O Banco Central do Brasil estima que o volume de crédito neste ano crescerá 14%, alcançando 44% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2009. De acorco com o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, há uma expansão moderada do crédito depois do travamento no mercado provocado pela crise financeira internacional e, embora esteja voltando à normalidade, o crédito ainda está muito concentrado nos bancos públicos. De setembro de 2008 a março deste ano, o crédito nos bancos públicos cresceu 18,3%, enquanto nos bancos privados nacionais avançou 1,5%, e nos bancos privados estrangeiros, 3,5%.
"Para o crédito voltar à normalidade, esse crescimento precisa ser mais disseminado", afirmou, enfatizando que o movimento de retomada do crédito precisa ocorrer nos bancos pequenos e médios, os que mais sofreram com a falta de liquidez. Nesse sentido, Lopes lembrou a criação do novo Recibo de Depósito Bancário (RDB), que permite captação de recursos nos bancos pequenos e médios com garantia de até R$ 20 milhões do Fundo Garantidor de Crédito. Segundo ele, em abril, quando começou essa nova modalidade de captação de recursos, foram levantados R$ 3,2 bilhões até o dia 21. Segundo ele, o RDB ainda vai surtir efeito nos indicadores de crédito.
Em março, conforme o BC, o estoque de crédito do sistema financeiro cresceu 1% ante fevereiro, atingindo R$ 1,24 trilhão. O prazo médio das operações de crédito no País subiu de 369 dias para 372 dias. O prazo para pessoa jurídica recuou de 290 para 287 dias e, para pessoa física, subiu de 479 dias para 489 dias. O saldo de operações com recursos livres no mês cresceu 0,9% em março, enquanto os empréstimos com recursos direcionados tiveram expansão de 1,2%. No acumulado dos últimos 12 meses, o saldo cresceu 25%. O crédito com recursos direcionados nesse período aumentou 27,5% e, com recursos livres, 23,9%. Em relação ao PIB, o crédito subiu de 41,8% em fevereiro para 42,5% em março.
As concessões de novos empréstimos com recursos livres em março cresceram 26,1%, na comparação com fevereiro, totalizando R$ 155,73 bilhões. As concessões para pessoas jurídicas evoluíram 28,8% e as para pessoas físicas, aumento de 21,5%. Março teve três dias úteis a mais do que fevereiro. Nos últimos 12 meses, as concessões acumuladas cresceram 4,8%, com o segmento pessoa jurídica registrando expansão de 3,4% e o pessoa física, 7,5%.
Altamir Lopes disse que o estoque da carteira de crédito com recursos livres apresentou em abril, até o dia 8, expansão de 1,4% na comparação com o fim de março. Essa expansão foi gerada pelas operações destinadas a empresas, que tiveram crescimento de 1,7%. No mesmo período, os empréstimos destinados às famílias cresceram 0,9%. O juro médio nessas operações permaneceu estável em 39,2% no período. Nas operações para as empresas, houve ligeiro aumento da taxa, de 0,1 ponto para 29% ao ano. Nos empréstimos para pessoas físicas, foi registrada queda de 0,1 ponto para 50%.
Lopes também informou que o spread médio dessas operações permaneceu em 28,5 pontos, mesmo patamar observado no fim de março. Nos financiamentos às empresas, houve elevação de 0,1 ponto para 18,1 pontos. Para as famílias, houve trajetória contrária, com redução de 0,1 ponto, para 39,6 pontos. Segundo ele, a tendência do spread é de redução nos próximos meses, principalmente para pessoa física. Isso acontece, explica, porque a inadimplência nessas operações tende a permanecer estável com possibilidade de redução, "na medida em que a oferta de crédito cresce e os clientes passam a ter a possibilidade de rolar as dívidas passadas". O chefe do BC recomenda que as pessoas físicas endividadas devem procurar linhas como o crédito pessoal e o consignado para refinanciar seus compromissos.
