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01/10/2008 - Bush implora ao Congresso que aprove o socorro financeiro
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O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, tentou assegurar ontem aos EUA que o Congresso aprovará o pacote de US$ 70 bilhões para resgatar o sistema financeiro e advertiu que se isso não ocorrer milhões de pessoas sofrerão conseqüências penosas e duradouras nas suas vidas. Bush falou ontem com os candidatos à presidência dos EUA, o democrata Barack Obama e o republicano John McCain, e também com líderes dos dois partidos no Congresso. Apesar de o Congresso ter rejeitado o pacote na segunda-feira, a idéia é reapresentá-lo para voto em breve, possivelmente amanhã, quando acaba o feriado do Ano Novo Judaico.
"A realidade é que nos encontramos numa situação urgente e que as conseqüências irão piorar a cada dia se não atuarmos", disse Bush. Ele insistiu que o Congresso "deve atuar" e a economia espera "medidas decisivas da parte do governo". Bush assegurou que esse não é o final do processo legislativo.
Obama e McCain, por sua vez, pediram ao Congresso dos EUA que redobre seus esforços para salvar o projeto de pacote de resgate ao sistema financeiro. Ambos indicaram que uma parte fundamental do projeto seria aumentar a garantia federal aos depósitos bancários, de US$ 100 mil para US$ 250 mil. Isso aumentaria a confiança nos bancos, que está muito baixa. Eles fizeram a sugestão em separado e não em comunicado conjunto. Segundo Obama, será "catastrófico" se o pacote não for aprovado em breve. De acordo com ele, o Congresso precisa trabalhar sobre o projeto rejeitado na segunda-feira ao invés de começar do zero.
McCain, por sua vez, pediu ao Tesouro dos EUA que com-pre US$ 1 trilhão em hipotecas, lembrando que a crise imobiliária e as hipotecas "estão na raiz dessa crise". Segundo McCain, o Tesouro pode fazer isso sem a autorização do Congresso.
Em resposta ao apelo de Bush, a líder da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, e o líder da maioria democrata no Senado, Harry Reid, disseram que trabalharão com os republicanos "sem mais atraso" na elaboração de um projeto de lei bipartidário.
Bush reconheceu que "é uma votação difícil para os congressistas" e que muitos deles vêem com receio os acontecimentos econômicos. Mas ele enfatizou que o país "está em uma situação urgente, na qual as conseqüências pioram a cada dia. Se a nossa nação continuar nesse caminho, o impacto sobre a economia será longo e sofrido".
Bush mencionou a espetacular queda da Bolsa de Valores de Nova Iorque e das principais praças financeiras do mundo, na segunda-feira, com um exemplo do que poderá ocorrer se o pacote não for aprovado. Segundo ele, a Casa Branca está e estará em contato permanente com os líderes do Congresso durante o recesso que começou ontem e termina hoje.
O pacote foi rechaçado segunda-feira por 228 votos contrários e 205 favoráveis. Dois terços dos congressistas republicanos (133) votaram contra o pacote. Nesta terça-feira, McCain fez um apelo para que os republicanos sigam trabalhando com os democratas, até que um plano aceitável a todos esteja pronto.

Senado deve votar o pacote no final
da tarde de hoje
O Senado dos EUA pretende votar hoje uma versão revisada do pacote de socorro às instituições financeiras. A medida a ser votada vai incluir a elevação do limite de depósitos garantidos pela Corporação Federal de Seguro de Depósitos (FDIC) de US$ 100 mil para US$ 250 mil, além da prorrogação de créditos fiscais para empresas e para projetos de energia renovável.
Um assessor da bancada do Partido Democrata disse que a votação deverá acontecer depois do pôr-do-sol desta quarta-feira, quando termina o Ano Novo judaico. Não é comum que o Senado vote um projeto antes que a Câmara, que rejeitou o pacote nesta segunda-feira, volte a examinar a questão.
Os líderes da bancada do Partido Republicano no Senado estão discutindo a possibilidade de incluir a prorrogação de cortes de impostos na nova versão do pacote. O líder da minoria no Senado, Mitch McConnell, conversou sobre essa idéia com outros senadores e estaria buscando apoio da liderança do Partido Democrata na Câmara. Um porta-voz do líder da maioria Democrata recusou-se a comentar a possibilidade de inclusão de medidas sobre impostos no pacote.

