O chanceler Celso Amorim discute a partir de hoje na Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra, estratégias para garantir um melhor acesso de exportadores a créditos e evitar, assim, que a crise financeira interrompa os fluxos de exportação. Dados preliminares da OMC apontam que nem o Natal deve salvar o comércio mundial de uma estagnação.
A entidade projeta uma interrupção do crescimento dos fluxos mundiais nos últimos três meses do ano. A estagnação, se confirmada, será a primeira em sete anos. A OMC, inspirada em uma proposta brasileira, convocou o Fundo Monetário Internacional, bancos e até o Bndes para uma reunião no dia 12 com o objetivo de debater formas de destravar o comércio. O Brasil, segundo analistas, seria um dos países mais atingidos por uma falta de crédito de exportação para o setor de commodities. Não por acaso, Amorim quer discutir com o diretor da OMC, Pascal Lamy, formas de facilitar esse acesso a créditos e flexibilizar condições para que o comércio não seja ainda mais afetado.
Na OMC, a estimativa era de que o comércio mundial teria um crescimento de 4,5% em 2008. No primeiro semestre, o economista da entidade, Micheal Finger, garante que a taxa ainda foi positiva. Mas o terceiro trimestre já demonstrou uma forte queda. "Para o quarto trimestre, não deveremos ter crescimento", alertou. Há mesmo a possibilidade de que, em volumes, o comércio sofra uma queda real. A desaceleração nos Estados Unidos e Japão, além da recessão em algumas das maiores economias da Europa, está reduzindo de forma importante as demandas.
A quebra de empresas de brinquedos na China é, para a entidade, um sintoma dos problemas. Os chineses são hoje os maiores fabricantes de brinquedos do mundo e a falência de uma empresa em plena época de contratos fechados para o Natal é considerada como reveladora. Na Europa, empresas de carros fecham suas portas por algumas semanas diante da demanda fraca. "Nos Estados Unidos, as perspectivas são de um Natal com vendas 2% abaixo do que vimos em 2007", afirmou Finger.
No setor de cargas, as evidências já são claras de que há uma contração do comércio. A América Latina sofreu a maior queda em todo o mundo no fluxo de cargas aéreas em setembro, indicando que as exportações podem sofrer de forma dura nos próximos meses. Os dados são das 240 principais empresas aéreas do mundo que registram uma queda de 14,6% no transporte internacional de cargas da América Latina em comparação ao mesmo período do ano passado.
No mundo, a queda é de 7,7% no fluxo internacional. Na Ásia, a redução foi de 10,6%, contra 6,8% na Europa e 6% nos Estados Unidos. Os índices apontam que haverá certamente uma redução nos fluxos do comércio internacional no mês de setembro. No caso do Brasil, os dados preliminares da OMC apontam que as importações estão crescendo a um ritmo bem mais elevado que as exportações. "No terceiro trimestre do ano, as importações aumentaram em 57%, contra uma alta de 39% das exportações", alertou Finger.
Corte na produção de petróleo ainda não se reflete nos preços
O presidente da Organização dos Países Produtores do Petróleo (Opep), Chakib Khelil, disse, ontem, que a decisão de reduzir a produção de petróleo em 1,5 milhão de barris por dia, a partir de primeiro de novembro, não irá produzir um suporte imediato aos preços do combustível. Segundo ele, a decisão irá demorar para fazer efeito porque a demanda por petróleo ainda não atingiu o nível de produção revisto pela Opep.
Em uma reunião de emergência realizada em outubro em Viena a Opep decidiu reduzir sua produção diária para 27,3 milhões em uma aposta para evitar novas quedas nos preços. "Países como Argélia, União dos Emirados Árabes, Irã e Nigéria já anunciaram uma queda na produção", disse. Apesar das críticas dos Estados Unidos e Inglaterra ao corte, o ministro de Energia da Venezuela, Rafael Ramirez, disse que o cartel precisa reduzir em mais 1 milhão de barris de suas reversas em dezembro ou ainda este mês.
Khelil afirmou que os preços devem cair ainda mais se a economia mundial continuar se deteriorando. "Tudo depende da situação econômica global. Se ela continuar ruim, está claro que a demanda por petróleo irá recuar, o que deverá afetar ainda mais os preços", disse. Mas o executivo afirmou também que os preços do petróleo podem voltar a subir se o dólar norte-americano voltar a se enfraquecer ante as demais moedas.
|