Financiamento habitacional aumenta 2,5%
O crédito destinado à compra de imóveis continua com ritmo aquecido de expansão. Em março, o total da carteira de crédito destinado à habitação - com recursos direcionados e livres - apresentou expansão de 2,5% ante o mês anterior, o que aumentou o total para R$ 64,13 bilhões. O percentual equivale a mais que o dobro do registrado na carteira total de crédito, que teve expansão de 1% em março na comparação com fevereiro.
Em 12 meses, o total das operações de crédito habitacional apresenta expansão de 40,2%, quase o dobro do crescimento da carteira total de crédito do sistema financeiro, de 25% no mesmo período. Nas operações de crédito livre para as pessoas físicas, o financiamento imobiliário teve taxa de crescimento ainda maior, de 6% no mesmo período. Com a expansão, o montante total passou para R$ 3,679 bilhões. Em 12 meses, essa carteira cresceu 38,1%. Chama a atenção o volume de novas operações realizadas em março, que somou R$ 206 milhões.
Novo papel ajuda bancos médios a trabalhar no longo prazo
A utilização de Depósitos a Prazo com Garantia Especial do Fundo Garantidor de Crédito (DPGE) já começa a impulsionar as operações de crédito dos bancos de menor porte, em especial aqueles que trabalham com linhas de longo prazo. A emissão desses papéis começou no dia 1 de abril e até dia 22 a Cetip - Balcão Organizado de Ativos e Derivativos contabilizava R$ 3,18 bilhões em depósitos dessa natureza. Só o Panamericano conseguiu levantar R$ 450 milhões. "Nosso papel agora é tão sólido quanto o de um banco de primeira linha", afirma o diretor superintendente da instituição, Rafael Paladino.
Esse tipo de depósito é um instrumento de captação criado pelo governo federal no final de março. Ele garante que o investidor receba até R$ 20 milhões do valor aplicado no título em caso de liquidação do banco. A garantia é dada pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) e, diferentemente dos certificados de depósitos bancários (CDBs), esses ativos não podem ser negociados pelos investidores que os comprarem. A medida vale para as emissões feitas com prazo mínimo de seis meses e máximo de cinco anos.
Com a redução da liquidez, a partir de setembro do ano passado, os bancos de menor porte estavam com dificuldades em captar recursos. Esses depósitos foram criados justamente para lidar com esse problema e, com a garantia do FGC, têm atraído investidores de longo prazo. Do total registrado com essas captações na Cetip, 33,7% foram com prazo de até 360 dias. O restante está com prazo superior, sendo 27,2% entre 3 e 5 anos.
O Panamericano já emitiu R$ 450 milhões em DPGEs e todos com prazo acima de um ano. A operação ajuda adequar a captação aos principais produtos do banco, que é o crédito consignado e o financiamento de automóveis, com prazo máximo de 36 meses e 48 meses, respectivamente. "Devagar vamos voltar à normalidade. Nossa captação está mais equalizada agora", diz o executivo. Na captação via emissão de DPGEs, o custo do banco está em torno de 110% do CDI.
A retomada dos recursos de longo prazo fez o banco voltar a pensar em expansão.
A adesão mostra que a medida do governo federal em utilizar o FGC para garantir esses papéis foi acertada, segundo o diretor financeiro do Pine, Clive Botelho. O executivo não revela o quanto a empresa já conseguiu de recursos por meio desse instrumento, mas afirma que os prazos estão compatíveis com as principais linhas de crédito ofertadas pelo banco. "O produto já é um sucesso e tem espaço para crescer." Botelho explica que alguns comitês de risco de fundos de investimentos ainda estão se adaptando para autorizar aplicações nessa nova modalidade.
A medida também contribui para que o fluxo de recursos no sistema financeiro volte ao normal, segundo avaliação do diretor-executivo e de Relações com Investidores do Daycoval, Morris Dayan. Conforme o executivo, a instituição ainda não começou a emitir esses papéis, o que será feito quando a demanda por crédito começar a aumentar e o banco necessitar de recursos por prazo mais longo.
