indústria esboçou em março sinais de recuperação ao elevar em 0,7% a produção na comparação com fevereiro, tendo a contribuição dos segmentos de bens intermediários (0,3%), bens de consumo duráveis (1,7%) e bens de consumo semi e não duráveis (0,8%). A produção de bens de capital foi a única a cair na evolução mensal: 6,3%.
Mesmo assim, o ritmo industrial no primeiro trimestre do ano mostrou uma queda de 14,7% em relação ao mesmo período de 2008. Essa queda, que ainda reflete a drástica mudança provocada pela crise financeira internacional em setembro, foi a maior desde o primeiro trimestre de 1991.
Segundo o coordenador de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Silvio Sales, a queda acumulada do último trimestre de 2008 até os primeiros três meses de 2009 é de 16,7% e representa a mais elevada perda no acumulado de dois trimestres desde o governo Collor, no segundo trimestre de 1990.
"A gente já esperava isso", afirmou o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ele, no entanto, avaliou que o resultado do primeiro trimestre não capta o que vem ocorrendo desde março. "A partir de março e abril, a economia está se recuperando. Nós já voltamos a aquecer e a acelerar. Já estamos em crescimento", disse. Para Mantega, os números divulgados ontem olham para o passado. "Mas, para o presente, a situação está melhorando nitidamente."
Para mostrar essa melhora, aliás, Sales ressaltou a evolução do índice de média móvel trimestral da produção, que sinaliza tendências. Esse índice reverteu a trajetória de cinco meses de queda e registrou alta de 1,6% no trimestre encerrado em março, ante o intervalo terminado em fevereiro. Nos cinco meses de queda, o índice acumulava uma perda de 18%.
Sales também afirmou que há um processo "inequívoco" de reação da indústria, confirmado nos indicadores de março. Segundo ele, a magnitude da queda da produção em março em relação a igual mês do ano passado (-10%) foi bem inferior às quedas, nessa comparação, observadas em fevereiro (-16,8%), janeiro (-17,5%) e dezembro (-14,7%).
Segundo ele, o resultado de março foi favorecido pelo efeito calendário - já que março de 2009 teve dois dias úteis a mais do que igual mês do ano passado -, mas não exclusivamente. "Outros indicadores, inclusive o resultado com ajuste sazonal (ante mês anterior), mostram que é inequívoco um movimento de reação na indústria, suave mas contínuo", afirmou.
O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, também buscou ver o lado positivo dos números. Ele reconhece que o desempenho no trimestre foi ruim, mas foi otimista na avaliação. "Por outro lado, tem um lado bom de estar crescendo há três meses consecutivos", afirmou. Para Bernardo, a economia brasileira, após o tombo do final do ano, já está dando sinais claros de recuperação. "Nós estamos animados que isso vai continuar em um ritmo mais acelerado", afirmou.
Em relatório distribuído a seus clientes ontem, a equipe de analistas da Gradual Investimentos afirma ter recebido os resultados da produção industrial de março como números decepcionantes. No documento, a equipe comandada por Pedro Paulo Silveira escreve que "quem imaginava que a recuperação econômica no Brasil seria questão de tempo terá que refazer as contas e, infelizmente, adicionar um pouco mais de calma no andar da carruagem".
Variações
Na comparação mês contra mês anterior* (em %)
jan/08 1,6
fev -0,5
mar 0,6
abr 0,1
mai -1,0
jun 3,0
jul 1,2
ago -1,4
set 1,4
out -1,4
nov -7,1
dez -12,7
jan/09 2,1
fev 1,9
mar 0,7
Mês contra mesmo mês do ano anterior, desde o estouro da crise (em %)
set/08 9,7
out 1,1
nov -6,4
dez -14,7
jan/09 -17,5
fev -16,8
mar -10,0
*Fonte: IBGE
No Estado, o desempenho negativo foi recorde
A atividade da indústria gaúcha caiu 14,2% no primeiro trimestre de 2009, em comparação com o mesmo período do ano passado. Foi o maior recuo desde 1992, quando se iniciou a série histórica do Índice de Desempenho Industrial do RS (IDI-RS). "A forma como a crise internacional se manifesta na economia brasileira faz, da indústria, o setor mais atingido. E as particularidades dela no Estado acabam por nos dar uma tonalidade diferente", afirmou o presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Paulo Tigre.