Renovação do otimismo eleva o Ibovespa
O pânico que tomou conta dos negócios na segunda-feira foi substituído ontem por uma trégua, favorecida pela percepção de que o Congresso americano ainda aprovará o pacote de socorro ao sistema financeiro, com uma nova proposta que está sendo negociada entre governo e parlamentares. Com isso, os investidores patrocinaram uma "correção técnica" que levou a Bovespa a superar 7% de ganhos.
O Ibovespa terminou a sessão em alta de 7,63%, aos 49.541,27 pontos, na máxima pontuação do dia. Na mínima, ficou estável, aos 46.026 pontos. No mês, acumulou baixa de 11,03%, a maior queda desde os 11,44% de abril de 2004. Foi o quarto mês consecutivo de baixa, o que significa dizer que a Bovespa acumula no ano até setembro retração de 22,45%. O giro financeiro totalizou R$ 4,874 bilhões. Os dados são preliminares
Em Wall Street, o Dow Jones fechou em alta de 4,68%, aos 10.850,66 pontos, o S&P teve elevação de 5,27%, aos 1.164,74 pontos, e o Nasdaq subiu 4,97%, aos 2.082,33 pontos.
A terça-feira foi de correção no mercado cambial brasileiro, onde o dólar recuou frente ao real. No balcão, a cotação caiu 3,30%, a R$ 1,9020 - de R$ 1,8950 na mínima e R$ 1,9390 na máxima. Na roda da BM&F, o pronto cedeu 3,15%, a R$ 1,9040 - após oscilar de R$ 1,895 a R$ 1,939.
Logo cedo, depois de remoer a inesperada derrota no Congresso, o presidente dos EUA, George W. Bush fez um pronunciamento apelando para a aprovação de um novo socorro ao sistema financeiro (matéria abaixo). Isso ajudou a reforçar a percepção de que alguma coisa, qualquer que seja ela, vai ser aprovada para ajudar a dissipar o nó que se formou no sistema financeiro. Por causa disso, os analistas também consideraram que a intervenção no banco franco-belga Dexia por três governos europeus foi acertada por ter sido rápida. São nuances da crise onde um dia uma notícia é negativa e em outro, a mesma informação pode ter conotação favorável.
Segunda-feira, por exemplo, o banco Bradford & Bingley foi estatizado pelo Reino Unido, o belgo-holandês Fortis precisou receber socorro dos governos da Bélgica, de Luxemburgo e da Holanda e o alemão Hypo Real foi resgatado por um consórcio de bancos. E nada disso foi visto como positivo. Mas, ontem, a ação dos governos da Bélgica, França e Luxemburgo ao injetar US$ 9,19 bilhões no Dexia foi considerada ágil e agradou.
Os analistas também passaram a considerar que os BCs globais vão cortar suas taxas de juros para tentar injetar ânimo no sistema. E, se isso realmente acontecer, a demanda volta a crescer. Com isso, o petróleo subiu. Na Nymex, o contrato para novembro avançou 4,43%, para US$ 100,64.
No Brasil, a Petrobras ON subiu 6,89% e fechou o mês com perda de 1,03%. A Petrobras PN avançou 7,18% (+0,57% em setembro), a Vale ON, +8,14% (-15,92%) e a PNA +7,95% (-13,92%). A BM&FBovespa liderou os ganhos do Ibovespa ao subir 17,08% ontem, mas perdeu 31,67% em setembro. A Petrobras informou à Agência Nacional do Petróleo ter descoberto óleo em pelo menos mais duas áreas, uma na Bahia e outra no Espírito Santo.

Crise leva BB a administrar crédito às empresas com prudência
Com a restrição do crédito externo, o Banco do Brasil está administrando com prudência a oferta de linhas de comércio exterior para as empresas no Brasil. "O BB está atendendo o número possível de empresas", disse o presidente do BB, Antonio de Lima Neto. O BB admitiu que a demanda pelas linhas do banco aumentou substancialmente, enquanto a oferta de crédito internacional diminuiu devido ao agravamento da crise. Empresas que tradicionalmente tomavam empréstimos em outros bancos estão procurando o BB, que nos últimos dias tem assumido a liderança no financiamento das operações de comércio exterior.
O Banco do Brasil assegurou que não há discriminação, embora tenha montado uma engenharia financeira para administrar a demanda por recursos. A estratégia foi a de reduzir o volume de recursos emprestado a cada uma das empresas que procura a instituição e, assim, atender a um maior número de companhias. As taxas das linhas aumentaram e os prazos encurtaram. Mas o volume global é o mesmo, afirma o BB. O que tem sido feito até agora é um gerenciamento para atender às demandas para rolagem de linhas comerciais em outras instituições.
Líder na oferta de crédito no comércio exterior, o BB tem uma participação entre 25% e 30% do mercado. No primeiro semestre, o banco tinha 27% das operações de câmbio exportação e, 24% de importação. Com a demanda aquecida, essa participação deve subir no segundo semestre. Durante esse processo de escassez de recursos no mercado externo, a instituição tem mantido contato permanente com as 66 instituições financeiras no exterior com as quais têm contrato para o fornecimento de linhas de comércio exterior. Embora estejam mais escassas e com custo mais alto, as linhas, segundo o BB, estão sendo renovadas diariamente. Mas admite que há bancos que não estão renovando as linhas.

