Vendas do comércio e do segmento de carros mostram avanço mesmo depois de aumento dos encargos financeiros
A preocupação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que em entrevista à Zero Hora, disse que o governo está empenhado em conter o ritmo de crescimento da economia, é confirmada pelos números do varejo. Até agora, as medidas tomadas neste ano para segurar o consumo e controlar a inflação pouco conseguiram frear o apetite dos brasileiros na hora de passar no caixa de uma loja ou adquirir um automóvel.
Mesmo com o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nos contratos de crédito em janeiro e o incremento de 1,75 ponto percentual na taxa Selic ao longo do ano, as vendas de carros no país permaneceram em alta em 2008. De janeiro a julho, o número de unidades negociadas cresceu 27,1% na comparação com o mesmo período de 2007, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
No comércio, as consultas ao Sistema de Proteção ao Crédito, principal termômetro das vendas a prazo, também indicam a manutenção da economia aquecida. Somente no Rio Grande do Sul, o número de solicitações ao serviço subiu 15,46% em agosto, segundo a Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL), que administra o SPC de todo o Estado. No acumulado do ano, o crescimento é de 10,7%.
Aumento de renda e otimismo com emprego são incentivos
O ritmo acelerado da economia é um dos focos da atenção de Mantega, que fixou em 5,5% a taxa máxima de crescimento sustentado para a economia brasileira. Para evitar uma aceleração maior, o governo admite editar uma nova série de medidas, o que depende dos número do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro semestre, que serão divulgados na próxima semana.
Apesar dos índices de consumo, Mantega se diz confiante em relação aos resultados das medidas, com o início da desaceleração em alguns setores da indústria, a previsão de redução da taxa de crescimento do crédito e tendência de queda nos índices de inflação.
— Estamos combatendo a inflação, mas mantendo o ritmo de crescimento — disse o ministro.
Miguel de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), explica que o bom momento da economia brasileira impede que medidas como aumento na taxa básica de juros tenham um impacto significativo sobre o ritmo do consumo no varejo.
Mesmo com o aumento do encargo financeiro, o consumidor segue indo às compras porque sua renda ainda cresce e tem confiança de que permanecerá empregado. Além disso, o mercado oferece prazos longos de pagamento, o que garante prestações baixas:
— O comprador entra num financiamento baseado em duas questões: vou poder pagar? Vou estar empregado até o final do prazo? — enfatiza Oliveira.
Freio ineficaz
Para conter o consumo e a inflação, o governo subiu a taxa básica de juros (Selic) em 2008:
Janeiro: 11,25%
Março: 11,25%
Abril: 11,75%
Junho: 12,25%
Julho: 13%
ENQUANTO ISSO, CRESCERAM...
Vendas de automóveis no país (ante mesmo mês de 2007):
Janeiro: 37,64%
Fevereiro: 33,78%
Março: 17,29%
Abril: 43,32%
Maio: 11,83%
Junho: 25,06%
Julho: 28,23%
Consultas ao SPC:
Janeiro a Agosto
Rio Grande do Sul 10,7%
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