De acordo com Tigre, a grande intensidade das perdas e a sua disseminação entre a maioria dos setores pesquisados continuam sendo as características predominantes. Todas as variáveis analisadas registraram quedas expressivas no acumulado do ano. Aquelas que se referem à atividade produtiva foram as mais afetadas: faturamento (-16,4%) e compras (-33,1%). A primeira reflete, principalmente, as dificuldades com as exportações, ao passo que a segunda deixa antever que o setor deve continuar enfrentando problemas. A utilização da capacidade instalada desacelerou 9,3%, registrando uma taxa de ociosidade de 22,2% nas linhas de produção, a mais acentuada desde 1993.
As horas trabalhadas, a massa salarial e o emprego caíram 12,2%, 5,7% e 3,8%, respectivamente. Os segmentos que mais reduziram vagas no período foram Fumo (-32,5%), Couro e Calçados (-9,4%), Máquinas e Equipamentos (-7,8%), Borracha e Plástico (-6%) e Móveis (-3,2%).
De 17 atividades industriais analisados no trimestre, 15 apontaram queda. Os maiores recuos foram em Químicos (-28,6%), Metalurgia Básica (-26,5%), Produtos de Metal (-26%) e Máquinas e Equipamentos (-18,9%). Apenas Têxtil e Vestuário obtiveram elevação de 2,5% e 0,7%, respectivamente.
Mercado interno é a base da reação no País
Os segmentos industriais impulsionados pelo mercado interno, sobretudo veículos automotores (automóveis, autopeças, caminhões), estão liderando o processo de reação da indústria. A afirmação é do coordenador de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Silvio Sales. "Os bens duráveis, liderados pelos automóveis, estão reagindo ao movimento de queda abrupta do final do ano passado, mas ainda longe de chegar aos patamares mais elevados de 2008", disse.
A produção de veículos automotores aumentou 56,5% em março em relação a dezembro de 2008, mês no qual foi determinada a redução do Impostos sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis, prorrogada a partir de abril por mais três meses. "Os segmentos que estão reagindo mais estão mais vinculados ao mercado interno, com automóveis, que foram desonerados e a indústria de alimentos, que se beneficia do aumento da massa de rendimentos e a inflação controlada", disse.
Segundo ele, "a indústria vem reagindo mês a mês desde o início do ano, mas o movimento tem sido ainda muito moderado". De acordo com Sales, a recuperação dos automotores é importante porque "gera encadeamento com outros setores, se essa recuperação dos duráveis se consolidar, em algum momento vai bater nos intermediários".
A produção industrial de bens de consumo semi e não duráveis foi a única, entre as quatro categorias pesquisadas pelo IBGE, a registrar expansão em março (2,9%) na comparação com março do ano passado. Sales disse que os semi e não duráveis também estão sendo favorecidos por um mercado interno ainda aquecido devido a uma expansão da renda média que vem sendo mantida.
Setor de bens de capital deve demorar a se recuperar, avalia IBGE
A indústria de bens de capital foi a última categoria industrial a entrar na crise, mas também será a ultima a sair, segundo avalia o coordenador de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Silvio Sales. Ele explicou que, no início das turbulências, encomendas efetuadas anteriormente evitaram uma derrocada imediata dos bens de capital, mas, com o aumento da desconfiança e a deterioração do cenário econômico, os investimentos foram adiados.
"As decisões sobre aquisições de máquinas e equipamentos precisam de um cenário positivo, mais claro, possivelmente os investimentos vão sendo adiados até que o cenário fique mais claro para tomada de decisões", disse. Na comparação com março de 2008, houve queda em bens de capital para indústria (-29,8%), para agricultura (-32,4%), para transporte (-3,1%), para energia (-51,8%), para construção (-68,9%) e para uso misto (-24,1%, inclui computadores).
CNI defende desonerações para as exportações e os investimentos
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, disse ontem, em audiência pública da Comissão Especial da Câmara dos Deputados, que o processo de "queda livre" ao qual o País está submetido em decorrência da crise financeira internacional já foi interrompido e que há sinais tênues de recuperação da economia brasileira. De acordo com Monteiro, o País ainda erra ao onerar as exportações e tributar os investimentos. "É pouco racional tributar um investimento que sequer produziu ainda. Isso nos coloca em uma situação de grande desvantagem na comparação com nossos concorrentes no exterior", avaliou o presidente da CNI.
