Com o auxílio da produção de automóveis e do segmento de metalurgia básica, a produção industrial cresceu 1,1% em abril na comparação com março, dando indicações de uma retomada no nível da atividade, embora de forma mais lenta do que esperava o mercado. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), embora o resultado tenha sido positivo na evolução mensal, a comparação com abril do ano passado mostra o estrago feito pela crise internacional na atividade fabril: houve queda de 14,8%. No quadrimestre a queda foi de 14,7%, o pior quadrimestre desde o início da série, em 1991.
Houve queda em todas as categorias de uso na comparação com abril do ano passado, com destaque para Bens de Capital (-29,3%), seguido de Bens de Consumo Duráveis (-21,6%), Bens Intermediários (-15,5%) e Bens de Consumo Semi e Não Duráveis (-4,2%). Nessa base de comparação houve queda de 24,9% na produção de veículos e 27,9% na produção de metalurgia básica.
Mesmo com a alta mensal, de 1,1% em abril, o relatório Focus, do Banco Central (BC), mostra que a mediana das expectativas dos analistas do mercado financeiro para a produção industrial em 2009 ampliou a queda de 4,26% para 4,5%. Para o PIB, a estimativa piorou de -0,53% para -0,73%. "Esperávamos um desempenho em 'V' bem pronunciado. Talvez a gente passe por um 'U' com um vale não tão longo como lá fora, mas vai ser um 'U', não um 'V'", disse o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, sendo um "V" a representação de uma queda brusca seguida de uma rápida recuperação; enquanto o "U" simula a queda com um tempo maior para a retomada do crescimento.
A produção de veículos automotores cresceu 3,3% em abril, em relação a março, mês no qual a produção já havia crescido 6,8% em relação a fevereiro. O segundo principal impacto positivo na indústria geral, na comparação com o mês anterior, foi dado pela metalurgia básica, que passou de uma queda de 2% em março ante fevereiro para uma alta de 5,1% em abril ante março. Todas as categorias de uso pesquisadas pelo IBGE registraram resultados positivos na produção industrial em abril ante março: Bens de Capital (2,6%), Bens Intermediários (1,1%), Bens de Consumo Duráveis (2,7%) e Bens de Consumo Semi e Não Duráveis (0,3%).
"Estamos ainda com uma volatilidade que confirma um resultado ruim para o final do ano", afirma o economista-chefe da Ativa Corretora, Arthur Carvalho, que projeta queda de 4,8% da produção neste ano. Segundo ele, para que essa situação se revertesse seria preciso que fossem colhidas taxas de crescimento muito elevadas, o que não deve ocorrer. E isso deverá influenciar negativamente o PIB, especialmente pela ótica da oferta. Para Carvalho, o PIB deverá encerrar este ano com uma queda de 1%.
Para a economista do IBGE Isabella Nunes os dados confirmam uma recuperação gradual. Segundo ela, ao se comparar os dados de abril com dezembro do ano passado, a produção industrial cresceu 6,2%, puxado por Bens de Consumo Duráveis, cuja produção aumentou 57,8% nesse período, sob impacto dos veículos automotores, que por sua vez tiveram alta de 61,1%, concentrada nos automóveis. Segundo Isabella, os duráveis já recuperaram a perda de produção de 48,7% acumulada entre outubro e dezembro do ano passado, mas ainda estão distantes do pico de produção de 2008. De acordo com Isabella, a queda de 14,8% na produção em abril em relação a abril do ano passado foi influenciada por uma base de comparação muito elevada de 2008, agravada pelo efeito calendário, já que abril do ano passado teve um dia útil a mais do que igual mês de 2009. "Devemos lembrar que o ano passado registrou picos históricos", disse.
Atividade no Rio Grande do Sul despenca 14,6%
Prejudicada pela crise mundial, a indústria gaúcha intensificou sua trajetória de retração dos últimos meses e registrou queda de 14,6% no primeiro quadrimestre de 2009, em comparação com o mesmo período de 2008. Foi o maior recuo já registrado em 17 anos da pesquisa.
"Boa parte dos resultados negativos vividos atualmente são resíduos do pior momento da crise. Nesse cenário, as empresas exportadoras são as mais afetadas", afirmou o presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Paulo Tigre, ao divulgar o Índice de Desempenho Industrial do RS (IDI-RS), destacando que a atividade dos exportadores retrocedeu 22,6% no período.
