Para o dirigente, a crise tem feito com que muitos países "voltem a uma idade ultrapassada da história, idade esta que há tempos se mostrou perdedora". Sá afirmou ainda que o que se verifica hoje é uma situação de falência do capitalismo de Estado, não de mercado, e que impressiona a forma como muitos países deixem que a "liberdade sucumba a medidas intervencionistas".
A governadora Yeda Crusius não pôde comparecer à abertura, mas enviou uma carta na qual destacou características de seu governo, que optou por "enfrentar os problemas para resolver". Em seu discurso, o vice-governador Paulo Afonso Feijó salientou que a liberdade vem sendo enfraquecida pelo intervencionismo de muitos governos, que cerceiam as oportunidades de mercado. "A essência do empreendedorismo está sendo afetada pelo poder que muitos governos tem de tirar recursos dos que produzem e entregá-lo ao que nada produzem, como é o caso do MST", destacou Feijó.
A cerimônia de abertura foi marcada ainda pela entrega do Prêmio Liberdade de Imprensa 2009, concedido ao presidente do conselho de administração do Grupo Abril, Roberto Civita e para o economista Rodrigo Constantino, que recebeu o prêmio Libertas 2009. Hoje, no Fórum da Liberdade, que ocorre no prédio 41 da Pucrs, estão previstos diversos painéis, como o que debate a Liberdade e o Intervencionismo, com o economista Gustavo Franco e o filósofo e consultor Denis Rosenfield.
A partir das 9h, a ex-ministra das finanças da Nova Zelândia Ruth Richardson, o economista Alessandro Teixeira e o fundador do partido Movimiento Libertario da Costa Rica, Otto Guevara Guth, participarão do painel sobre Liberdade e Protecionismo.
Na parte da tarde, às 14h, o sociólogo, jornalista e doutor em geografia humana Demétrio Magnoli e o economista Franklin Cudjoe participarão do painel sobre Liberdade de Etnias, enquanto o fundador e coordenador-executivo do grupo cultural AfroReggae, José Júnior, a diretora de redação da Revista Exame, Cláudia Vassallo e o diretor da Central Globo de Comunicação, Luis Erlanger, falarão sobre Liberdade de Imprensa e de Expressão. O quarto painel está programado para ocorrer às 16h.
Neste ano será homenageado também o economista Rodrigo Constantino, que receberá o prêmio Libertas 2009. Durante o Fórum da Liberdade, também será lançada a versão em português do Índice de Liberdade Econômica. Essa iniciativa é uma parceria entre o IEE/Instituto Liberdade do Rio Grande do Sul e o The Heritage Foundation/Wall Street Journal, um dos mais importantes institutos de pesquisa e estudo dos EUA.
Ao longo de 21 edições, o Fórum da Liberdade já reuniu em Porto Alegre mais de 45 mil participantes, 211 conferencistas, cinco chefes de Estado, quatro ganhadores do Prêmio Nobel de Economia, 89 acadêmicos e intelectuais, 20 ministros de Estado e 21 lideranças empresariais.
(por Ana Esteves)
Vicente Fox defende o livre mercado
Uma das estrelas do Fórum da Liberdade, iniciado ontem na Capital, o ex-presidente mexicano Vicente Fox defendeu que o enfrentamento da crise não deve colocar em dúvida os valores da economia de mercado. "Se tivermos fortes intervenções governamentais neste momento, amanhã vamos nos arrepender de ter dado aos estados mais poder do que o necessário", afirmou. Fox lembrou que o crescimento econômico que a América Latina viveu nos últimos dez anos deveu-se, sobretudo, à adoção do livre mercado. "Vivemos os dez melhores anos que a humanidade já teve em termos de crescimento econômico e desenvolvimento. Na América Latina, a pobreza foi reduzida em 35% nesse período, então temos que reconhecer o quão virtuoso foi o ciclo", defendeu.
Para Fox, os governos devem demonstrar serenidade e prudência no enfrentamento da crise, mas mantendo a defesa da democracia e liberdade econômica. Ele afirmou que o ataque à crise através de uma ativação da economia causada pelo aumento do gasto público só é possível em países que já haviam feito reservas suficientes durante o período de bonança financeira, e mesmo assim tal solução pode comprometer o futuro econômico das nações. "Utilizar financiamentos e obrigações de longo prazo para resolver este problema não me parece certo, pois estamos optando por uma solução que sacrifica", disse. Como um exemplo negativo, Fox apontou as ações tomadas pelos Estados Unidos, que estão aumentando seu déficit público, o que deve gerar mais inflação no futuro. Ele lembrou que, durante sua administração, a dívida pública mexicana foi reduzida pela metade, o déficit fiscal reduzido de 2,5% para zero, e as reservas foram dobradas, dando maior margem de manobra para o governo enfrentar a crise.
Em relação às políticas que os Estados Unidos devem adotar para a América Latina, Fox afirmou que ainda é muito cedo para avaliar as ações do presidente Barack Obama. "Uma coisa é entusiasmar as pessoas, outra é cumprir os compromissos", lembrou. No entanto, Fox afirmou estar preocupado com críticas feitas por Obama ao Nafta, devido à perda de empregos norte-americanos. "Este protecionismo é uma ameaça à saúde da economia mundial", relatou. O ex-presidente mexicano também afirmou que faltam políticas claras quanto à imigração e ao muro que está sendo construído na fronteira com o México.
Para o executivo mexicano, os governos precisam se preocupar com a geração de riquezas ao mesmo tempo em que buscam o desenvolvimento social, por meio de ações ligadas à saúde, educação e segurança. "O século XXI para a América Latina é o momento de recuperar o tempo perdido, executando um trabalho duro para superar a crise econômica mundial e vencer o narcotráfico", salientou.
Ele atribui o subdesenvolvimento dos países latino-americanos à falta de liberdade dos cidadãos após sucessivos governos ditatoriais. "A falta de liberdade nos fez perder a chance de inovar e empreender. A América Latina ainda sofre as consequências de suas ditaduras, eliminadas apenas no início dos anos 1980", destacou Fox, citando como contraponto a democracia madura como um dos fatores para o crescimento de Canadá, Estados Unidos e Europa.
A atual crise econômica, segundo Fox, aumenta a ameaça de regimes populistas e autoritários, como se vê na Venezuela, Bolívia, Nicarágua e no Equador, colocando a liberdade conquistada em xeque. Ele ressalta que é preciso evitar os "messias" que prometem milagres econômicos e sociais, citando como um exemplo clássico desta posição o presidente venezuelano Hugo Chávez, com sua pretensa democracia socialista. "A pobreza só pode ser eliminada com a geração de riqueza, não há outra fórmula", condicionou o ex-dirigente.
(por Marcelo Beledeli e Erik Farina)
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