Ele criticou o fato de o Brasil ser um dos poucos países que ainda não desonerou as exportações e não reduziu a carga tributária incidente sobre investimentos. "Com isso, há uma forte queda na taxa de investimento no País, de 9,5%, visto que antes crescíamos num índice próximo ao dobro do crescimento do PIB", completou.
O presidente da entidade defendeu ainda que o Brasil tenha uma agência destinada a fiscalizar e regulamentar o sistema financeiro. "O País não pode prescindir de uma entidade voltada a acompanhar o sistema financeiro e estabelecer mecanismos de controle sobre essas instituições", afirmou Monteiro.
Monteiro prevê recessão técnica
Na audiência pública da comissão especial da crise mundial no setor industrial, o presidente da CNI, Armando Monteiro Neto, ressaltou que a confederação trabalha com a possibilidade de o País entrar em uma recessão técnica neste ano, com uma taxa de crescimento de 0%. Monteiro relatou que até o momento a crise foi sentida de duas formas no País. A primeira foi a escassez de créditos, com uma retração que teve forte repercussão na atividade industrial. A segunda foi no movimento do comércio externo.
Segundo o empresário, mesmo o Brasil sendo ainda um país fechado em termos de trocas internacionais, alguns setores da indústria estavam fortemente voltados para as exportações quando estourou a crise.
De acordo com o presidente da CNI, entre setembro de 2008 e fevereiro deste ano, houve uma queda no faturamento industrial de 10,8%, mas algumas áreas sentiram muito mais, como a metalurgia, que teve uma queda de 41,4%; o setor de máquinas e equipamentos, que caiu 29%; e a produção de borracha e plástico, cujo faturamento encolheu 23,8%.
Monteiro apontou uma queda de 32,1% das exportações brasileiras entre setembro de 2008 e fevereiro de 2009. Segundo ele, o País deixou de exportar sobretudo máquinas e equipamentos, veículos automotores e produtos da área de papel e celulose.
No Senado, presidente da Fiergs afirma que a crise é uma lição
Diminuir impostos sobre produtos, zerar a tributação das exportações e desonerar os investimentos. Estes foram os principais pontos defendidos pelo presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Paulo Tigre, em audiência pública no Senado. A importância da implementação destas questões para o fortalecimento econômico e social do Brasil, segundo o industrial, vem sendo verificada com a chegada da crise. "As medidas adotadas para amenizar os efeitos da tempestade internacional são algumas daquelas que, há muito tempo, o empresariado defende", disse, referindo-se ao recente corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de veículos, eletroeletrônicos e material de construção. "Se essa e outras lições forem assimiladas, certamente a economia brasileira ficará melhor e irá superar este momento de dificuldades. Podemos afirmar que a crise trouxe para o Brasil uma grande lição de competitividade."
Para Tigre, com a turbulência global forçando o governo a diminuir os impostos, mesmo que apenas em alguns segmentos, a tese de sua utilização como ferramenta eficaz de crescimento vem sendo comprovada na prática. "O empresariado, durante os períodos de normalidade e crescimento econômico, sempre buscou convencer as autoridades de que a redução dos tributos pode elevar a arrecadação e o emprego pelo simples fato de estimular o consumo", enfatizou, na Comissão de Acompanhamento da Crise Financeira e da Empregabilidade, a convite do senador Francisco Dornelles.
O industrial gaúcho listou as medidas anticrise necessárias para serem realizadas pelo governo federal: destravamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC); agilização dos recursos em logística para a modernização da infraestrutura nacional; manutenção dos investimentos da Petrobras e Eletrobrás; e redução dos gastos públicos em rubricas que não envolvam os investimentos mais importantes para o Brasil.
"As dificuldades enfrentadas pela indústria gaúcha não são diferentes daquelas que atingem outras regiões do território brasileiro, no entanto possuem certas peculiaridades", comentou. A Fiergs entregou ao Senado as manifestações de 23 segmentos industriais do Estado sobre as consequências da turbulência global e as demandas para minimizar os efeitos da crise. São eles eletroeletrônico, arroz, carvão, curtumes, vestuário, artigos de couro, ônibus, móveis, adubos, carnes, metalmecânico, artefatos de borracha, calcário, calçados, fármacos, laticínios, tabaco, indústria gráfica, papel e celulose, suínos, trigo, brinquedos e vinho.
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