Os impactos da crise do sistema financeiro mundial ainda não foram sentidos no emprego. O nível de desemprego em seis regiões metropolitanas caiu de 14,1% em setembro para 13,4% em outubro, a menor taxa para um mês de outubro desde 1998, quando teve início a série histórica, de acordo com pesquisa divulgada ontem pela Fundação Seade e Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Na região metropolitana de São Paulo, o nível de desemprego caiu de 13,5% para 12,5%, o menor nível para um mês de outubro desde 1992.
Segundo os coordenadores da pesquisa do Seade e do Dieese, a queda do desemprego no mês de outubro já era esperada e traduz um comportamento usual para o período, já que tradicionalmente, com o recebimento do 13º salário, os trabalhadores vão às compras, e tanto o comércio quanto a indústria se preparam para esse movimento contratando mais empregados. A avaliação é a de que os efeitos da crise devem ser sentidos apenas em 2009, mas se o País mantiver um crescimento econômico entre 3% e 3,5% e adotar medidas que mantenham o consumo interno, o crédito e o investimento público, o emprego será pouco afetado.
O total de desempregados nas regiões metropolitanas de Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, Salvador, São Paulo e no Distrito Federal foi estimado em 2,6 milhões de pessoas em outubro, 141 mil a menos que no mês anterior. O rendimento médio real dos ocupados caiu 0,5% em setembro, ante agosto - último dado disponível - e passou para R$ 1.167,00. Na comparação a setembro de 2007, o salário aumentou 3,1%.
"Felizmente a crise ainda não se manifestou nos dados de emprego que pesquisamos nas seis regiões metropolitanas onde a pesquisa é realizada. O mês de outubro foi, pelo contrário, muito positivo. O que era esperado, diga-se de passagem, pois no final de ano, no Brasil, as pessoas vão às compras e o comércio fica muito ativo", disse o coordenador de pesquisas da Fundação Seade, Alexandre Loloian. "Temos ainda condições boas de crédito. Em alguns segmentos essa situação já não é mais verificada, mas de forma geral, as pessoas estão comprando." A coordenadora do Dieese, Patrícia Lino Costa, avalia que a crise pode prejudicar o nível de emprego em 2009.
No mês de outubro, o emprego cresceu 0,8% em relação a setembro e 5% ante outubro de 2007 nas seis regiões metropolitanas - Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, São Paulo e Distrito Federal. O desemprego caiu em todas as regiões, exceto no Distrito Federal, onde passou de 15,8% em setembro para 16% em outubro, e em Salvador, onde subiu de 19,7% em setembro para 20,4% em outubro.
Na comparação com outubro de 2007, somente em Recife se verifica uma variação positiva no desemprego, de 0,5%. Todas as demais regiões pesquisadas tiveram queda no desemprego, com destaque para Belo Horizonte (-21,7%), Porto Alegre (-14,5%) e São Paulo (-13,2%), com redução acima da média das seis regiões (-10,7%).
Região Metropolitana gaúcha tem recuo de 5,4%
A taxa de desemprego de 10,6% em outubro é a mais baixa para o mês na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) em 16 anos, período que engloba toda a série histórica da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED). O índice recuou 5,4% em relação a setembro e 14,5% ante o mesmo mês de 2007. O indicador somado aos níveis considerados elevados de ocupação, que foi de 7,7% no mês passado, estão garantindo blindagem do mercado de trabalho na região à crise, conforme a coordenação da pesquisa, que reúne Dieese, Fundação de Economia e Estatística (FEE) e Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (FGTAS).
Indústria e serviços, com 6 mil e 11 mil novas vagas, respectivamente, puxaram a geração de postos no mês passado, que totalizou 15 mil novos empregos. Em 12 meses, a conta é de 130 mil. Comércio, com criação de 1 mil oportunidades, decepcionou. O economista da FEE Roberto da Silva Wiltgen avalia que os lojistas podem ter adiado para novembro a maior oferta de empregos temporários. "Eles podem ter esperado para identificar o comportamento da demanda", completa Wiltgen. Construção civil, que vinha puxando o mercado e que responde por 5,2% dos ocupados, teve queda de 1 mil postos em outubro.
Em 12 meses, os serviços foram imbatíveis, respondendo por 113 mil dos 130 mil postos novos. Já comércio contribuiu com 13 mil vagas e a indústria, com 12 mil. A conta fecha com a queda de 8 mil ofertas em outros segmentos, como serviços domésticos.
Comércio foi o que menos contratou
O segmento do comércio foi o único a registrar queda nas contratações (-0,5%), mas o resultado é considerado normal, já que o setor costuma fazer contratações temporárias para o final do ano somente nos meses de novembro e dezembro, ainda que, muitas vezes, sem carteira assinada. Em função das expectativas de que a crise diminua as compras dos brasileiros, a coordenadora do Dieese, Patrícia Costa, afirmou que é possível que as contratações no comércio ocorram em uma intensidade menor.
Os setores da construção civil e da indústria tiveram os melhores resultados, com crescimento de 2,9% e 1,5% em outubro ante setembro. O emprego na área de serviços teve uma elevação mais modesta, de 0,7%, mas o setor possui o maior peso entre os segmentos. Para se ter uma idéia, a construção civil, com a maior alta mensal, contratou 28 mil pessoas em outubro, totalizando 992 mil empregados. Já a área de serviços contratou 63 mil trabalhadores no mês, totalizando 9,4 milhões de ocupados.
Na indústria, foram contratadas 41 mil pessoas no mês, totalizando 2,7 milhões de ocupados. No comércio, 13 mil foram demitidos, totalizando 2,7 milhões de ocupados. Já o segmento outros serviços, que inclui trabalho doméstico, teve alta de 1,2% no emprego em outubro, com 18 mil novas contratações, totalizando 1,4 milhão de ocupados.
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