Os volumes do comércio mundial deverão recuar 9% em 2009, no maior declínio desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), aponta o mais recente relatório de projeções do fluxo do comércio global da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Contudo, a OMC também avalia que os dados do mês passado de parceiros comerciais muito importantes da Ásia, como a China, sugerem que o fim da pior fase da queda no comércio exterior pode estar próximo. A OMC justifica o cenário pelo colapso na demanda global, "provocado pelo maior declínio econômico em décadas."
"Muitos milhares de empregos relacionados ao comércio estão sendo perdidos", disse Pascal Lamy, diretor-geral da OMC, em um comunicado. Ele conclamou os líderes do G-20 - incluindo o presidente dos EUA, Barack Obama - que irão se reunir em Londres no dia 2 de abril a "se unirem para avançar das promessas para a ação e se absterem de qualquer medida protecionista adicional que possa tornar os esforços de recuperação global menos eficazes".
As novas projeções são baseadas em dados de comércio exterior disponíveis recentemente, que mostram acentuadas quedas nos dois primeiros meses de 2009 e projeções econômicas mais amplas. Todas as regiões da economia global estão sofrendo uma redução na demanda do consumidor, especialmente para bens importados, de carros a aparelhos de som. "Não existe qualquer área "descolada" do mundo que não esteja sendo afetada", diz a OMC. O estudo revela que a crise do comércio vai afetar principalmente os países ricos, cujo comércio deve cair em 10%, comparado com uma queda de 2% a 3% das nações em desenvolvimento. Espera-se que a economia global encolha em 1% ou 2% em 2009.
O financiamento para o comércio - os empréstimos que os bancos concedem aos importadores para que eles possam pagar seus fornecedores antes de obter seus bens - está cada vez mais difícil de se obter por causa da crise financeira. Também há uma proliferação de medidas protecionistas, com países do México à Rússia impondo novas tarifas sobre a importação. A OMC estima que 17 dos 20 países que vão se reunir no dia 2 de abril em Londres já quebraram suas promessas de livre comércio.
"Desenvolvimentos adversos adicionais nos mercados financeiros poderão prolongar a crise atual, assim como uma alta no protecionismo", disse a OMC. "A recuperação pode ser mais lenta do que o esperado se o consumo doméstico não voltar para uma tendência de crescimento mais normal em breve."
Com as menores perspectivas de outro acordo de comércio internacional, a OMC espera constranger seus 153 membros a manter o comércio aberto através do registro e publicação dos excessos de protecionismo em uma lista bimestral. A organização pretende divulgar seu mais recente relatório nesta semana.
Brasil cresce no ranking dos maiores exportadores
O Brasil sobe no ranking dos maiores exportadores e importadores do mundo, mas ainda conta com apenas 1,2% do comércio mundial. Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), o País encerrou 2008 como o 22º maior exportador do mundo, uma posição acima do que havia registrado em 2007. Já a importação brasileira cresceu três vezes mais rapidamente que a média mundial.
A parcela dos países emergentes no comércio mundial bateu um recorde no ano passado, com 38% das exportações do planeta. Em 2008, as exportações brasileiras aumentaram em 23% em valores, superando a média mundial de 15% e ficando bem acima das taxas de expansão de Estados Unidos, Alemanha e mesmo da China, que cresceu em 17%. No total, o Brasil exportou US$ 198 bilhões.
O País, porém, permanece com a mesma parcela da fatia do comércio mundial que já possuía em 2007. A taxa é inferior à participação do Brasil no comércio há 20 anos. O Brasil ainda é superado pela Malásia, Suíça e México, o país latino-americano melhor posicionado no ranking de exportadores, na 16ª colocação. No topo do ranking, a Alemanha ainda lidera como a maior exportadora do mundo, com US$ 1,47 trilhão. Mas a China já praticamente se igualou, com vendas de US$ 1,43 trilhão. A participação alemã no comércio mundial é de 9,1%. A China já tem 8,9% do comércio mundial, contra 8,1% dos Estados Unidos, terceiro maior exportador do planeta.
A América do Sul contribuiu pouco para a expansão da participação dos países emergentes no comércio mundial. Segundo a OMC, a região teve uma expansão de apenas 1,5% nas exportações em 2008. Já as importações aumentaram em 15,5%. O crescimento nas importações sul-americanas foi a maior do mundo.
O Brasil também subiu no ranking dos importadores, com uma alta de 44% nas compras em 2008, três vezes maior que a média mundial. Com US$ 183 bilhões em importações, o Brasil fechou 2008 na 24ª posição, com 1,1% das compras mundiais. Em 2006, ocupava a 29ª posição entre os importadores. Em 2007, estava na 27ª posição. Os dados divulgados ontem pela Comissão Europeia indicaram que o Brasil foi o destino que mais sofreu um aumento nas exportações do bloco, com alta de 24%. Mesmo assim, o déficit comercial europeu atingiu 33,2 bilhões de euros em 2008.
Balança brasileira acumula superávit de US$ 2,28 bilhões neste ano
A forte retração do comércio mundial, que tem reduzido as exportações e importações brasileiras, tem provocado uma recuperação do superávit da balança comercial. O saldo comercial este mês, acumulado em três semanas, soma US$ 1,04 bilhão, já superando todo o superávit de março de 2008, de US$ 988 milhões. Depois de ter começado o ano com um déficit comercial, de US$ 524 milhões em janeiro, o superávit acumulado em 2009 totaliza US$ 2,28 bilhões, apenas 1,8% menor que no mesmo período do ano passado.
Em 2008, o recuo do saldo comercial foi vertiginoso por causa do forte aumento das importações, que cresciam mais que o dobro das exportações. Houve uma retração de 38,2% em relação ao superávit de 2007. Neste ano, importações e exportações estão em queda. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as vendas ao exterior este mês somam US$ 7,99 bilhões, queda de 15,5% em relação à média diária de março de 2008. As compras de mercadorias pelo Brasil totalizam US$ 6,95 bilhões, com retração de 20,3%. Somente na terceira semana, as exportações foram de US$ 2,79 bilhões e as importações, US$ 2,17 bilhões, resultando em superávit de US$ 619 milhões.
Somente venda de básicos tem registrado expansão
Os produtos básicos são a única categoria que tem registrado neste mês aumento das exportações em relação a março do ano passado. Houve aumento de 11,6% pela média diária exportada, por conta, principalmente, de minério de ferro, algodão em bruto, soja em grão e fumo em folhas.
No acumulado das três primeiras semanas, as exportações registram queda de 15,5% em relação à média diária de março de 2008, por conta da redução nas vendas de manufaturados e semimanufaturados.
As exportações de produtos manufaturados acumulam no mês queda de 27,4%, em razão das menores vendas de aviões, autopeças, automóveis, calçados, aparelhos transmissores e receptores, laminados planos e motores e geradores. Os embarques de semimanufaturados caíram 24,1% no mesmo período, por conta de couros e peles, óleo de soja em bruto, celulose, alumínio em bruto, ferros-ligas e semimanufaturados de ferro e aço.
Nas importações, a média diária brasileira até a terceira semana de março de 2009, de US$ 463,3 milhões, ficou 20,3% abaixo da média de março de 2008 (US$ 581,3 milhões). Caíram as compras, principalmente, com cobre e suas obras (57,9%), combustíveis e lubrificantes (48,7%), equipamentos elétricos e eletrônicos (23,3%), automóveis e partes (21,7%) e instrumentos de ótica e precisão (17,5%).
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