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01/06/2009 - Cadastro positivo deve impulsionar crédito
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A experiência acumulada em 30 anos de atuação no sistema financeiro, da gestão de bancos a operações na bolsa de valores, é um valor que o administrador de empresas Mathias Renner deverá utilizar bastante ao conduzir a Associação dos Bancos do Rio Grande do Sul e o Sindicato dos Bancos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina pelos próximos dois anos. Ao assumir hoje à noite a presidência das entidades, o diretor do Banco Renner tem como uma de suas metas melhorar a imagem das instituições de crédito e já deve iniciar essa empreitada ao homenagear o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que vem a Porto Alegre para acompanhar a cerimônia. Um dos pontos que devem colaborar com essa intenção é a aprovação do cadastro positivo, prevê o executivo. Renner sucede o presidente do Banrisul, Fernando Lemos, que dirigiu nos últimos dois anos a entidade que completa 45 anos neste mês.

Jornal do Comércio - Quais suas prioridades para a gestão?
Mathias Renner - São dois tópicos prioritários. O primeiro deles é o fortalecimento do sistema financeiro gaúcho, que diminuiu nos últimos 20 anos, mesmo com a expansão do Banrisul. Em segundo lugar, queremos promover uma aproximação com a opinião pública e com os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário com o objetivo de esclarecer a operação do sistema financeiro e despolitizar essa discussão sobre juros para que as pessoas possam enxergar que existem problemas estruturais no Brasil. As reformas fiscal, trabalhista e tributária são debates mais importantes do que se o juro vai baixar 1% ou 2% ao ano. O comportamento do juro é muito importante, mas tem que estar em sintonia fina com esses problemas estruturais mais sérios.

JC - Como é estruturado o sistema bancário no Rio Grande do Sul?
Renner - Todos os grandes bancos nacionais atuam aqui no Estado e são representados pela associação. Quanto aos bancos daqui, temos algumas instituições grandes, como o Banrisul e o Sicredi, e bancos mais de nicho, que atuam em segmentos específicos de negócios e financiamentos.

JC - A crise teve algum impacto especial sobre os bancos gaúchos?
Renner - O sistema financeiro no Brasil foi muito pouco atingido pela crise. O que ocorreu foi o corte das linhas externas, e instituições que atuavam com essas operações tiveram que fazer caixa internamente para cumprir suas obrigações. Toda essa crise de liquidez, que durou de outubro até fevereiro, já passou e hoje o crédito está no auge. Os últimos dados do Banco Central, do mês de março, já representam 42% do PIB, quando em setembro esse percentual representava 38%, ou seja, houve um crescimento real do volume de financiamentos. O que ainda não é passado são as consequências dessa crise no setor produtivo, mas, aparentemente, já está se iniciando uma recuperação.

JC - Em qual segmento a atuação em crédito está mais acirrada?
Renner - O financiamento de veículos ao longo dos anos é onde houve a maior competição. Os juros baixaram drasticamente e a margem também. Para se ter uma mesma margem, temos que fazer um volume cinco vezes maior e isso tudo vem em benefício do consumidor. Basta ver os recordes de venda de veículos zero-quilômetro ano após ano, o que só foi possível porque o sistema financeiro espichou o prazo e reduziu as taxas, de forma que a prestação coubesse no orçamento das pessoas.

JC - O senhor avalia que são necessárias reformas no sistema financeiro para incrementar os negócios?
Renner - O juro está muito relacionado ao risco que os empréstimos oferecem para os bancos. Quanto mais risco, maior o juro, e o inverso também acontece. O sistema financeiro o faz para defender seu poupador, porque o banco trabalha com dinheiro de terceiros. O recurso próprio do banco representa muito pouco. O banco, quando olha muito o risco da operação, está preservando seus poupadores e é isso que o Banco Central defende. Há uma medida muito importante, o cadastro positivo, que dará condições ao sistema financeiro de analisar não só se a pessoa deixou de pagar uma conta, que daí vai para o cadastro negativo, mas sim como é toda sua vida de consumidor. Se é bom pagador, vai pagar pouco juro; se não é, vai pagar mais.

JC - Os bancos e as empresas de crédito estão estruturados e preparados para realizar essa avaliação diferenciada?
Renner - Sem dúvida. Essa base de dados é realizada por empresas especializadas e os bancos se apropriam desses dados para tomar sua decisão. É uma técnica dominada há muito tempo no exterior e no País. O sistema de crédito no Brasil funciona muito bem, só carece de informações para tomar uma decisão. Temos que nos dar conta de que o inadimplente representa pouco do total, mas o adimplente paga essa conta. Quanto mais informações houver, melhor será o crédito e os juros serão mais baixos.

JC - O senhor deve colocar essa questão ao presidente Henrique Meirelles hoje à noite?
Renner - Devemos ter uma conversa reservada com o presidente, que vem a Porto Alegre à convite da Associação para ser homenageado. O Banco Central brasileiro é uma instituição que mudou muito nos últimos anos, é muito atuante e isso é para o bem das instituições. Ele está muito afinado com a sustentabilidade do sistema financeiro, é rígido e muitas vezes os bancos reclamam, mas são eles os beneficiários.






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