Empresas elevam inadimplência ao maior nível em dois anos
Os juros já caíram para níveis verificados antes da explosão da crise financeira, em setembro de 2008, e o estoque de crédito continua crescendo. Mas a dificuldade de as empresas rolarem suas dívidas, em decorrência do travamento do crédito, elevou a taxa de inadimplência do setor produtivo de 2,3% em fevereiro para 2,6% em março, o nível mais elevado desde abril de 2007. O não pagamento de dívidas pelas empresas também impulsionou a inadimplência nas operações de crédito livre do sistema financeiro, que cresceu pelo quarto mês consecutivo em março.
No mês passado, o percentual dos empréstimos com atraso superior a 90 dias atingiu 5%, ante a taxa de 4,8% verificada em fevereiro. Em março de 2008, a inadimplência estava em 4,1%. Com a elevação da inadimplência em março, a taxa atingiu o nível mais elevado desde novembro de 2006, quando estava em 5,1%. O índice de falta de pagamento de contas pelas pessoas físicas, no entanto, caiu de 8,4% para 8,3%.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, o nível de inadimplência das empresas é menos preocupante do que a trajetória em si, que revela dificuldade das empresas de rolarem suas dívidas, diante de um sistema financeiro com menor oferta de crédito. Ele lembrou que o crédito para as empresas vinha crescendo mais do que o para as pessoas físicas antes da explosão da crise, em setembro do ano passado. Com o travamento do mercado, segundo Altamir, é natural que o movimento de alta na inadimplência seja mais acentuado. Embora não tenha se arriscado a dizer que o nível dos calotes de pessoas físicas tenha definitivamente se estabilizado, Altamir afirmou que essa parece ser a tendência.
Se por um lado cresce o calote, por outro caem os juros. A taxa de juros média das operações de crédito com recursos livres recuou 2,1 pontos percentuais em março em relação a fevereiro, atingindo 39,2% ao ano. Essa taxa já é inferior à verificada em setembro de 2008, mês que marcou o agravamento da crise internacional. Na ocasião, a taxa de juros média ficou em 40,4% ao ano.
O spread bancário também recuou, mas em menor ritmo: 1,2 ponto percentual para 28,5 pontos percentuais ao ano em março. Spread é a diferença entre o custo pago pelo banco para captar recursos e o juro que ele cobra dos clientes. O spread ainda está mais alto do que o verificado em setembro do ano passado, quando ficou em 26,4 pontos, e também ligeiramente superior a outubro, pior mês da crise, quando ficou em 28,3 pontos.
As operações de pessoa física registraram taxa média de juros de 50,1% ao ano em março, ante 52,6% em fevereiro. O indicador também ficou abaixo do verificado em setembro. No segmento pessoa jurídica, a queda foi de dois pontos percentuais, para 28,9% ao ano. Em setembro, a taxa estava em 28,3% ao ano.
Juros do cheque especial e do cartão de crédito são os mais caros
As linhas de crédito mais usadas pelos brasileiros foram as que também apresentaram taxas de juros mais caras no primeiro trimestre deste ano, segundo análise da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio), com dados do Banco Central (BC).
Em um cenário de insolvência mundial e de menor oferta de crédito, as duas únicas linhas de financiamento que tiveram crescimento no primeiro trimestre de 2009 foram a do cheque especial (7%) e do cartão de crédito (24%) ante igual período do ano passado. Os dois gêneros mais populares de financiamento também foram os que apresentaram maiores altas nas taxas de juros cobradas no mesmo período.
A taxa do cheque especial subiu 2,4 pontos percentuais em março, alcançando 169,1% ao ano, contra 166,7% anuais em fevereiro. No acumulado de 12 meses, houve elevação de 19,3 pontos percentuais. No caso do cartão de crédito, a Anefac registrou que a taxa cobrada pelas administradoras foi de 10,68% no mês de março e de 237,93% ao ano. Segundo o presidente da Fecomercio, Abram Szajman, o encarecimento na oferta de financiamentos de todos os gêneros tem diminuído a opção do consumidor na escolha da melhor opção de crédito. "Os consumidores estão sentindo suas opções diminuírem e estão sendo levados a buscar nas modalidades mais caras", disse.
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