Investidores que possuem ações ganharão em breve novo estímulo para alugar seus papéis: a BM&FBovespa dará bônus de 0,05% ao ano sobre o valor alugado. A iniciativa, prevista para entrar em vigor hoje, foi adiada para 4 de maio, assim como a nova política de tarifas da bolsa, que pretende ampliar a participação das pessoas físicas, especialmente dos pequenos investidores. Além do bônus nos aluguéis, as taxas de negociação e liquidação recuarão de 0,035% para 0,0335% para pessoas físicas.
Hoje, do valor total disponibilizado para aluguel, 29% pertencem a pessoas físicas. O bônus de 0,05% incidirá sobre o valor total das ações alugadas, calculado a partir da cotação média no dia anterior ao do contrato de aluguel. E será depositado em dinheiro, ao final do empréstimo, na conta mantida pelo dono da ação na corretora.
Quem empresta a ação é remunerado por uma taxa de juros acertada entre as partes. "É uma operação de renda fixa envolvendo um ativo de renda variável", explica o professor do Ibmec-SP Alexandre Chaia. Segundo a Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC), a taxa média do aluguel de ações preferenciais da Petrobras, as mais demandadas para aluguel, foi de 0,30% ao ano nos últimos 15 dias úteis do mês de março. Quanto maior a oferta da ação, menor a taxa de juros que o tomador se dispõe a pagar pelo papel.
Os empréstimos costumam ser tomados por investidores que precisem das ações para certos tipos de negociação, como no mercado de opções. As operações são garantidas por margens depositadas na CBLC, o que assegura a devolução das ações na data acertada, com o rendimento. "É uma operação extremamente segura", afirma o diretor-executivo de Produtos da BM&FBovespa, Murilo Robotton Filho. O risco de quem empresta é perder uma boa oportunidade de venda - não há como o proprietário requisitar as ações antes do vencimento da operação. Por isso, o aluguel é recomendado apenas aos investidores que não desejem vender as ações mesmo que o preço dispare no curto prazo.
Analistas recomendam cautela na Bovespa
A escalada da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) na semana passada fez muita gente começar a se questionar se o momento mais crítico do mercado ficou para trás. Apenas nos últimos quatro pregões, a Bovespa deu um salto de 9,2% e alcançou seu mais elevado nível em seis meses. No ano, os ganhos acumulados chegam a 18,22%.
Todavia, mesmo que o desempenho recente do mercado de ações possa gerar certa euforia, analistas advertem que ainda há muitas incertezas em relação ao desempenho da economia mundial pelos próximos meses. E, consequentemente, não há garantias de que a bolsa seguirá em rota de alta.
"Começamos a entrar em um processo de recuperação, mas não é hora de ficar ansioso para investir em ações. Nesse momento, é bom entrar na bolsa aos poucos. Vai demorar para que a Bovespa consiga retomar seus picos", diz Ricardo Almeida, professor de finanças do Ibmec-SP. "Realizações de lucros vão ocorrer pelo caminho."
Aos 44.390 pontos, a Bovespa encerrou a sexta-feira em sua mais alta pontuação desde o dia 3 de outubro. Mas ainda está distante de sua máxima histórica, os 73.516 pontos marcados no dia 20 de maio de 2008. A pontuação oscila com o sobe e desce do valor das ações. Assim, quando a pontuação atinge um recorde, significa que nunca as ações estiveram tão valorizadas. Para retomar seu recorde, a bolsa de valores terá de se apreciar em mais de 65%.
"Até o começo da semana passada falava-se em 50 mil pontos no fim do ano. E não acho que o cenário tenha se alterado drasticamente. Não adianta começar a pensar que a bolsa retornará aos 70 mil pontos", diz Luiz Roberto Monteiro, assessor de investimentos da corretora Souza Barros.
Monteiro lembra que, apesar de o mercado ter se animado na semana passada com os anúncios feitos na reunião do G-20, a economia mundial ainda está muito comprometida. "Tem de esperar para ver como a economia vai se comportar daqui para a frente. Devemos ter dados econômicos mais claros no fim do segundo trimestre", diz.
A oscilação das ações reflete as perspectivas para os resultados das companhias. E, com o atual cenário debilitado, não se espera que as empresas com ações em bolsa consigam ser muito mais lucrativas do que foram no ano passado. Ao menos este primeiro semestre promete ser bastante difícil.
Indicadores na Europa são destaque na semana
A agenda de eventos econômicos europeia será o destaque da semana. Importantes dados de inflação, consumo, juros e de revisão do PIB vão ser conhecidos nos próximos dias. A Europa já concentrou a atenção de analistas e investidores na semana passada, quando Londres recebeu a reunião de cúpula do G-20. A semana começa com a divulgação de dois relevantes indicadores: as vendas no varejo na zona do euro em fevereiro, para a qual se espera uma retração de 0,3%, e o índice de preços no atacado, que deve apontar recuo em torno de 0,5%.
Amanhã a agenda se intensifica, pois nos Estados Unidos sairão indicadores ligados ao consumo. Haverá a apresentação do volume de crédito destinado ao consumo em fevereiro, além do nível de confiança dos consumidores. Esses dados são importantes indicadores do ritmo em que anda a economia. Na zona do euro, vai ser apresentada amanhã a última revisão do PIB do quarto trimestre, para a qual a previsão aponta uma retração de 1,3%.
Na agenda brasileira, marcada pelo feriado de sexta-feira, a divulgação da inflação de março será um dos principais destaques da semana. O mercado trabalha com a expectativa de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que será divulgado na quarta-feira, tenha registrado elevação de 0,25% no mês.
O IPCA é utilizado pelo Banco Central para medir a meta oficial de inflação. Se o IPCA se mantiver dentro das expectativas, aumentarão as chances de os juros seguirem em queda. Ainda na quarta-feira vão ser apresentados outros índices, como o IGP-M e o IPC-S.
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