O Brasil não espera apoio da matriz, de quem recebeu muita ajuda até 2005. A matriz também não vai receber ajuda da GM brasileira: ela tem um padrinho muito melhor, que é o governo dos EUA", disse.
Ardila reforçou que a unidade brasileira não é parte do processo de recuperação judicial que atinge a matriz nos EUA. "Em termos financeiros, a GM Brasil é saudável, lucrativa e teve em 2008 seu melhor ano da história", disse, enfatizando que 2009 está sendo um ano lucrativo.
Segundo o executivo, a GM está "preparando anúncio de investimentos, para as próximas semanas e meses, de projetos específicos" referentes aos investimentos de US$ 2,5 bilhões. Segundo ele, deste valor, já foram anunciados e aprovados US$ 1,5 bilhão, dos quais US$ 1 bilhão foram desembolsados.
Até o momento, foram investidos US$ 500 milhões na Argentina (no projeto Viva, cuja produção começa no segundo semestre) e outros US$ 500 milhões no desenvolvimento de novas plataformas para projetos futuros. Além de um novo modelo da família Viva, programado para este ano, a empresa prevê para 2010 "quatro lançamentos importantes", adiantou Ardila.
Ardila descartou que a venda da Opel, braço europeu da montadora, possa significar uma perda de transferência tecnológica para as operações locais. "A maioria dos nossos produtos vem do Brasil. É importante dizer que temos um dos mais avançados centros de tecnologia do mundo, com mais de 1,2 mil engenheiros e 300 designers que estão desenvolvendo nossos produtos", afirmou.
Historicamente, a maioria dos carros da GM que circula no Brasil é baseada em modelos europeus produzidos pela Opel e não da subsidiária americana, como é o caso, por exemplo, do Corsa. Mas Ardila lembrou que há modelos, como o Meriva, que foram projetados no Brasil e depois exportados para outros mercados. "Já não existe mais produto europeu, americano ou brasileiro e sim processo de desenvolvimento que é mundial. O Brasil tem responsabilidade global por vários modelos", disse.
Ardila ressaltou que o Brasil vendeu, nos últimos três anos, US$ 430 milhões em serviços tecnológicos (engenharia e design) para unidades de fora da GM, dos quais US$ 165 milhões foram recebidos apenas no ano passado. Ele garantiu que, neste período, a brasileira não comprou serviços tecnológicos da GM. "Não pagamos para a GM, nos últimos três anos, por tecnologia e isso não vai mudar", afirmou.
Ele destacou que, como a GM continuará com 35% da Opel, os vínculos de transferência tecnológica com esta companhia continuarão existindo. "O produto Opel vai continuar sendo desenvolvido dentro do corpo de engenheiros e designers da GM.
Empresa quer manter participação de mercado em 20%
A GM trabalha com a expectativa de manter sua participação no mercado brasileiro ao redor de 20%, afirmou o presidente das operações no Brasil e no Mercosul, Jaime Ardila. Ele procurou tranquilizar o cliente brasileiro quanto à situação da filial, dizendo que a empresa está lucrativa e não há riscos de faltarem peças, pois estas são fabricadas no País. Observou, também, que as vendas em maio mostram que a marca não foi arranhada pelas notícias envolvendo a matriz.
"O mês de maio foi ótimo para a Chevrolet, que vendeu 47,8 mil unidades, alta de 17% sobre abril. Isso nos dá um market share, excluindo caminhões, pouco acima de 20%, participação que nós temos como objetivo e vamos manter em junho", disse.
Segundo ele, o mercado nacional vai continuar forte. Ardila trabalha com a expectativa de que a indústria automobilística brasileira venda 270 mil veículos em junho, quando termina a redução do Imposto de Produtos Industrializados (IPI). Em maio, o mercado comercializou em torno de 247 mil unidades. "Nosso prognóstico tinha sido de 240 mil veículos para maio, já muito agressivo", observou.
De acordo com ele, a GM Brasil deve manter os atuais níveis de emprego. A empresa trabalha, no momento, com mais de 100% da capacidade instalada.
Para analistas, montadora tem condição de garantir posição nas vendas nacionais
Especialistas do mercado automotivo avaliam que a GM Brasil terá condições de manter seus investimentos e sua participação nas vendas. A avaliação é de que a recuperação judicial que atinge a matriz não deve trazer danos substanciais à imagem da subsidiária local.
Para o diretor de Vendas e Marketing da consultoria Jato Dynamics Brasil, Luiz Carlos Augusto, a força da imagem Chevrolet (marca adotada pela GM no mercado nacional) no País é comprovada pelo fato de, mesmo com o noticiário desfavorável ao grupo, a empresa ter mantido a terceira colocação.
"A imagem deles no Brasil é mais forte do que a quebra da matriz lá fora. A GM Brasil tem condição de andar sozinha", afirmou o analista. Segundo ele, a participação da montadora nas vendas ao final de 2008 ficou em 20,55%. No primeiro quadrimestre do ano, a fatia caiu a 18,92%, mas ainda assim a empresa preservou o terceiro lugar.
De qualquer forma, Augusto avalia que a GM não poderá se furtar a investimentos em publicidade, com vistas a blindar sua imagem, e terá de concretizar seus planos de investimento para gerar mais credibilidade entre os consumidores.
O analista do setor Automotivo da consultoria Creating Value, Corrado Capellano, está certo de que o plano de desenvolvimento de produtos vai continuar, dependendo apenas das evoluções do mercado.
Para André Beer, ex-vice-presidente-executivo da empresa no País, a GM Brasil "está muito melhor do que qualquer outra empresa fora do País".
Cristina Kirchner concederá empréstimo de US$ 50 milhões à operação argentina
A presidente Cristina Kirchner deve anunciar amanhã um crédito de US$ 50 milhões para a unidade argentina da GM. Os recursos serão utilizados na conclusão do projeto que prevê o lançamento de um novo modelo no terceiro trimestre de 2009.
O presidente da filial argentina, Edgard Lourencon, garante que as operações da montadora no país não foram alteradas. "Nenhuma das subsidiárias da GM na América Latina foi incluída no procedimento de concordata nos EUA", afirmou.
O crédito que será repassado pelo governo é da agência oficial de seguridade oficial, que administra os ativos reestatizados que estavam nas mãos dos fundos de pensão.
Lourencon disse que o crédito não significa um sinal por parte do governo Kirchner de nacionalizar a montadora. "É um crédito convencional a ser pago de forma normal, mas de nenhuma maneira pode ser entendido como a entrada do Estado na GM." O executivo justifica que a operação soma-se aos US$ 500 milhões que já foram investidos no novo modelo do chamado projeto Viva, desenvolvido na fábrica de Rosario.
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