Joseph Stiglitz, Nobel de Economia em 2001, anunciou que a comissão que ele preside na Organização das Nações Unidas (ONU) para reformar o sistema financeiro apresentará uma proposta para criar um mecanismo para financiar os países em desenvolvimento e evitar um default. "Os números do Brasil e de outros países em desenvolvimento estão mostrando que entramos definitivamente na primeira grande recessão global desde a Segunda Guerra Mundial", afirmou.
Stiglitz, porém, alerta que a proposta da Europa de reforçar o FMI com US$ 500 bilhões não será suficiente para evitar a recessão global. "A crise não surgiu nos países emergentes. Mas agora eles serão os mais prejudicados. A crise é bem mais profunda que se imaginava", afirmou. O pacote de propostas será divulgado na próxima semana, antes da reunião do G-20, em Londres. A ideia da comissão, formada por economistas de todo o mundo, é a de sugerir medidas de curto e longo prazo para reformar o sistema financeiro. A primeira delas é incrementar de forma substancial o financiamento aos países emergentes.
"A natureza do livre mercado foi profundamente afetada diante da crise e dos pacotes dos países ricos, que irão distorcer os mercados e criar ainda mais dificuldades para os emergentes. Está na hora de os países ricos pensarem não apenas neles e em seus pacotes, mas em meios de ajudar aos demais. Stiglitz aponta que a comissão chegou à conclusão de que os pacotes de ajuda nos Estados Unidos e Europa estão criando, na realidade, medidas protecionistas. Para completar, a falta de créditos e ainda a queda na demanda mundial estão impactando de forma importante os países emergentes. A ideia, portanto, é de que um fundo seja criado para compensar esses governos que eram "inocentes" na crise, mas que hoje já sofrem. "Os países em desenvolvimento não têm recursos para relançar suas economias. É necessário que os países ricos ajudem agora", defendeu Stiglitz. Para o economista, a ajuda não é apenas um ato econômico, mas de justiça social. "Se não houver uma recuperação global, Europa, Estados Unidos e Japão sabem que não conseguirão se levantar", disse. Ele lembra como os países do Leste Europeu estão se transformando na nova fonte de crise para a Europa Ocidental.
Crítico da administração Obama, o economista alerta que os Estados Unidos até agora não deram qualquer sinal do que vão contribuir em dinheiro para ajudar os emergentes. "Só a economia americana receberá US$ 700 bilhões. Mas os países em desenvolvimento representam uma proporção significativa da economia mundial e vão precisar de muitos recursos. Até agora, não escutamos a proposta dos Estados Unidos para as demais economias do mundo", declarou. A Europa já prometeu US$ 250 bilhões, contra outros US$ 100 bilhões do Japão. Outra ideia defendida pela comissão é que o FMI emita papéis e arrecade recursos no mercado privado.
O pacote de Stiglitz também traz propostas de longo prazo. Uma delas é a de aumentar a demanda mundial e a criação de um sistema de reservas globais. Os detalhes da proposta serão anunciados na próxima semana. Outra ideia é de uma reforma completa do FMI. "O Fundo perdeu sua legitimidade. Não alertou para a crise que estava chegando e até promoveu políticas que, hoje, estamos vendo que ajudaram a acelerar a contaminação", disse. Para completar, a Comissão Stiglitz pedirá a criação de um Conselho Econômico Mundial, que monitoraria riscos e estabeleceria controles sobre o mercado financeiro. Sobre a situação americana, Stiglitz é claro: "os Estados Unidos não sofrem mais apenas uma crise econômica. Ela é uma crise social profunda". Segundo ele, o país precisará criar 9 milhões de postos de trabalho até 2010, mas o pacote de Obama fala de apenas 3,6 milhões.
Déficit federal em fevereiro fica em US$ 192,8 bilhões
O déficit federal dos Estados Unidos ficou em US$ 192,8 bilhões no mês passado, recorde para um mês de fevereiro. O dado representa um crescimento de 10% sobre o resultado de fevereiro de 2008. Além disso, o déficit chegou a US$ 765 bilhões nos primeiros cinco meses do atual ano fiscal - iniciado em outubro do ano passado. Os dados foram divulgados ontem pelo Departamento do Trabalho.
O resultado de fevereiro, no entanto, ficou abaixo do previsto pelos analistas, que esperavam um déficit de US$ 205,7 bilhões. Em cinco meses, assim, o déficit federal americano já superou o resultado de todo o ano fiscal anterior, US$ 454,8 bilhões. A crise provocou quedas nos lucros das empresas, o que afetou a arrecadação de impostos; além disso, o governo americano aprovou em outubro do ano passado um pacote de US$ 700 bilhões, dos quais US$ 350 bilhões já foram gastos para socorrer bancos e o uso dos outros US$ 350 bilhões já foi aprovado pelo governo. A receita com impostos ficou em US$ 87,3 bilhões, 17% a menos do que o registrado um ano antes.
No atual período fiscal até fevereiro, o governo já arrecadou US$ 860,8 bilhões, um recuo de 11% em relação ao mesmo período do ano fiscal anterior. Os gastos no mês passado ficaram em US$ 280,1 bilhões. Entre outubro e fevereiro, houve um aumento de 32% nos gastos, que chegaram a US$ 1,63 trilhão, na comparação com o mesmo período do ano anterior. No dia 3 de março, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, disse que o governo do presidente americano, Barack Obama, herdou "a pior situação fiscal da história do país". Segundo ele, do déficit de US$ 1,75 trilhão previsto para o ano fiscal de 2009 (que termina em setembro deste ano), US$ 1,3 trilhão - cerca de 10% do PIB americano - foi herdado da administração anterior, do presidente George W. Bush.
Para Geithner, recessão global está se aprofundando
Diante de um importante encontro neste final de semana em Londres, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, pediu que os países do G-20 tomem fortes medidas macroeconômicas e para o setor financeiro para lidar com a pior crise econômica em décadas. "A recessão global está aprofundando", disse Geithner. "Esta é uma crise global que pede uma resposta global." Geithner observou que os ministros de Finanças do G-20 têm dois principais itens na agenda: assegurar a recuperação e reiniciar o crescimento e renovar a regulamentação financeira internacional. O secretário do Tesouro observou que o FMI tem solicitado os países a adotarem planos de estímulo fiscal de 2% do PIB agregado para 2009 e 2010.
Ele descreveu essa medida como razoável e pediu às nações do G-20 que se "comprometam substancialmente e ações sustentadas" para lidar com a crise. Ele acrescentou que o G-20 deve pedir ao FMI que informe trimestralmente sobre os esforços dos países. Além disso, ele disse que o G-20 deve apoiar a elevação dos recursos de emergência do FMI, principalmente através da expansão dos Novos Arranjos para Empréstimos (NAB). Segundo ele, o NAB pode ser elevado a até US$ 500 bilhões.
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