Engavetado desde o agravamento da crise, no ano passado, o plano da empresa de cartões Visanet de lançar ações na bolsa de valores está sendo retomado. Segundo fontes, a oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) deve ocorrer nas próximas semanas. Se concretizado, o IPO da processadora de cartões será o primeiro na BM&FBovespa desde junho do ano passado, quando a petrolífera OGX conseguiu levantar R$ 6,7 bilhões. A captação da empresa de Eike Batista foi a maior da história da bolsa brasileira e encerrou um ciclo inédito de vigor do mercado brasileiro.
Mas a emissão de ações da Visanet também será responsável por marcar uma nova fase na bolsa. Segundo o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ernesto Lozardo, o movimento pode significar o início da retomada dos processos de IPO no País. "Se a emissão de ações da Visanet se concretizar, vai dar um alento a quem ficou na fila do IPO", comenta. Segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), 32 empresas que se preparavam para abrir o capital desistiram oficialmente do IPO desde de janeiro de 2008 até abril. Porém o alento não servirá para todas essas companhias. De acordo com Lozardo, apenas empresas realmente atrativas devem se arriscar. Empresas médias também não terão espaço no mercado nos próximos anos. "O mais grave já passou. Agora, temos a construção de um novo mercado, que vai olhar as grandes companhias", afirma Lozardo. Estima-se que a venda de ações da Visanet levante cerca de R$ 5 bilhões. A concorrente Redecard, única empresa que emitiu ações neste ano, em uma oferta secundária, também fez uma captação bilionária, de R$ 2,213 bilhões. "O mercado para empresas maduras continua. Talvez no segundo semestre tenhamos duas ou três operações", estima o vice-presidente do Itaú BBA, Jean-Marc Etlin.
Empresas desistentes encontraram alternativas
As empresas que suspenderam o IPO - muitas médias e até pequenas, que inflaram suas operações para ter porte para fazê-lo - terão de achar outras alternativas de capitalização. Para aquelas que se endividaram na preparação para a oferta, esse desafio é ainda mais urgente. Algumas já encontraram saídas. A Locaweb, de internet, trocou o IPO - onde pretendia levantar R$ 200 milhões, no fim do ano passado - por um empréstimo bancário bem mais modesto, de R$ 27 milhões, para tocar os planos de expansão.
A Droga Raia, também se preparou para o IPO, mas teve de abortar o plano com a chegada da crise. Seus executivos chegaram a fazer road-show nos Estados Unidos e os bancos Credit Suisse e Unibanco foram contratados para coordenar a oferta. Seis meses depois da desistência, a rede de farmácias vendeu 30% de seu capital para os fundos de investimento Gávea e Pragma Patrimônio. A empresa de construção civil Direcional, de Belo Horizonte, seguiu pelo mesmo caminho e vendeu 25% do capital para o fundo de investimentos Tarpon.
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