Depois das máquinas e implementos agrícolas, do setor de leite e da fruticultura, chegou a vez dos equipamentos para avicultura serem incluídos no Mais Alimentos, programa do governo federal voltado aos pequenos produtores. O anúncio foi feito ontem na Fiergs, durante o 21º Congresso Brasileiro de Avicultura e prevê o repasse de R$ 100 mil por produtor, com juros de 3% ao ano, três anos de carência e 12 anos para pagamento. "Veio em boa hora, já que a crise provocou perdas importantes para os produtores, que precisam investir, mas estão descapitalizados", afirmou Ariel Mendes, presidente da União Brasileira de Avicultura (UBA).
O governo não divulgou o valor, mas reforçou que haverá recursos suficientes para todo o País. Mendes salientou que a intenção de investimentos por parte dos produtores se mantém, mesmo com a crise, qualificada por ele como "passageira". "Já conseguimos voltar aos patamares de 300 mil toneladas por mês, sinal de que a turbulência está perdendo força." Depois de amargar uma retração nas exportações entre outubro do ano passado e fevereiro deste ano, a avicultura começa a se recuperar e já projeta um crescimento de 5% nos embarques da carne em 2009. O percentual, apesar de bem inferior aos 10% em média registrados em anos anteriores, é considerado uma vitória para os produtores em meio à crise mundial. "Entre março e abril, já registramos um crescimento, mas ainda é preciso analisar o mercado com cautela", diz o presidente da UBA. Entre fevereiro e abril, a receita com as exportações cresceu R$ 105 milhões, alcançando R$ 479,4 milhões no quarto mês do ano.
Apesar do aumento, os produtores evitam fazer projeções em receita para 2009. "O comportamento do dólar é uma incógnita", avalia o presidente da Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frangos (Abef), Francisco Turra. A aposta de crescimento de 5% vem alicerçada na recente abertura do mercado chinês para 24 frigoríficos brasileiros e a entrada na Índia e nos países africanos. Para o dirigente, o bom status sanitário brasileiro, somado à qualidade do frango e aos preços competitivos em relação ao maior produtor do mundo, os EUA, garante a conquista de mais espaço. "O consumo de frango também vem crescendo em função da crise, já que os países compradores estão substituindo parte das carnes de gado e suíno por proteína mais barata", afirma Turra.
Outro indicativo de melhora nas exportações, segundo Turra, é a união de Sadia e Perdigão formando a Brasil Foods. Para o dirigente, a fusão será benéfica para fortalecer o País nos mercados externos. "Pior que a formação de uma gigante do setor seria a quebra de uma delas", afirma. Para se ajustar ao período agudo da crise, as entidades orientaram os produtores a reduzir o processamento de frango em 20%
O recuo chegou a 15%, mas não conseguiu impedir que os valores pagos por quilo diminuíssem de US$ 1,80 pré-crise até chegar a US$ 1,20. "Devemos chegar a US$ 1,50 neste ano", estima Turra. O País também pretende ampliar as exportações de ovos. Os produtores estão empenhados em abrir o mercado da União Europeia, com a entrada de ovos processados - líquidos e em pó. Para isso, está sendo desenvolvido um programa de rastreamento para o produto, nos moldes do Sisbov.
Perda de competitividade do setor preocupa empresários
Os principais gargalos do setor avícola nacional estiveram entre os destaques das discussões realizadas durante o primeiro dia do 21º Congresso Brasileiro de Avicultura. A preocupação com a perda da competitividade, em função dos efeitos da crise, aumento dos custos de produção e falta de incentivos do governo foi enfatizada pelo empresário da Zanchetta Alimentos, José Carlos Zancheta. Ele aproveitou para elencar as principais demandas do setor, como uma maior agilidade na liberação de crédito por parte do governo, juros compatíveis com o setor e taxas de câmbio menos voláteis. O medo de que se repita neste ano a situação de falta de milho, verificada em 2008, quando os preços chegaram a patamares muito elevados, também foi destacado pelo empresário. "É preciso que a avicultura seja atendida de forma prioritária, mesmo que isso signifique diminuir as exportações." A questão das barreiras sanitárias e cambiais também foi ressaltada assim como a necessidade de abertura de novos mercados. "Não adianta nada acessarmos novos mercados se esbarramos nesses bloqueios."
O representante do Ministério da Agricultura, Sílvio Farnese, tranquilizou os produtores e empresários quanto à questão do desabastecimento de milho, destacando que não há risco de que isso venha a ocorrer. "Hoje estamos com uma situação confortável em relação aos estoques, ainda mais frente à intenção do setor de reduzir a produção de frangos para burlar a crise", disse Farnese. O especialista destacou ainda a possibilidade de aumento de produção no País, com a introdução de milho geneticamente modificado, o que pode fazer com que até 2017, 60% da área cultivada no Brasil sejam com cereal transgênico. "É possível aumentar em até 14% a produtividade e incrementar em 36% a receita dos produtores", adiantou.
Sobre o abastecimento, o presidente da Abramilho, Odacir Klein, lembrou que é preciso que seja assegurado o plantio de milho por meio de incentivos do governo federal, para que os produtores não optem por substituir o cereal por outra cultura.
Conab leiloa contratos para compra de 132 mil toneladas de arroz
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) leiloará hoje 4.888 contratos de opção para 132 mil toneladas de arroz de cooperativas e produtores do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Adquirindo os contratos, os rizicultores garantem, antecipadamente, a venda do produto, a ser entregue no dia 1 de outubro. Grande parte dos contratos, 4.444, será destinada a produtores gaúchos, enquanto o restante, 444, vai para Santa Catarina. O governo lança contratos de opção de venda para garantir a sustentação dos preços pagos ao produtor. No momento de vencimento do contrato, os orizicultores têm a opção de entregar a produção à Conab ou negociar no mercado, caso os preços estejam melhores.
De acordo com a Conab, cada contrato prevê a venda de 27 toneladas de arroz por R$ 16.389,00, o que representa um valor de R$ 30,35 por saca de 50 quilos. O prêmio de abertura a ser pago pelo produtor é de 0,5%, podendo aumentar dependendo da procura pelos contratos. Segundo o superintendente da Conab no Rio Grande do Sul, Carlos Farias, a tendência é de que os produtores continuem procurando pelos contratos. A expectativa é de que os produtores mantenham o interesse nos leilões, já que o mercado vem praticando preços inferiores aos estabelecidos pelos contratos. O produtor interessado em comprar os papéis devem procurar uma das 25 bolsas de mercadorias habilitadas pela Conab e autorizar um corretor a fazer a operação em seu nome. A lista com as instituições autorizadas está na página oficial da estatal na internet. Neste ano o governo já negociou 9.164 contratos, totalizando 247,43 mil toneladas de arroz que abastecerão os estoques públicos caso os rizicultores resolvam exercer seu direito de venda ao governo.
Representantes dos produtores gaúchos se reunirão hoje com o presidente da Conab, Wagner Rossi, o diretor de Agronegócios do Banco do Brasil, José Carlos Vaz, e o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, em encontros separados, para discutir os mecanismos de comercialização da safra 2009 e possíveis apoios governamentais para amenizar os prejuízos que, segundo eles, teriam sido causados pela queda nos preços do cereal. Segundo o deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS), representante do setor na Câmara dos Deputados, o governo precisa reavaliar a importação de arroz de países vizinhos e abrir novos mercados para o produto nacional.
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