O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu por unanimidade aumentar em 0,75 ponto percentual a taxa básica de juros do País. Com isso, a Selic chega a 13% ao ano, índice não adotado desde o primeiro trimestre de 2007. A decisão surpreendeu parte do mercado, que apostava na manutenção das elevações em 0,5 p.p. iniciadas em abril como medida de controle da inflação, e pode revelar a intenção do governo em acelerar a redução dos preços.
Os detalhes da reunião de dois dias serão conhecidos na próxima quinta-feira, quando será divulgada a ata com informações sobre as discussões dos diretores do BC. A próxima reunião do Copom está marcada para os dias 9 e 10 de setembro.
De acordo com analistas, a desaceleração da economia está mais lenta do que a pretendida pelo governo. "A preocupação maior é com relação à dinâmica da inflação, que demonstra uma resistência para reversão da tendência de alta e pode sugerir que as soluções são modestas", avalia o analista-chefe da corretora Planner, Ricardo Martins. Para o economista, a decisão do Copom demonstra que a opção não é por reajustes constantes e menores. "O foco do BC tem sido trazer a inflação para o centro da meta em 2009 e teria tempo suficiente para se reestruturar nas três reuniões até o final do ano com aumentos de 0,5 p.p. Ao optar por uma elevação maior agora, demonstra que errou anteriormente e precisou recalibrar a dose", diz.
O estrategista do banco Santander Constantin Jancso, que também apostava no aumento de meio ponto, analisa que ao acelerar o ritmo da taxa básica agora, dificilmente o BC terá possibilidade de reduzi-la nas próximas reuniões. Tanto Jancso, como Martins, afirmam que o aumento na taxa básica pode demorar alguns meses para se refletir no varejo, onde são medidos índices de inflação como o IGP-M e IPCS.
O economista-chefe do Banco Real Asset Management, Hugo Penteado, também critica a decisão do BC. O analista chama atenção para a grande incerteza sobre o comportamento das commodities que podem exercer forças deflacionárias nos próximos seis a nove meses pela piora do cenário externo e da possível queda na atividade global. Mesmo que a economia brasileira tenha seu crescimento motivado pela demanda doméstica, o cenário externo pode reduzir a disponibilidade de capital para investimentos por um período suficiente para causar um menor crescimento econômico em 2009, que já deve ser diminuído com a alta dos juros.
Na opinião do economista-chefe da Concórdia Corretora de Valores, Élson Teles, a decisão é um recado do BC sobre a seriedade com que trata o cumprimento das metas de inflação. "Ao agir dessa forma, o Copom reafirma, aos agentes econômicos, o seu compromisso em perseguir, de forma tempestiva, o centro da meta de inflação já para o ano-calendário de 2009. Ao mesmo tempo, essa decisão deverá contribuir para resguardar a credibilidade da instituição e reforçar o processo de ancoragem das expectativas de inflação", afirma.
Para entidades empresariais, aumento penaliza o setor privado
A decisão do Banco Central em elevar em 0,75 ponto percentual a taxa básica de juros foi criticada por entidades empresariais. "Na medida em que o setor público não consegue reduzir seu peso sobre a economia, com a redução dos gastos, resta a alternativa de aumento de juros, que acaba por penalizar o setor privado", lamentou o presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Paulo Tigre. Já o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, disse que em um ambiente de incerteza inflacionária, a política monetária gradual é mais eficaz para coordenar as expectativas de elevação dos preços. "A alteração dessa postura, com a intensificação do aperto monetário, resultará em maiores danos ao próprio processo de crescimento econômico", afirmou. Monteiro Neto também defendeu a redução dos gastos públicos como crucial para que as expectativas convirjam para a meta da inflação.
A avaliação do presidente da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do RS (Fecomércio-RS), Flávio Sabbadini, também é de que o aumento está desproporcional ao risco imobiliário. "A sociedade e o setor produtivo estão dispostos a colaborar para o crescimento e o desenvolvimento do País, mas o governo - mais do que nunca - também precisa fazer a sua parte", cobrou. Tigre propôs o aumento do depósito compulsório dos bancos como uma alternativa ao aumento. "Uma medida de efeito rápido para combater a inflação, já que atua diretamente sobre a liquidez na economia, reduzindo o crédito e os custos para a sociedade", explicou.
O presidente da Federação das CDLs do Estado (FCDL-RS), Vitor Augusto Koch, reiterou a necessidade de o governo rever seus gastos, reduzir os custos e evitar novos prejuízos à economia. "Aumentar os juros significa barrar o consumo e, por conseqüência, o crescimento econômico, a geração de empregos e de renda", completou.
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