Veículo usa tecnologia inédita na América Latina e deve estrear nas ruas de SP em setembro
Um projeto nascido no galpão de uma fábrica em Ana Rech pode ganhar o mundo em breve. Com tecnologia inédita na América Latina e ainda pouco conhecida no Brasil, o ônibus movido a hidrogênio foi desenvolvido pela Tuttotrasporti, empresa caxiense que há 17 anos trabalha com chassis, e está em fase de ajustes para estrear nas ruas em setembro, em São Paulo (SP).
Entre suas vantagens está o fato de não poluir, pois o veículo elimina vapor d'água em vez de fumaça.
O responsável pela ousada proposta, mesmo quando a tendência no segmento de transporte são as energias limpas, é o empresário Agenor Boff, 55 anos, que tem como desafio agora provar ao mercado que o novo sistema é simples e viável.
A experiência da fabricante em chassis inovadores, como o segundo eixo dianteiro dirigível, e na utilização de combustíveis alternativos, como eletricidade, álcool e gás natural em modelos híbridos, mostra que a idéia pode revolucionar a matriz energética do setor.
— A Tutto está desmitificando a utilização do hidrogênio. Queremos mostrar para o mundo que é simples, conseguimos diminuir o tempo e o custo de desenvolvimento — afirma Boff.
Funcionamento
O projeto tem quatro anos e conta com vários parceiros, entre os quais a também caxiense Marcopolo, responsável pela carroceria. Com aplicação urbana, o ônibus tem capacidade para 90 passageiros e utiliza oxigênio e hidrogênio num equipamento chamado célula de combustível.
A reação química dos dois componentes produz a eletricidade que alimenta os motores elétricos acoplados ao eixo motriz de tração. Embora desconhecida pela maioria dos brasileiros, a tecnologia não é nova e está sendo utilizada por montadoras de automóveis na Europa, no Japão e nos Estados Unidos. O empresário foi à Alemanha para conhecer de perto o sistema.
A característica inesgotável do hidrogênio, encontrado facilmente na natureza, contribuiu para a Tutto levar adiante o projeto, diante da preocupação mundial em reduzir a dependência do petróleo .
— O hidrogênio é a alternativa definitiva para o futuro, só falta reduzir o custo. O Brasil pode se tornar um dos grandes exportadores de hidrogênio do mundo, por meio de hidrelétricas, aterros sanitários, estações de esgoto — diz Boff.
Com a questão técnica resolvida, por meio da simplificação do processo de fabricação do chassi e montagem dos componentes, o problema passa a ser a vialibização econômica. Mas essa, destaca o empresário, depende mais de vontade política.
O empresário reconhece que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se interessa por energias alternativas, mas o foco ainda está no etanol e no biodiesel.
Confira reportagem completa na edição de terça-feira do Pioneiro.
Como funciona
- O ônibus tem chassi de piso baixo com tração elétrica que utiliza hidrogênio como combustível e carroceria urbana da Marcopolo para 90 passageiros
- O chassi é gerenciado totalmente por um software desenvolvido pela Tuttotrasporti
- O sistema utiliza oxigênio e hidrogênio num equipamento chamado célula de combustível (fuel cell). Por meio da reação química entre os dois componentes, a célula produz eletricidade que alimenta os motores elétricos acoplados ao eixo motriz de tração
- São usadas duas células de combustível da Ballard Power, as mesmas do Mercedes-Benz Classe A na Europa
- O veículo é equipado com nove cilindros, pesando 4 kg cada um
- A autonomia é de cerca de 350 quilômetros, e o abastecimento leva 15 minutos
Empresas envolvidas
- Tuttotrasporti, Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo, Ballard Power Systems, Marcopolo, Epri International, Hydrogenics, AES Eletro Paulo e Nucellys
Apoio
- Ministério de Minas e Energia, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Global Environment Facility (GEF) e Financiadora de Estudos e Projetos (Finep)
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