Em março, o índice era de 9% e, em abril do ano passado, 8,5%. "O mercado de trabalho parou", disse o gerente da pesquisa mensal de emprego, Cimar Azeredo. "Está dando conta de manter postos, formalidade e poder de compra, mas não está evoluindo."
E, segundo ele, o setor industrial foi o principal responsável pelo fato de o mercado de trabalho "não ter evoluído". A indústria cortou 105 mil vagas em relação a igual mês do ano passado, com queda de 3% na ocupação industrial no período, no maior recuo na comparação anual para o setor desde 2002. Na comparação com março deste ano, a indústria registrou queda de 0,2% no número de ocupados em abril, com corte de 7 mil vagas de um mês para o outro.
Mesmo assim, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, avalia que a pequena queda de março para abril mostra um "caminho natural" para fazer com que o nível de desemprego feche o ano entre 8% e 8,5%. "O Brasil gerará 1 milhão de empregos este ano e a economia surpreenderá a todos", afirmou. "Estou ousando ao afirmar essas teses."
O resultado veio abaixo das estimativas de economistas, que apostavam num índice de 9% a 9,5%. Mas não há motivo para comemoração, na opinião do economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa. Para ele, o índice teve ligação com o desestímulo das pessoas sem ocupação para a procura de uma colocação, num momento em que o noticiário econômico ainda não é dos mais otimistas em tempos de crise financeira.
"Eu considero que este resultado leva em conta um aumento no desalento do trabalhador na busca pelo emprego. Isso faz com que a quantidade de pessoas procurando vagas seja reduzida no momento da pesquisa", disse o economista, que espera uma taxa média de 9,3% em 2009. "Mas isso não significa necessariamente uma melhora no mercado de trabalho. O trabalhador simplesmente não consegue encontrar emprego e deixa de procurá-lo no momento em que as condições estão mais difíceis."
O número de ocupados nas seis principais regiões metropolitanas do País somou 20,91 milhões em abril, com queda de 0,2% ante março e aumento de 0,2% ante abril de 2008. Ambas as variações são consideradas como "estabilidade" pelo IBGE. O número de desocupados (sem trabalho e procurando emprego) totalizou 2,046 milhões, com queda de 1,7% ante março e aumento de 5% na comparação com abril do ano passado. Em abril de 2008, a taxa de desemprego foi de 8,5% e em abril de 2009, subiu para 8,9%, a maior taxa para o mês de abril desde 2007.
O emprego formal voltou a crescer em abril. O número de empregados com carteira assinada aumentou 0,9% em relação a março e subiu 2% na comparação com abril de 2008. Por outro lado, o número de empregados sem carteira recuou 0,7% na comparação com o mês anterior e caiu 3,7% ante igual mês do ano passado. Houve queda também, nas duas comparações, no número de trabalhadores por conta própria (camelôs, profissionais liberais), de 1,5% ante março e de 0,5% ante abril do ano passado.
Taxa de desemprego, em %
Janeiro/08 - 8,0
Fevereiro - 8,7
Março - 8,6
Abril - 8,5
Maio - 7,9
Junho - 7,9
Julho - 8,1
Agosto - 7,6
Setembro - 7,7
Outubro - 7,5
Novembro - 7,6
Dezembro - 6,8
Janeiro/09 - 8,2
Fevereiro - 8,5
Março - 9,0
Abril - 8,9
Taxa média no primeiro quadrimestre de cada ano, em %
2003 - 11,9
2004 - 12,4
2005 - 10,7
2006 - 10,1
2007 - 9,9
2008 - 8,5
2009 - 8,7
Rendimento médio no primeiro quadrimestre de cada ano, em R$
2003 - 1.257,00
2004 - 1.122,00
2005 - 1.133,00
2006 - 1.166,00
2007 - 1.221,00
2008 - 1.249,00
2009 - 1.304,00
Diminuição do rendimento dos trabalhadores preocupa especialistas
O rendimento dos trabalhadores e a massa salarial mostraram desaceleração em abril e os efeitos da perda de ritmo no consumo interno preocupam analistas. Na média das seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, a renda ficou em R$ 1.318,40, com alta de 3,2% ante igual mês do ano passado, mas queda de 0,7% ante março, o terceiro recuo consecutivo ante mês anterior.
