é amenizado pela queda na importação

O efeito da valorização cambial sobre a balança comercial pode ser menos intenso do que se previa. Ainda que o câmbio afete negativamente as exportações de produtos manufaturados, as importações ainda sofrem com o cenário de retração da demanda interna. Assim, o saldo dessas duas forças deve ser um superávit comercial ao redor de US$ 20 bilhões, segundo especialistas.
O câmbio pode pesar menos na definição do saldo comercial deste ano do que o conjunto de outros fatores, dentre eles a demanda interna baixa e os elevados preços de commodities negociadas em bolsa. O vice-presidente executivo da AEB, José Augusto de Castro, avalia que o saldo comercial deste ano, previsto em dezembro pela entidade em US$ 17 bilhões, possivelmente vai aumentar quando for feita a revisão das projeções pela entidade, prevista para o mês que vem.
A ampliação do saldo previsto pela AEB não viria de um aumento das exportações, que devem ter sua previsão de US$ 163 bilhões mantida ou diminuída. O fator principal para a revisão para cima do saldo seria o recuo ainda maior das importações, estimadas em dezembro em US$ 146 bilhões para o ano. Segundo Castro, o ritmo de queda das compras do exterior neste ano já está mais forte do que se previa em dezembro. Neste momento, as commodities negociadas em bolsa estão nas alturas porque estão sendo negociadas como ativos financeiros. "Claramente não é demanda, é especulação", disse Castro. Nas importações, a alta do preço do petróleo contribui para aumentar o volume importado do produto e seus derivados. As importações de matérias-primas e bens intermediários, usadas para a produção industrial, caíram 40,9% em maio na comparação com maio de 2008, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A previsão para exportação pode ficar estável, mas também pode cair devido a fatores diversos.
O diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas e ex-presidente do Banco Central, Carlos Langoni, por sua vez, louva o câmbio flutuante, que no início da crise, fez o dólar subir a R$ 2,50 e "evitou uma deterioração exagerada do saldo comercial". A queda das exportações, na época, só não foi maior porque o câmbio ajudou, frisa. Agora, com commodities em alta e a tendência de recuperação da economia mundial, "o câmbio está procurando um equilíbrio entre R$ 1,80 e R$ 2,00". Ele prevê um saldo "um pouco acima de US$ 20 bilhões - o que é um resultado extraordinário para uma crise externa -, com queda média de exportações de 20% em relação ao ano passado.





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