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07/10/2008 - Bolsa pára duas vezes e fecha em baixa de 5,43%
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Os mercados reagiram com pânico à perspectiva de uma piora na crise financeira, desta vez no continente europeu. Em um dia histórico, a BM&FBovespa teve o seu pregão interrompido por duas vezes e passou a maior parte do dia com baixa de dois dígitos, encerrando a jornada em queda de 5,43%. O câmbio disparou 7,63%, para R$ 2,20, e o Banco Central interferiu, oferecendo recursos para o mercado financeiro.
O estresse dos investidores começou logo pela manhã. Pouco depois da abertura, a bolsa despencou rapidamente 10% e o mecanismo do circuit breaker foi acionado automaticamente às 10h19min para evitar oscilações ainda mais bruscas. Após meia hora de interrupção, que deveria ter servido para acalmar os ânimos, o mercado não melhorou. Em um pregão inundado por ordens de venda, o índice Ibovespa caiu 15% e o circuit breaker entrou em ação novamente, às 11h44min, desta vez por uma hora. Em menos de um mês, esse mecanismo foi utilizado três vezes - a anterior foi no dia 29. A BM&FBovespa reabriu os negócios ainda em forte queda de 11%, mas amenizou as perdas ao longo do dia, com alguns investidores voltando, aos poucos, às compras.
No fim do dia, o índice Ibovespa, que reflete os preços das ações mais negociadas, desvalorizou 5,43% e desceu para os 42.100 pontos, o menor patamar desde março de 2007. O giro financeiro foi de R$ 5,27 bilhões. No pior momento do dia, as ações líderes do mercado brasileiro, Petrobras e Vale, chegaram a amargar retração de quase 20%. No final do expediente, a ação preferencial da petrolífera caiu 3,22%, enquanto a ação da mineradora perdeu 6,80%.
O dólar comercial foi cotado a R$ 2,20 na venda, em uma forte alta de 7,63%. O mercado de câmbio atravessou o pior dia da crise dos créditos subprime, empurrando o preço da moeda norte-americana para seu maior patamar desde 25 de setembro de 2006. A disparada é a maior desde 29 de janeiro de 1999, época em que o regime cambial estava em processo de mudança. Os investidores reagiram nervosamente ao noticiário do final de semana, que mostrou a piora da crise financeira, desta vez, no sistema bancário europeu. "Já em setembro, nós começamos a ver algumas instituições financeiras européias com problemas, precisando de ajuda dos governos. O pânico de ontem dos mercados tem um pouco disso, mas também das notícias de sexta-feira", avaliou o economista do Banco Real, Cristiano Souza.
Há semanas, o mercado observava problemas no sistema financeiro europeu, mas, neste final de semana, os investidores realmente ficaram tensos com a notícia da situação quase falimentar do banco alemão Hypo Real Estate (HRE). Para escapar da quebra, o HRE teve que ser salvo por uma operação conjunta entre o governo alemão e bancos privados. Especializado em hipotecas, o HRE também foi afetado em suas contas por carregar os problemáticos créditos imobiliários norte-americanos que estão no centro da crise financeira que abala a economia mundial desde o ano passado. A situação do HRE reforça a percepção de que as instituições financeiras européias seguem pelo mesmo caminho dos bancos norte-americanos, que anunciaram rombos bilionários e, ou foram engolidos por outros bancos, ou tiveram que ser socorridos pelo governo local. O Banco Central voltou a intervir no câmbio e realizou um leilão de swap cambial, que funciona como uma venda de dólares no mercado futuro e poderia suavizar o ritmo de alta das cotações. A medida foi anunciada após a cotação do dólar ultrapassar a casa dos R$ 2,15. O BC colocou US$ 1,468 bilhão no mercado financeiro, cerca da 70% da oferta inicial. Analistas afirmaram que a alta de ontem foi bastante especulativa, com alguns agentes financeiros que aproveitaram o pânico generalizado para puxar as cotações.
Para especialistas, o preço da moeda norte-americana não se sustenta nesse patamar num prazo mais alongado. O boletim Focus, preparado pelo BC, mostrou que a maioria dos economistas de bancos e corretoras revisou para cima suas projeções para a taxa de câmbio em dezembro - de R$ 1,70 para R$ 1,80 no final deste ano; e de R$ 1,77 para R$ 1,82 em dezembro de 2009. A taxa de risco-país marca 395 pontos, número 10,95% mais alto que a pontuação anterior.

Mercados mundiais despencam em seqüência
A exemplo da BM&FBovespa, as principais bolsas mundiais também fecharam com fortes quedas ontem. No mercado norte-americano, o índice Dow Jones, da bolsa de Nova Iorque, encerrou abaixo dos 10 mil pontos pela primeira vez desde 26 de outubro de 2004. Refletindo o sentimento de que o pacote de socorro de US$ 700 bilhões aprovado na semana passada pode não ser suficiente para garantir a saúde das instituições financeiras e em reação a quedas nas bolsas globais que eliminaram US$ 2,2 trilhões em valor de capitalização dos mercados, o Dow chegou a cair 800 pontos durante o dia, o que foi sua maior queda intraday de todos os tempos e, caso se sustentasse, seria a maior queda em pontos em um único dia. A recuperação, na última hora do pregão, foi atribuída ao sentimento de que o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) reduzirá agressivamente as taxas de juro de curto prazo, talvez antes mesmo da reunião regular marcada para 28 e 29 de outubro.
As bolsas européias terminaram em queda, com alguns índices atingindo níveis registrados pela última vez em 2004, em meio a temores sobre o setor financeiro e o receio de uma recessão econômica em escala mundial. Na Ásia, a bolsa de Hong Kong atingiu seu pior nível em mais de dois anos. As notícias de problemas em várias empresas européias também mexeram com o humor dos investidores. Papéis do setor imobiliário estiveram novamente entre os mais afetados, por causa de preocupações sobre a queda nos preços dos imóveis.

Indústria de fundos perdeu
R$ 11,6 bilhões em setembro
A indústria brasileira de fundos perdeu R$ 11,6 bilhões em setembro ou 1,01% do patrimônio líquido, de acordo com dados divulgados ontem pala Associação Nacional dos Bancos de Investimentos (Anbid). No período, a indústria de fundos registrou R$ 132,5 bilhões de aplicações e R$ 144,1 bilhões em resgates. Num mês de alta turbulência no mercado financeiro, os fundos de ações tiveram captação líquida negativa (saques maiores que depósitos) inferior à observada pelos fundos de curto prazo, pelos multimercados e pela categoria de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (Fidcs).
Dados da Anbid apontam que os fundos de curto prazo apresentaram a melhor rentabilidade do mercado em setembro, com 1,09% em média - o retorno foi ponderado pelo patrimônio líquido. Com o resultado, a rentabilidade no ano atingiu 8,75% ou 99,8% do CDI. No quesito rentabilidade, houve destaque para os fundos cambiais, com 16,31%. A categoria de fundos Dívida Externa rendeu 16,81%.





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