Dados do Banco Central mostram que, em termos de crédito, o mercado brasileiro está dividido em dois. De um lado, caiu em 0,5% o volume de crédito para as empresas, que passou de R$ 388,1 bilhões em março, para R$ 386,3 bilhões em abril, uma retração de R$ 1,8 bilhão. A tendência se acentuou em maio, com queda de 0,8% até o dia 14. Os valores se referem aos recursos que os bancos podem aplicar livremente, sem considerar empréstimos cujo direcionamento é regulado por lei.
As empresas amargam também em abril um aumento de 0,3 ponto percentual no spread (diferença entre o custo de captação do banco e a taxa de juros cobrada dos clientes). No dado parcial deste mês, a alta continua: 0,2 ponto percentual. Mas, por causa da queda da taxa de juros básica da economia, o custo médio dos empréstimos teve uma ligeira queda de 0,1 ponto percentual, passando a 28,8% em abril.
Por outro lado, o crédito à pessoa física dá mostras de vigor: o volume de empréstimos subiu R$ 5,2 bilhões sobre março, passando de R$ 281,5 bilhões para R$ 286,7 bilhões. Na primeira metade de maio, o crescimento continuou, chegando a 1,5%.
O movimento de abril foi puxado pelo crédito consignado tomado pelos funcionários públicos, que cresceu R$ 2,7 bilhões, representando 3,8%. Para as famílias, a taxa de juros caiu 1,3 ponto, atingindo 48,8% ao ano. O spread também caiu 1,3 ponto percentual, atingindo 38,5%. A queda no custo do crédito é explicada em boa parte pelo crescimento do crédito consignado, que cobra taxas de juros mais baratas. No dado parcial de maio, a queda continua: 0,7 ponto percentual. Outra explicação para o aumento do volume de empréstimos às famílias é o crédito habitacional, que cresceu 2,6% no mês.
Graças à queda do custo dos empréstimos às pessoas físicas, o juro médio dos empréstimos ao total da economia atingiu 38,6% em abril, o menor nível desde junho de 2008. Pelo dado parcial de maio, a taxa média recuou ainda mais, para 38,3%. "Aos poucos, o mercado de crédito está voltando ao que era antes da crise", disse o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes.
O total de crédito no sistema financeiro (incluindo recursos livres e regulados) chegou a R$ 1,248 trilhão em abril, ou 42,6% do Produto Interno Bruto (PIB), um crescimento de 0,4% em comparação com março. "O crédito continuou crescendo, principalmente nas pessoas físicas", comentou Lopes.
Os números do BC mostram ainda que, com a crise, a participação dos bancos oficiais no total de empréstimos cresceu. Eles, que respondiam por 34% do crédito em abril de 2008, passaram para 38% em abril passado. Em contrapartida, a participação dos bancos privados nacionais recuou de 44% para 42% e a fatia das instituições privadas estrangeiras caiu de 22% para 20%, no mesmo período de comparação.
Estoque do sistema financeiro registra elevação de 0,4% em relação a março
O estoque de crédito do Sistema Financeiro Nacional cresceu 0,4% em abril em relação a março. Em valores nominais, o estoque total de recursos livres e direcionados passou de R$ 1,243 trilhão para R$ 1,248 trilhão. O Banco Central divide o crédito em livre e direcionado: o direcionado tem aplicação definida como no caso dos recursos para habitação e financiamento específico a empresas; o livre é liberado sem um programa específico para pessoas físicas ou jurídicas.
A média diária de concessões de novas operações cresceu 1,2% em abril em relação a março, para R$ 7,164 bilhões. Esse aumento foi liderado pelas operações destinadas a pessoas físicas, cuja média diária cresceu 7,6% no período para R$ 2,679 bilhões.
Entre as várias operações desse segmento, chama a atenção o aumento das concessões do crédito pessoal, de 22% no mês passado ante mês anterior para R$ 622 milhões. No cartão de crédito, houve expansão de 9,1% para R$ 617 milhões. No cheque especial, a expansão foi de 2,8% para R$ 1,028 bilhão.
Já as operações voltadas a empresas mostraram queda da média diária de concessões de 2,3% para R$ 4,485 bilhões. Entre as modalidades desse segmento, a média de novos empréstimos para capital de giro caiu 12,9% para R$ 865 milhões. Nos empréstimos para aquisição de bens, a trajetória foi contrária, com expansão de 8,3% para R$ 136 milhões.
Segundo o BC, o crescimento do crédito consignado revela uma melhora na confiança dos consumidores, expressa em maior disposição das famílias em tomar empréstimos.
Altamir Lopes, do BC, afirmou que a tendência do crédito é de continuação da trajetória de recuperação. Segundo ele, esse movimento deve continuar mais forte na pessoa física, que já experimenta um retorno das linhas de crédito com queda na inadimplência.
