Com empreendimentos residenciais lançados diariamente por todo o País, o boom da construção civil traz a reboque forte aumento na demanda dos fornecedores. Isto pode ser verificado na siderurgia, por exemplo. As exportações de produtos laminados deverão ser reduzidas, em 2008, de 5,2 milhões para 3,6 milhões de toneladas, a fim de atender ao aumento da demanda interna, informa o Instituto Brasileiro de Siderrgia (IBS). As importações, por sua vez, devem passar de 1,6 milhão para 1,8 milhão de toneladas, por conta da maior necessidade de produtos sem oferta nacional ou com interrupção de abastecimento por questões de programação. Este é apenas um exemplo da reação do mercado fornecedor ao aquecimento da construção civil.
Outro exemplo vem do cimento. A Votorantim, empresa líder no mercado brasileiro, com mais de 40% de participação, anunciou recentemente a aplicação de R$ 1,45 bilhão em recursos para a construção de mais quatro fábricas integradas nos estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso e no Distrito Federal, a fim de aumentar sua capacidade de produção. Estas unidades vão somar-se ao plano de expansão anunciado pela empresa em agosto de 2007, que contempla mais R$ 1,7 bilhão para a construção de quatro novas fábricas de cimento em Tocantins, Rondônia, Rio Grande do Norte e Santa Catarina, além de cinco novas moagens, modernizações, ampliações e reativações de diversas outras unidades. O total investido pela Votorantim Cimentos soma R$ 3,2 bilhões, e deverá elevar em 60% a sua capacidade de produção até 2011, passando dos atuais 25 milhões para 39 milhões de toneladas anuais.
Na região Sul do País, além da nova fábrica em Santa Catarina, que será localizada no município de Vidal Ramos, a Votorantim deve reativar a unidade gaúcha de Pinheiro Machado e instalar uma nova linha de produção na planta de Rio Branco do Sul, no Paraná. Com isto, a companhia espera aumentar a produção de cimento na região de seis milhões de toneladas anuais para 10 milhões de toneladas por ano até 2011.
Outra empresa que está se expandindo devido à onda de bons negócios do setor é a Tecmold, de Gravataí. Fabricante de blocos e pisos de concreto pré-moldados para a construção civil, a indústria está aumentando em 100% a capacidade de produção de sua fábrica, além de investir na aquisição de um moderno equipamento norte-americano que dobra a capacidade de execução dos atuais 1,8 milhão de blocos por mês.
Segundo Luis Antônio Póvoas, diretor da Tecmold, esta modernização da infra-estrutura e do processo de produção tem como objetivo atender à demanda dos crescentes lançamentos imobiliários no Estado, que estarão em execução em 2009. "A previsão é de que em função do crescimento do mercado da construção no Estado e dos investimentos feitos pela Tecmold este ano, a empresa crescerá 40% em 2008", disse Póvoas. O investimento na ampliação será em torno de R$ 9 milhões, consolidando a empresa como a maior fabricante de blocos e pisos de concreto da Região Sul.
Acabamentos também têm aumento na demanda
Se o consumo de materiais utilizados na construção dos empreendimentos está alto, o mesmo ciclo se repete nos acessórios instalados na fase de acabamento das obras. Nos últimos 12 meses, a Tramontina teve um crescimento de 50% nas vendas de pias, vendendo toda a produção do período. Segundo a empresa, as perspectivas para os próximos meses são boas, devido à finalização dos vários projetos de construção iniciados em 2006 e 2007, quando o boom da construção civil foi iniciado.