Pela primeira vez o presidente Lula se diz apreensivo, mas garante recursos
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, pela primeira vez, que está apreensivo com a crise internacional, mas garantiu que, apesar do risco de escassez de crédito, não faltarão recursos para os projetos financiados pelas instituições oficiais. Ao lado do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, com quem se reuniu pela manhã, Lula afirmou que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) continuará e que não faltarão recursos ao Banco do Brasil e ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social para o financiamento das exportações. "Nós não vamos permitir que faltem recursos para as coisas que temos de cumprir", afirmou. "No Brasil, nós vamos tomar cuidado para que a coisa não aconteça. O PAC vai continuar funcionando. E as obras de infra-estrutura vão continuar acontecendo", completou.
O presidente, no entanto, aumentou o tom de preocupação que vem manifestando ao avaliar os efeitos da crise na economia brasileira. Embora ressaltando que o País tem condições melhores do que no passado de enfrentar a turbulência, ele confessou estar apreensivo com a escassez de crédito no mercado mundial.
"Eu poderia dizer que sou um homem que hoje está tranqüilo, acompanhando (a crise) com apreensão", afirmou. "É como se eu recebesse a notícia de que um amigo meu está internado no hospital. Eu não estou doente, mas fico apreensivo com o que pode acontecer. Eu estou apreensivo com a crise porque o Brasil é um país exportador, porque o País quer continuar crescendo."
Lula admitiu que a crise financeira americana é "muito séria, e tão profunda que não sabemos o seu tamanho". "Talvez, seja uma das maiores que o mundo já enfrentou", avaliou. Para ele, é necessário "juízo e responsabilidade" para que as economias continuem em rota de crescimento.
Mantendo o tom que empregou na semana passada, Lula insistiu que não seria justo que o Brasil e as economias menores fossem sacrificadas porque o sistema financeiro americano portou-se como um cassino. "Nós fizemos a lição. Eles (os Estados Unidos), não, e passaram as últimas três décadas nos dizendo o que tínhamos de fazer", afirmou. "Por ironia do destino, a crise agora é dos países ricos, e os países emergentes é que estão sustentando o crescimento econômico mundial", completou. Para o presidente, este é o momento de se acreditar no Brasil e no seu mercado interno. "Temos de acreditar que não seremos vítimas, como fomos outras vezes, e ao mesmo tempo torcer para que os americanos resolvam o problema", declarou.
Lula voltou a atribuir ao clima eleitoral a decisão da maioria do Congresso americano de rejeitar o pacote de ajuda de US$ 700 bilhões ao setor financeiro e manifestou esperança de que as medidas acabem sendo aprovadas.
"Torço para que o governo, o Congresso, os empresários e o povo americano encontrem logo uma saída e não permitam que as eleições atrapalhem as decisões para que a crise não aprofunde os problemas em outros países", afirmou. "Ao mesmo tempo, quero o bem do povo americano. Ninguém merece uma crise. São mais de 340 mil famílias que perderam suas casas nos EUA", completou. O presidente informou ainda que vai manter reuniões periódicas com os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Desenvolvimento, Miguel Jorge, além do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, para avaliar o andamento da crise e seus efeitos na economia brasileira. Rejeitou, no entanto, a interpretação de que tenha criado "um gabinete de crise".
"Não existe uma espécie de gabinete de crise. Eu é que sou um curioso por economia desde que era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Eu tenho, não sei se o defeito ou a virtude, de sistematicamente, convidar o ministro da Economia e o presidente do BC para conversa. Mas não é de agora, não. É de sempre", afirmou.

Bndes contará com verba do FGTS para empréstimos

Preocupado com o "sumiço" das linhas de crédito no mundo inteiro em decorrência da crise, o governo decidiu reforçar ainda mais a posição do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. O banco deverá receber R$ 7 bilhões que estão no Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS). Esse fundo usa parte dos recursos do FGTS para financiar a infra-estrutura.
O aporte de R$ 7 bilhões será adicional aos R$ 15 bilhões que o Tesouro já vem entregando ao banco em parcelas, com base em medida provisória editada no final de agosto. O reforço faz parte da estratégia definida pelo governo quando a crise começou a se agravar. A idéia é concentrar esforços para assegurar que não falte dinheiro para quatro áreas: exportação, agricultura, Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e ao próprio Bndes. Com o banco forte, o governo espera preservar os investimentos privados na economia e manter o ciclo de crescimento. Ontem, o vice-presidente José Alencar saiu em defesa do Bndes. "É um banco raro. São poucos os (bancos) que têm seus recursos e (estão) emprestando a 6,25% ao ano." O percentual corresponde à Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP). Esses aportes ao Bndes já estavam decididos antes de o Congresso americano rejeitar o pacote de ajuda aos bancos e lançar os mercados financeiros em um clima de pânico. Com a piora do quadro, o governo já estuda medidas adicionais, informou o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Elas, porém, só serão anunciadas quando o quadro estiver mais claro.





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