Presidente se comparou a Dom Quixote ao dizer que prega o otimismo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva descartou nesta quinta-feira qualquer perspectiva de corte de investimentos por conta da crise financeira e se comparou a Dom Quixote, do livro homônimo do espanhol Miguel de Cervantes.
— Me sinto um Dom Quixote, tentando pregar o otimismo.
Segundo ele, é importante que o país não entre em clima de desespero.
— Os analistas de plantão ficam dizendo que é preciso cortar gastos, mas não dá para fazer isso num país que tem tudo por fazer. Quanto maior a crise mais é preciso investimento. Não vamos deixar de investir nenhum centavo — disse.
Lula reiterou também que "o investimento que cria posto de trabalho gera maior consumo e a roda da economia começa a girar".
— Quando pára é que vem a crise. A gente está num momento em que o funcionário público não compra porque está ouvindo falar em crise. Ele vai perder emprego justamente por não comprar, porque alguma hora isso vai estourar justamente na produção industrial — afirmou.
Ele analisou a crise, dizendo que o Brasil tem condições de superá-la tranqüilamente.
— Temos um sistema financeiro capaz de dar aula e que não está comprometido com subprime (crédito de alto risco) — completou, lembrando que o Brasil tem R$ 207 bilhões de reservas e uma dívida pública de 26% do Produto Interno Bruto (PIB), "enquanto a Itália tem 106% e os EUA, quase 70%".
— O Brasil diversificou a exportação. Tomamos a decisão de não ficar dependendo apenas de um bloco no mundo. O problema é que o mundo tem um PIB de US$ 65 trilhões, enquanto o PIB do mercado (financeiro) tinha US$ 650 trilhões. Essa diferença desapareceu. Será que este dinheiro todo que desapareceu está nas Ilhas Cayman? Se fosse, a ilha já teria afundado. Meus neurônios não conseguem entender — completou.
Crédito
Lula criticou o fato de a liberação de reservas do compulsório não terem conseguido atingir o objetivo junto ao sistema financeiro, com barateamento do crédito. Em discurso, o presidente disse que a escassez e o encarecimento atual do crédito cria uma situação temerária e obriga o governo "a agir com mais rigor". Foi o crédito caro o motivo pelo qual, segundo Lula, a Petrobras recorreu aos recursos da Caixa Econômica Federal (CEF). Em outubro, a estatal contraiu financiamento de R$ 2 bilhões na CEF.
— Disponibilizamos US$ 100 bilhões das reservas do compulsório. Acontece que esse dinheiro chega no banco — e esses são dados de uma reunião que tive ontem com o (presidente do Banco Central, Henrique) Meirelles e o (ministro da Fazenda) Guido (Mantega) e que agora nós vamos começar a discutir mais profundamente —, e como tem pouco dinheiro no sistema financeiro, fica mais caro, porque o banco escolhe clientes seis, sete, até oito estrelas. Até empresas clientes do banco têm dificuldade para pegar dinheiro — disse Lula.
Em seguida, o presidente rebateu as críticas da operação entre a Petrobras e a Caixa:
— Você pega dinheiro onde tem e onde é mais barato. Antigamente, a Petrobras pegava no Exterior porque tinha dinheiro fácil e juro mais barato, era normal. Isso está nos levando a uma situação mais temerária e está obrigando o governo a agir com mais rigor. Em época de crise a gente não se acovarda — declarou.
Lembrando que "o dinheiro desapareceu no mundo", o presidente comentou que mesmo "empresas importantes no mundo inteiro estão a procura de crédito que está cada vez mais escasso e caro" e enumerou as razões pelas quais o governo decidiu lançar mão de medidas de apoio setoriais.
— Tomamos algumas medidas há mais ou menos 30 dias que foram medidas imediatas. Resolvemos cuidar do financiamento de automóveis, porque a cadeia automobilística é muito ampla e representa 24,5% do PIB brasileiro; da agricultura, em razão da importância que tem para produzir alimentos e no fluxo da balança comercial brasileiro; da construção civil, que depois de 20 anos paralisada voltava a crescer de forma extraordinária financiada pelo setor privado para habitação da classe média; e colocamos capital de giro para as pequenas e médias empresas — afirmou.
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