De acordo com o industrial, a grande intensidade das perdas e a sua disseminação entre a maioria dos setores pesquisados continuam sendo as características predominantes. De 17 diferentes atividades industriais analisadas no quadrimestre, 16 apontaram queda.
As maiores perdas foram em Metalurgia Básica (-26,3%), Fumo (-25,5%), Produtos de Metal (-25,9%), Químicos (-22,4%), Máquinas e Equipamentos (-21,8%), Couros e Calçados (-8,1%) e Alimentos e Bebidas (-7,1%). Apenas a área Têxtil obteve elevação de 1,4%.
Todas as variáveis analisadas registraram retração uma expressiva no acumulado do ano. Aquelas que se referem à atividade produtiva foram as mais afetadas: faturamento (-17%), compras (-31,5%), horas trabalhadas na produção (-13,3%) e utilização da capacidade instalada (-9,7%). "O recuo das compras e da utilização da capacidade instalada indicam a continuidade do baixo nível de produção industrial e o adiamento de investimentos no início do segundo semestre", avalia o presidente da Fiergs, destacando que o faturamento de 70% das indústrias desabou.
A desaceleração na indústria gaúcha também atingiu o mercado de trabalho. Os indicadores que apontam seu comportamento mostraram quedas. A massa salarial e o emprego caíram 6,7% e 4,9%, respectivamente. Os números apontam uma redução de 32 mil pessoas a menos empregadas na indústria gaúcha no acumulado do ano. Os segmentos que mais fecharam vagas no período, de acordo com o IDI-RS, foram Fumo (-26,9%), Metalurgia Básica (11,7%), Couro e Calçados (-10,9%) e Máquinas e Equipamentos (-9,7%).
"A diminuição da massa de salários deve impactar diretamente na circulação de renda nas cidades mais industrializadas", salienta o presidente da Fiergs. Quando analisado apenas o mês de abril, a atividade industrial do Rio Grande do Sul desacelerou 15,5%, ante o mesmo período de 2008. A utilização da capacidade instalada nas fábricas no período alcançou 78,1%, uma perda de 10,8%. Em relação ao mês de março, o IDI-RS retrocedeu 1,2%.
CNI enxerga sinais de recuperação
A atividade industrial continua reprimida, mas já é possível perceber os primeiros sinais de recuperação. Essa é a avaliação de técnicos da Confederação Nacional da Indústria (CNI) no documento Notas Econômicas, divulgado ontem pela entidade. Apesar de reconhecer indicadores que mostram a expansão da produção industrial, como os dados divulgados pelo IBGE, a CNI destaca que "esses movimentos ainda são insuficientes para caracterizar o início da recuperação da atividade industrial".
Isso porque, destaca o documento, o mercado de trabalho continua em deterioração e os indicadores médios de atividade industrial (como faturamento, produção, número de horas trabalhadas, utilização da capacidade instalada e emprego) referentes ao primeiro trimestre de 2009 estão em patamares inferiores aos do quarto trimestre de 2008.
Para os técnicos da CNI, para atingir o mesmo nível de produção de 2008, ou seja registrar em 2009 um crescimento nulo frente à produção do ano passado, seria preciso que a produção industrial crescesse 13,5% no período de abril a dezembro deste ano. "A continuação da queda do emprego e do baixo nível de utilização da capacidade instalada, em um cenário de menor demanda e dificuldade de acesso ao crédito, reduzem a probabilidade de crescimento da produção industrial em 2009", destaca o documento, que confirma a estimativa da entidade de uma retração de 2,8% na produção da indústria neste ano.
A publicação destaca ainda que os impactos da crise financeira internacional na indústria brasileira foram mais intensos e disseminados do que na produção industrial de outros países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Enquanto a produção industrial brasileira recuou 18,8% em fevereiro, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, na Índia e na China as produções variaram, respectivamente,
-1,4% e 11% na mesma base de comparação.
A valorização do real frente ao dólar é um dos obstáculos para a indústria voltar à trajetória de crescimento, já que cenário semelhante nos últimos anos "solapou a competitividade de diversos segmentos industriais e reduziu nossa capacidade exportadora". A mudança no patamar dessa taxa no momento pós-crise, quando a taxa de câmbio ficou em torno de R$ 2,30 por US$ 1, vislumbrou, segundo a CNI, uma retomada de melhores condições de competitividade. No entanto, agora a relação é de R$ 2,00 para US$ 1. "Uma forte preocupação do passado, antes da crise, retorna ao horizonte", diz o documento.
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