Para José Márcio Camargo, da PUC-RJ, os dados da renda estão piorando muito rapidamente, o que confirma um mercado de trabalho "fraco" e com possíveis efeitos negativos para o mercado interno nos próximos meses. Segundo ele, a massa salarial (soma dos ocupados e do rendimento total) desacelerou de uma alta de 5,9% em 12 meses até março para 3,4% em abril.
Para Ariadne Vitoriano, da Tendências Consultoria, os dados em 12 meses da massa salarial "representam um bom enfraquecimento da taxa de crescimento em relação ao mês anterior". Segundo ela, "a desaceleração da massa de renda, que deve ser uma tendência para o ano, deve gerar uma pressão de baixa em consumo nos próximos meses".
O argumento de Ariadne é que "com o ritmo mais fraco da atividade doméstica, os reajustes salariais deste ano devem ser menores dos que os concedidos no ano passado, quando a economia estava aquecida". A expectativa da Tendências é que o aumento da massa em 12 meses desacelere progressivamente e feche o ano com uma variação de 2,5%.
Segundo o IBGE, na comparação com igual mês de ano anterior, havia sido registrado aumento de 5% na renda média real em março, 4,6% em fevereiro e 5,9% em janeiro. O gerente da pesquisa mensal de emprego, Cimar Azeredo, disse que apesar da perda de ritmo a renda continua subindo porque prossegue o aumento do trabalho formal, a inflação continua sob controle e houve reajuste do salário mínimo.
A queda de 0,7% na renda em abril, ante março, segundo ele, refletiu o aumento, nessa comparação, no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) médio nas seis regiões pesquisadas, usado como deflator para o cálculo da renda real.
Mais 216,5 mil são beneficiados com ampliação do seguro-desemprego
O Ministério do Trabalho quer triplicar a quantidade de beneficiados que receberão parcelas extras de seguro-desemprego ao terem perdido seus empregos na virada do ano por conta da crise financeira internacional. Normalmente, o trabalhador recebe de três a cinco meses de pagamento do seguro, mas com a medida, ele passa a receber de cinco a sete parcelas.
Na primeira fase deste programa, anunciada em março, foram beneficiados 103.707 trabalhadores, que saíram do mercado no mês de dezembro. Agora, no total, serão 320.207 trabalhadores que receberão o alongamento do recebimento dos recursos, já que nesta quinta-feira o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, informou a inclusão do benefício para 216,5 mil novos desempregados.
Para os novos beneficiados será criada uma fatia de 73.360 seguros para os que perderam o emprego em janeiro e aumentado em 143.140 o número de empregados dispensados em dezembro - até então eram 103.707 trabalhadores. O valor estimado pelo ministério para o pagamento das parcelas adicionais anunciadas é de R$ 263,762 milhões. A medida será encaminhada para aprovação pelo Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat) e a expectativa é de aprovação já na semana que vem.
Apesar do aumento do benefício, o ministro informou que dificilmente haverá nova prorrogação do pagamento de parcelas extras. Isso porque, segundo ele, os dados do mercado de trabalho medidos pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do próprio Ministério do Trabalho já estão positivos desde fevereiro. "Em fevereiro, o resultado já foi positivo e continuará positivo até o final do ano. Esta será, portanto, a última etapa da concessão extra do seguro-desemprego."
Os trabalhadores demitidos pelo segmento de Alimentação e Bebidas em dezembro do ano passado ou em janeiro deste ano serão os mais beneficiados pela prorrogação da ampliação do pagamento do seguro-desemprego.
Foram indicados nesta quinta-feira para receber as parcelas extras do benefício mais 216,5 mil trabalhadores que perderam o emprego em 22 setores, dos quais quase 45,3 mil são da área de alimentos.
Em março, o governo contava com a ampliação do pagamento para apenas 103,707 mil profissionais.
No comércio varejista - segundo segmento mais beneficiado pela lista apresentada pelo ministério -, contarão com as parcelas extras 38,3 mil trabalhadores que prestavam serviços em dezembro ou janeiro, quando foram desligados. Desses, 3,3 mil atuavam em Pernambuco; 12,2 mil, no Rio de Janeiro; 16,3 mil, em Minas Gerais, e 2,5 mil, no Distrito Federal.
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