Apesar de ter apresentado alta de 11% em julho em relação ao mesmo mês do ano passado, as vendas no varejo dão sinais de desaceleração em decorrência da alta no preço dos alimentos e dos juros. É o que afirmou ontem o técnico da coordenação de serviços e comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Reinaldo Pereira, para quem os juros estão afetando o comércio de "forma lenta". Após quatro meses consecutivos de alta na evolução mensal, as vendas caíram 0,2% em julho em relação a junho. No ano, as vendas do varejo acumulam alta de 10,6% e em 12 meses, de 10,2%.
Segundo ele, os dados do comércio varejista de julho mostram uma acomodação do setor, mas os resultados do índice de média móvel trimestral apontam uma tendência de desaceleração no crescimento das vendas. O índice de média móvel trimestral do comércio varejista mostrou um aumento de 0,63% no trimestre encerrado em julho, ante o terminado em junho, segundo divulgou há pouco o IBGE. O resultado é inferior aos índices de média móvel apurados no varejo em junho (0,84%) e em maio (0,99%).
"O que pode estar influenciando esses resultados é a inflação dos alimentos e o aumento da taxa de juros", disse Pereira. Segundo ele, mesmo com os sinais de que os juros já afetam o varejo, a continuidade do cenário de aumento da massa salarial e da ocupação, com crédito forte e longos prazos de pagamento, pode fazer com que a atual tendência de desaceleração não se confirme nos próximos resultados do setor.
Pereira acredita que o Banco Central (BC) reduzirá o nível de alta da taxa Selic para "0,50 ou 0,25 ponto" na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), mas alerta que, mesmo se a taxa continuar subindo com mais vigor, dificilmente o varejo vai desacelerar intensamente se não houver redução nos prazos de pagamento.
Desde abril deste ano, o Copom vem elevando a Selic. Entre abril e este mês, o juro básico no País passou de 11,25% ao ano para os atuais 13,75% ao ano, o que representa uma elevação de 2,5 pontos percentuais. "O consumidor está mais preocupado com o valor das parcelas; a ampliação da classe média significa uma demanda reprimida, se não houver redução nos prazos de pagamento, mesmo com alta de juros, a desaceleração no comércio será muito lenta", avaliou.
Das dez atividades do comércio varejista pesquisadas pelo IBGE, quatro registraram queda nas vendas em julho em relação ao mês anterior: hiper, supermercados e produtos alimentícios (-0,2%); tecidos, vestuário e calçados (-3,0%); equipamentos de escritório e informática (-1,7%) e livros, jornais e papelaria (-0,5%). A maior alta foi apurada em outros artigos de uso pessoal e doméstico (3,9%, incluindo lojas de departamento).
Na comparação com julho do ano passado, todas as atividades registraram expansão, com destaque para veículos e motos (26%); outros artigos de uso pessoal e doméstico (21,3%) e equipamentos de informática (20,6%). A atividade de hiper, supermercados e produtos alimentícios, que tem maior peso na pesquisa, registrou aumento de 5,4% nas vendas, nessa base de comparação
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