"A inadimplência da pessoa física tende a cair com a maior facilidade para rolagem do crédito", disse Altamir, que explicou que o maior consumo, viabilizado pelo crédito, deve ajudar na recuperação da economia.
Na visão de Altamir, o crédito para empresas deve crescer, mas em um ritmo mais lento. Segundo ele, a inadimplência em alta tem feito as instituições serem mais conservadoras.
Operações com atraso superior a 90 dias atingem 5,2%
A dificuldade das empresas em honrar seus empréstimos explica-se porque o custo do crédito corporativo está em trajetória de alta, enquanto para as pessoas físicas a tendência é de queda.
Em abril, a quantidade de operações com atraso superior a 90 dias atingiu 5,2%, o nível mais elevado desde outubro de 2000. Esse desempenho foi provocado pelas empresas, cuja inadimplência aumentou de 2,6%, em março, para 2,9% em abril, enquanto entre as pessoas físicas caiu de 8,4% para 8,2% no mesmo período.
Altamir Lopes minimizou a queda de 0,5% do volume de empréstimos às empresas, atribuindo o movimento a um efeito do câmbio. Ele explicou que parte do crédito é em dólares, convertidos em reais. Como a moeda norte-americana caiu 5,9% no mês de abril, o volume dos empréstimos, expresso em reais, caiu também. Se o dólar não tivesse se desvalorizado, o crédito às pessoas jurídicas teria subido 0,1% em abril.
Porém, há segmentos da economia que de fato estão tomando menos crédito porque postergaram investimentos. Dados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes) mostram que a quantidade de empréstimos contratados pelas indústrias caiu 11,8% no primeiro quadrimestre, com quedas concentradas nas montadoras e na indústria de alimentos. "São empréstimos ligados a investimentos, e houve uma queda pronunciada nos primeiros meses do ano", disse Lopes.
O montante a ser desembolsado pela instituição até o fim do ano, porém, deverá ser próximo a R$ 100 bilhões. A informação foi dada terça-feira pelo presidente do banco, Luciano Coutinho, em reunião na Câmara dos Deputados. "As aprovações (de operações de crédito) tinham caído um pouco e isso me causou um pouco de preocupação, mas agora começaram a crescer. Os enquadramentos começaram a crescer fortemente", disse, referindo-se a uma etapa antes da concessão do empréstimo. Nos 12 meses até abril, as liberações somam R$ 93 bilhões.
Bancos elevam para até 80 meses o prazo para financiar veículos
O Bradesco ampliou de 60 para 80 meses o prazo máximo de financiamento de veículos zero-quilômetro. A alteração segue movimento já registrado em outras instituições financeiras de grande porte. Nas duas últimas semanas, o Santander e Itaú Unibanco anunciaram que o número máximo de prestações mensais passou de 60 para 72 meses. "O momento atual nos dá conforto para trabalhar com esses prazos", afirmou o diretor- executivo do Bradesco, Ademir Cossiello. A instituição pede uma entrada mínima de 20%.
Outra alteração diz respeito às taxas de juros. Correntistas do Bradesco pagarão a taxa mínima de 1,2% ao mês, ante 1,52% ao mês praticada anteriormente. Para os demais clientes, como aqueles que irão financiar o veículo em concessionárias parceiras da financeira Finasa, a taxa poderá ser outra.
De acordo com Cossiello, a ampliação dos prazos foi possível porque há indicações de que a taxa de desemprego deixará de crescer e, com isso, a inadimplência tende a ser mais controlável. "A inadimplência está ligada ao nível de emprego e renda e à atividade econômica. O Brasil já apresenta sinais de retomada", afirmou.
As novas condições, segundo o executivo, farão com que a prestação fique até 18% mais barata, o que possibilitará que mais pessoas acessem esse crédito. Com isso, o Bradesco acredita que a carteira de veículos irá crescer 5% ao mês, ante os 3% mensais registrados até agora este ano.
Segundo Cossiello, aos poucos, a redução de juros e menor percepção de risco começam a ser repassadas para todas as linhas de financiamento do Bradesco. "Toda cadeia produtiva está sendo atendida." Para ele, os empresários estão mais otimistas e retomam planos.
O Grupo Santander Brasil já havia anunciado no dia 22 passado a extensão do prazo de financiamento de veículos zero- quilômetro para até 72 meses, por meio da Aymoré Financiamentos. "O cenário talvez ainda inspire cuidados, mas temos sinais positivos que nos permitem alongar os prazos. Isso será bom para a economia, pois facilita o acesso da população ao crédito e aos bens de consumo, uma vez que reduz o valor das parcelas e contribui para o planejamento financeiro das famílias", afirma Fabio Barbosa, presidente do Grupo Santander Brasil.
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