Nem mesmo a alta dos preços dos fertilizantes ou a diminuição da oferta de crédito reduziram o otimismo dos produtores na hora de plantar. De acordo com o primeiro levantamento da safra de grãos, ciclo 2008/09, divulgado ontem pela Conab, a área semeada no Brasil crescerá entre 1,2% e 2,7% em relação ao período anterior, ou seja, as lavouras vão ocupar entre 47,9 milhões e 48,6 milhões de hectares.
Com essa expansão, a colheita de alimentos deverá bater outro recorde histórico, se confirmado o intervalo superior. A projeção é de 142,03 milhões a 144,55 milhões de toneladas. A produção anterior foi finalizada em 143,8 milhões de toneladas. Segundo o presidente da estatal, Wagner Rossi, o comportamento dos preços das commodities agrícolas tem mantido o interesse do agricultor pelos grãos. "Apesar da queda dos preços e do aumento dos custos de produção, o agricultor eficiente ainda vislumbra a possibilidade de bons resultados. Isso mantém uma nova esperança."
O presidente da Farsul, Carlos Sperotto, no entanto, questiona esse crescimento, argumentando que a região Centro-Oeste deve sofrer queda produtiva, com a diminuição do uso de tecnologia no campo motivada pela alta dos insumos. "Além disso, ao contrário do que afirma o ministro, os financiamentos não estão fluindo. Pode haver liberação de crédito, mas os produtores não estão conseguindo acessar. E como não somos assaltantes de bancos, continuamos sem recursos", protestou.
O consultor econômico da Fecoagro/RS, Tarcísio Minetto, acrescenta que, frente à situação de crise que abala o sistema financeiro mundial, fica difícil acreditar em nova safra recorde. Para ele, os números apontados pela Conab seriam viáveis se estivéssemos com os mesmos valores das commodities verificados no início do ano e sem o problema de crédito que as tradings, especialmente as que trabalham com de fertilizantes, estão enfrentando. "A única certeza que temos é de pico de custos de produção, o que pode retrair o produtor. O momento é de pé atrás, pois pode até mesmo ocorrer queda de produção em comparação à safra passada."
No Rio Grande do Sul, o crescimento de área no caso do arroz pode chegar a 3%, saltando de 1,06 milhão de hectares para 1,09 milhão. A produtividade do cereal deve apresentar leve queda, de 6,9 toneladas por hectare para 6,8 toneladas, ou 0,8% a menos. Quanto à produção, a Conab estima a possibilidade de chegar a 7,5 milhões de toneladas contra os 7,3 milhões da safra passada, incremento de 0,2%. Sperotto avalia que o aumento se dará por maior disponibilidade de água e não por vontade dos produtores. "Os números estão dentro da previsão do setor e refletem lavouras com mais tecnologia e melhor fertilização."
Na soja, a estimativa da Conab também é de incremento de área, de 3,83 milhões de hectares para 3,91 milhões, aumento de 2%. A produtividade tende a subir de 2 toneladas para 2,1 toneladas por hectare, aumento de 3,6%. A produção promete salto de 7,77 milhões de toneladas para 8,21 milhões de toneladas, aumento de 5,6%. "O aumento na soja se deve à expectativa de uma boa rentabilidade com a oleaginosa, em função da alta do dólar", avaliou o presidente da Farsul. Sperotto disse ainda que, em relação ao trigo, o bom momento é evidente, especialmente em função da seca que assola a Argentina. "As lavouras estão muito bem desenvolvidas com ótimas condições em termos de sanidade." Para o cereal, a possibilidade de aumento de área é de 816,9 mil para 980,3 mil hectares, crescimento de 20%. A produtividade sai da 1,8 tonelada por hectare para 2,1 toneladas por hectare, aumento de 14,1%. A produção salta de 1,52 milhão de hectares para 2,09 milhões, incremento de 36,9%.
A Conab também analisou a interferência do clima sobre a plantação neste último trimestre. Na região Sul, a previsão é de chuvas um pouco abaixo da média, mas sem prejuízos significativos para as culturas de inverno e verão.
No que diz respeito aos insumos, a Conab avalia que, até o final do ano, serão comercializados 26,5 milhões de toneladas de fertilizantes, crescimento de 7,7% em relação ao ano passado.
CCGL inaugura fábrica de leite em Cruz Alta
Poucos dias após a inauguração da fábrica da Nestlé, em Palmeira das Missões, agora é a vez de a Cooperativa Central Gaúcha Ltda (CCGL) descerrar a placa que marca o início das atividades da nova fábrica de laticínios da empresa, localizada em Cruz Alta. A unidade contempla a produção de leite em pó, leite evaporado e butter-oil (óleo de manteiga usado em indústrias alimentícias), e vai gerar inicialmente 300 empregos diretos. A fábrica recebeu R$ 120 milhões em recursos e deverá processar um milhão de litros de leite por dia.
"Esta planta será de extrema importância para nossas 40 cooperativas associadas que investiram nesse projeto, pois irá proporcionar uma maior rentabilidade aos produtores", afirmou o vice-presidente da cooperativa, Darci Pedro Hartmann. Ele também destacou a inovação que o empreendimento trará na questão tributária, devido à divisão do ICMS gerado entre todos os municípios que remetem leite para a indústria. "São cerca de 220 municípios que serão beneficiados, recebendo uma parcela do imposto relativa à quantidade de leite entregue", disse.
A fábrica é a primeira fase do projeto de expansão da CCGL, que investirá outros R$ 129 milhões em uma unidade de produção de queijos e secagem de soro de leite, também em Cruz Alta. Esta nova unidade gerará 555 empregos. O segundo empreendimento, que deverá entrar em operação até 2011, ampliará a capacidade de processamento da cooperativa para cerca de 3 milhões de litros de leite por dia.
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