O Banco do Brasil vai propor ao governo uma profunda reforma no sistema de crédito rural, a fim de deixar o agronegócio menos exposto às oscilações do mercado financeiro e também mais atrativo para investidores. Entre os principais itens que estarão na proposta, que deverá estar pronta no início de 2009, estão o volume de recursos a serem aplicados no setor, a taxa de juros cobrada nos financiamentos, a definição de uma política de garantia de renda e a ampliação dos agentes financiadores do agronegócio.
Segundo o vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil, Luis Carlos Guedes Pinto, a idéia é reunir um pequeno grupo de representantes do setor privado, especialistas em crédito rural e executivos do BB para discutir a proposta ainda este ano. "Isso aconteceria durante seminário para elaborar as mudanças necessárias", disse Guedes Pinto.
O ex-ministro da Agricultura lembrou que é preciso diversificar as fontes de financiamento do agronegócio, que hoje se concentram entre recursos dos próprios agricultores, linhas tomadas junto às tradings e os financiamentos do governo. "Hoje, as fontes de recursos controlados estão aquém das necessidades do setor. Os produtores são obrigados a recorrer às tradings que cobram taxas elevadas para financiar o setor", disse Guedes Pinto.
Estudos preliminares do Banco do Brasil mostram que o custo médio para se plantar uma safra no Brasil está muito além dos 6,75% ao ano, mesmo nas regiões com uma estrutura logística adequada. Segundo Guedes Pinto, um produtor da região Sul do Brasil tem um custo médio de 15% ao ano para financiar o plantio de sua lavoura, enquanto na região Centro-Oeste o custo sobe para 21%. "O custo real está acima, inclusive, da Selic. Precisamos disseminar o uso do seguro rural e do seguro de renda para que esse custo seja reduzido", afirma.
O ex-ministro também defendeu que, assim como no seguro da produção, o governo também subsidie o prêmio do seguro de renda, como as opções e outros mecanismos de hedge. "Atualmente, 50% dos recursos de custeio do Banco do Brasil já têm seguro de produção. Para o governo, sai mais barato subsidiar os seguros de renda e de produção do que fazer renegociação de dívida", afirma Guedes Pinto.
Na avaliação do coordenador do Centro de Agronegócios da FGV, Roberto Rodrigues, o que diferencia o Brasil dos demais países produtores da Europa e dos Estados Unidos, é a garantia de renda que os governos concedem aos seus produtores. "Garantindo renda, nenhum banco vai ter medo de emprestar dinheiro aos agricultores porque sabem que eles terão condições de pagar", afirma Roberto Rodrigues.
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