Outro exemplo de crescimento nas vendas vem da metalúrgica Meber, de Bento Gonçalves. Fabricante de metais sanitários, como torneiras e duchas, a empresa registrou um aumento de 18,75% nas vendas para a construção civil no último ano. Nesse período, a produção média atingiu a marca de 90 mil peças por mês. "Temos a possibilidade de ampliar essa capacidade em 40% no caso de o panorama perdurar", afirma Carlos Bertuol, diretor da Meber. Segundo ele, o bom momento da construção civil também tem sido favorável à consolidação de parcerias para a comercialização de grandes remessas de produtos. "Nossos índices de crescimento são impulsionados por acordos firmados com empresas como os grupos Rossi e Accor Hospitality Brasil", explica Bertuol. Para atender à maior demanda, a empresa já trabalha no projeto de uma nova fábrica para 2009.
O crescimento do número de construções chegou a modificar o padrão de vendas das Telhas Vogel. Segundo Camila Werner Vogel, diretora comercial, a tendência sempre foi de maior venda nos meses de verão, enquanto no inverno o normal era uma desaceleração, criando um acúmulo de estoques. No entanto, isto não ocorreu em 2008. O consumo de telhas manteve-se alto durante todo o ano. "Atualmente estamos com um prazo muito longo, o maior prazo atingido desde nossa fundação há 10 anos", afirma Camila.
Sendo a pintura geralmente o acabamento final de uma moradia, o setor de tintas e vernizes é o último a sentir os efeitos do crescimento da construção civil. Segundo Mauro Eiras, diretor- geral da divisão arquitetônica da PPG Industrial do Brasil, fabricante das Tintas Renner, somente agora as empresas da área estão colhendo os frutos. "O crescimento nas vendas atualmente está em torno de 8%, mas esperamos fechar o ano em 10%", afirma. Segundo Eiras, estudos da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (Abrafati) indicam que o mercado deverá continuar crescendo nos próximos dois anos, com elevação de 11% em 2009 e alcançando a marca de 13% em 2010. "Vamos investir US$ 10 milhões em projetos para melhorar a distribuição em todo o País, e outros US$ 10 milhões na ampliação de nossa fábrica em Gravataí", afirmou o diretor.
Para a Abramat, cenário atual
acaba com 20 anos de estagnação
O setor da construção civil, que representava 5,5% do PIB nacional no ano passado, fechou o segundo trimestre de 2008 com um crescimento de 9,9% em comparação com o mesmo período de 2007. "Acreditamos que vamos fechar este ano com um crescimento de 20%", afirma Melvyn Fox, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Construção (Abramat). Segundo Fox, as empresas fabricantes de materiais estão saindo de um ciclo de 20 anos de estagnação, que se iniciou em 1986 com a extinção do Banco Nacional de Habitação (BNH). "A partir de 2006 tivemos medidas importantes para o desenvolvimento do setor, como a redução do IPI de mais de 40 produtos e o aumento de recursos para financiamentos na aquisição de imóveis," explica o presidente. Estas ações tiveram um reflexo imediato nos ganhos das empresas. Se, em 2005, o setor fechou o ano com uma queda de 2% no faturamento, nos 12 meses seguintes o crescimento chegou a 6,3%, e em 2007 subiu 15,5%. "Apenas em 2008, o acumulado do ano até julho já conta com 30,9% de aumento", afirma Fox.
Todos estes ganhos estão criando a necessidade de investimentos. Até 2006, a capacidade ociosa média de todos os setores da indústria de materiais de construção era de 30%. Hoje, graças à aplicação de recursos no aumento da capacidade de produção, esse índice chega a 15%, e poderá diminuir ainda mais. Mas o presidente alerta para a necessidade de planejamento dos clientes para que não haja problemas. "Não há falta de produtos, há condições de atender à demanda, mas é preciso realizar os pedidos com antecedência", explica.
Uma empresa que está seguindo este conselho é a Construtora Rossi. Com 78 empreendimentos sendo realizados em setembro deste ano, a construtora trabalha com um planejamento detalhado do recebimento de materiais. "Nós só atuamos com acordos. Desse modo, já sabemos com antecedência quem será nosso fornecedor e quais os prazos de entrega", afirma João Ricardo Ferreira, gerente de suprimentos da Rossi.
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