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19/03/2009 - Crise provoca queda nos preços da carne
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crise internacional atingiu em cheio o mercado de carnes no País e levou a uma queda generalizada de preços no mercado doméstico, sobretudo em janeiro e fevereiro. Levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que a alta acumulada em 12 meses dos preços dos bovinos no atacado até março, que ficou em 12,13%, é a mais baixa desde novembro de 2007, quando subiu 8,63%. Esse cenário também se reflete no varejo, onde a inflação acumulada em 12 meses da carne bovina é de 19,05%, a menor desde dezembro de 2007, quando a taxa acumulava 16,18% no período.
Para especialistas, essa variação de preços foi puxada para baixo principalmente durante janeiro e fevereiro, meses em que os preços das carnes deveriam estar subindo por conta do período de entressafra. Mas mostraram deflação, nesses dois meses, em praticamente todos os principais índices inflacionários do mercado. Além da FGV, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já havia detectado o fenômeno, no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de fevereiro, que mostrou o preço das carnes (bovina e suína) em queda de 2,14% - a mais forte deflação mensal em mais de dois anos. Nas últimas divulgações dos Índices Gerais de Preços (IGPs), o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros, já tinha alertado para o cenário atípico nos preços das carnes. Para ele, o setor é um dos exemplos mais visíveis de influência das consequências negativas do recuo na demanda internacional, que levou a uma redução nas exportações de carne brasileira.
A analista do banco Brascan Denise Messer concordou que o deslocamento das exportações para o mercado interno afetou de forma expressiva o setor e também ajudou a reduzir muito o preço do boi gordo. Entretanto, comentou que esse ambiente não deve se sustentar por muito tempo. Na análise da técnica, alguns sinais positivos de recuperação na demanda internacional já começam a surgir, o que pode levar a um cenário mais favorável nas exportações de carne, a partir do segundo semestre deste ano.
Mas o atual quadro pode ter sido suficientemente negativo para afetar o desempenho das exportações de carne bovina esse ano. O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Roberto Giannetti da Fonseca, admite que o setor pode registrar uma queda em torno de 20% nas exportações em 2009, em quantidade e em preço - sendo que, no ano passado, a receita das vendas externas foi de US$ 5,3 bilhões, com volume de 2,2 milhões de toneladas. Entretanto, ele fez questão de ressaltar que esse problema é de caráter "conjuntural" e não reflete a realidade do setor no Brasil, que é muito competitivo no cenário internacional, em custo de produção e qualidade. "O que estamos passando agora, todos outros setores também estão passando", afirmou. Na avaliação do dirigente, o setor de carnes é muito mais visível do que outros segmentos da economia. Por isso, os problemas enfrentados por esta indústria estariam alcançando maior repercussão. Na prática, segundo ele, o setor tem todo o potencial para se tornar o maior fornecedor de proteína animal do mercado mundial e possui condições para uma recuperação sustentável após o termino da atual crise internacional.
Para o analista da Scot Consultoria, Fabiano Tito Rosa, o que ocorre atualmente com os preços é reflexo de um ambiente negativo que preenche praticamente toda a cadeia. Um estudo sobre a crise no mercado de carnes mostra que a crise pode ter começado a se agravar este ano, mas não começou em 2009. Estimativas da consultoria apontam que, entre 2005 e 2008, o rebanho bovino brasileiro encolheu 6%, o que representou um corte de 12 milhões de cabeças de gado. A redução na oferta, juntamente com o aumento da capacidade de abate, levou a uma forte valorização do boi gordo nos últimos anos, mas também ao aumento gradativo na capacidade ociosa dos frigoríficos.


Produto no Rio Grande do Sul não acompanha cenário nacional

No Rio Grande do Sul, a redução dos preços da carne para o consumidor não foi tão expressiva quanto no resto do País. Segundo a indústria, representada pelo Sicadergs, isso se deve tanto à maior qualidade da carne gaúcha quanto aos investimentos em tecnologia realizados pelos frigoríficos e abatedouros gaúchos. "Temos custos maiores em relação à matéria-prima do que o Centro do País", afirma Ronei Lauxen, presidente da entidade. No entanto, ele aponta que ainda assim houve uma diminuição de cerca de 6% nos preços praticados pela indústria a partir de novembro. "No atacado, o quilo da carcaça está sendo vendido na faixa de R$ 5,80
a R$ 6,00", informou.
A fraca influência dos preços praticados no Centro do País é confirmada pelos açougues. Segundo Norberto Sbeghen, gerente da Casa Moacir, não houve diferença nos preços praticados. "Como comercializamos carne do Rio Grande do Sul, que não sofreu uma redução sensível, nossos preços não tiveram reduções importantes", afirmou.
Já Marcelo Conceição, proprietário da Casa de Carnes Bolinha, diz que a queda no preço da carne produzida no Estado só foi sentida recentemente. "De uma semana para cá a carne gaúcha teve redução de cerca de 7%", constatou. Como exemplo, ele cita a costela especial, cujo quilo custava, no final de fevereiro R$ 11,90, e hoje é comercializado a R$ 9,40. No entanto, o produto do Rio Grande do Sul ainda se mantém a uma diferença média de preço em torno de 13% maior do que a carne de outros estados. "Nossa carne é mais cara por que tem mais qualidade. O que vem do Centro do Brasil é muito usado para bife, mas para churrasco não tem o mesmo sabor", afirma.





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