Está praticamente garantido um novo corte de 1,5 ponto percentual na taxa Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) marcada para 28 e 29 de abril - hoje a taxa está em 11,25%. Pelo menos foi com essa sensação que analistas de mercado saíram de reunião que tiveram em São Paulo no começo da semana com o diretor de Normas do Sistema Financeiro (Dinor) do Banco Central, Alexandre Tombini.
O encontro foi marcado para que fossem discutidas alternativas capazes de desobstruírem os canais que fazem chegar crédito ao consumidor e às empresas. A impressão de que a taxa nominal de juros deverá cair para 9,75% ao ano daqui a duas semanas se apoderou dos participantes do encontro a partir de sinalizações do diretor do BC de que a Taxa Referencial (TR), que compõe o rendimento da caderneta de poupança, não representa um impeditivo à continuidade da queda de juros.
Durante o encontro na regional do BC na capital paulista, segundo um dos participantes, Tombini teria deixado escapar que a questão da rentabilidade da poupança será sim um problema, mas mais para frente. Não agora. O diretor teria até avaliado que a vinda à baila da discussão envolvendo a caderneta de poupança neste momento teria sido bastante oportuna porque teria deflagrado dentro do governo iniciativas no sentido de corrigir este que poderá vir a ser um grande problema para o encaminhamento da política monetária mais à frente.
De acordo com outra fonte que esteve na reunião, Tombini teria informado ainda que mudanças no rendimento da caderneta de poupança já estariam em curso no âmbito do governo. A discussão dando conta de que a caderneta de poupança poderia passar a ser um limitador de cortes mais expressivos da taxa básica de juros ganhou musculatura depois dos dois cortes profundos da Selic. Em janeiro, num golpe que surpreendeu parte significativa dos analistas do mercado, o colegiado comandado por Henrique Meirelles derrubou de uma só vez a Selic em 1 ponto percentual. Na reunião seguinte, no dia 11 de março, a pancada na taxa de juros foi de 1,5 ponto.
A partir daí, com a percepção consolidada de que o BC não estava mesmo para brincadeira, muitos analistas começaram a entender que, se o ritmo de redução for mantido, a taxa nominal chegará a um patamar que levará a caderneta de poupança a se tornar mais atrativa do que outras modalidades de investimento. Isso configuraria um desastre para os bancos que recorrem a várias outras modalidades de aplicação para captar os recursos que emprestam. Em um momento em que a crise econômica afetou justamente a credibilidade, redundando na obstrução do crédito e da liquidez, a preocupação é pertinente.
Mas a manifestação de Tombini para o seleto grupo de analistas, no que diz respeito à poupança, não é a primeira. Embora as palavras tenham sido mais comedidas, para alguns especialistas o tema já teria sido cogitado na ata do Copom de março.
Economistas vinculados ao mercado financeiro são adeptos da ideia de que o rendimento da poupança não pode se tornar um limitador de corte da taxa básica. Para o professor de economia da Universidade de São Paulo (USP) Heron do Carmo, não faz o menor sentido o BC parar de cortar juros por conta da poupança num momento em que a economia precisa de estímulos.
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