O governo venezuelano deveria entrar com 40% dos recursos para a construção da refinaria, mas até agora só o governo brasileiro investiu na obra. Isto porque a Venezuela tem feito exigências, como o direito de comercialização do petróleo importado no Brasil.
Mas as regras brasileiras determinam que só quem pode vender internamente é a Petrobras. Pelo sistema de som foi possível identificar a decepção de Hugo Chávez. Ele lamentou que os dois países não tenham sido capazes de fazer um acordo. De concreto, até agora, a única informação é que ficou adiado por mais 90 dias um possível acordo. Os dois presidentes estavam reunidos junto com ministros e assessores quando o som do sistema de tradução simultânea chegou até a área onde estavam os jornalistas. Pouco depois, o som foi corrigido. Chávez demonstrou irritação: "Confesso que tenho frustração. A conta é de anos. É lamentável. Não fomos capazes de fechar o acordo".
Entre os empecilhos para a construção da refinaria estão o preço do petróleo, o custo do investimento e a comercialização do óleo. Chávez afirmou que não pode conceder nenhum privilégio à Petrobras. "Não podemos conceder à Petrobras um preço diferenciado. O preço tem que ser de mercado. No mundo inteiro funciona assim. Funciona assim em Cuba, nos Estados Unidos e na Rússia."
A CPI da Petrobras, aberta no Senado, pretende investigar possíveis irregularidades da estatal nas licitações da refinaria Abreu Lima, na distribuição de royalties e na contabilidade tributária, para deixar de pagar R$ 4,3 bilhões em impostos. A oposição também quer investigar os patrocínios da estatal e os repasses de verbas da Petrobras a ONGs.
Também ontem a Caixa Econômica Federal (CEF) confirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a direção do banco está em negociação com o governo da Venuzuela para realizar uma parceria com o país para oferecer assessoria no setor bancário. Mas, segundo a direção do banco, o que existe por enquanto são apenas tratativas, sem que nenhum acordo tenha sido fechado. Chávez afirmou que contará com a assessoria da Caixa para a construção de uma rede bancária pública e na criação de um sistema de financiamento de casas populares na Venezuela.
Indústria argentina pedirá ao Mercosul que vete Venezuela
A cúpula da União Industrial Argentina (UIA), similar à brasileira Confederação Nacional da Indústria (CNI), se reuniu ontem em sua sede em Buenos Aires para discutir a decisão do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, de nacionalizar três siderúrgicas da multinacional argentina Techint - a Tubos e Aços da Venezuela (Tavsa); Materiais Siderúrgicos (Matesi) e o Complexo Siderúrgico Guayana (Comsigua). Ao final da reunião, a entidade emitiu um comunicado pedindo aos governos dos países do Mercosul que não aceitem a adesão da Venezuela como sócia. "Chávez atenta contra tudo que o Mercosul tem levado anos para construir: segurança jurídica para investimentos e relação de confiança entre os sócios", afirmou a fonte da UIA.
A reunião de todos os delegados da UIA estava prevista somente para o final do próximo mês, mas foi antecipada diante do anúncio de Chávez, feito na sexta-feira passada. Do encontro, participaram empresários importantes da Argentina e que se solidarizaram com o presidente do Grupo Techint, Paolo Rocca. Em 2008, Chávez desapropriou a principal operação do Techint, a siderúrgica Sidor. O acordo para a indenização da Sidor foi fechado somente neste mês, com a Venezuela pagando US$ 1,97 bilhão por 59,7% das ações.
|