O déficit da conta corrente do balanço de pagamento, que registra o saldo de todas as transações do País com o exterior, caiu de US$ 3,310 bilhões em abril para US$ 649 milhões em maio. Mesmo com essa redução, a conta corrente registra déficit de US$ 14,717 bilhões no acumulado do ano, enquanto que no mesmo período do ano passado o saldo era superavitário em US$ 1,897 bilhão. E o Banco Central demonstra que o rombo crescerá ainda mais em 2008. No mesmo documento em que divulgou as contas externas de maio, o BC elevou a previsão de déficit do ano de US$ 12 bilhões para US$ 21 bilhões. Caso essa previsão se confirme, as contas externas terão o pior resultado desde 2001.
O chefe do Departamento Econômico (Depec) do BC, Altamir Lopes, afirmou que esse déficit será "completamente financiável pelo Investimento Estrangeiro Direto (IED)", cujas previsões para o ano também foram elevadas dos US$ 32 bilhões para US$ 35 bilhões. A expectativa para ingresso em investimentos em papéis doméstico de longo prazo e ações aumentou de US$ 12 bilhões para US$ 25 bilhões. Já a estimativa para o capital de curto prazo ficou em US$ 17 bilhões, sendo que no relatório anterior não havia previsão para esse indicador.
O IED em maio somou US$ 1,313 bilhão, enquanto em abril os investimentos foram de US$ 3,872 bilhões e em maio de 2007 (US$ 497 milhões). No acumulado de janeiro a maio, o IED totaliza US$ 13,984 bilhões (2,44% do PIB). Lopes informou que em junho, até ontem, entraram no País US$ 2,2 bilhões e a expectativa é de que, no fechamento do mês, o IED totalize US$ 3 bilhões. Já o déficit da conta corrente em junho deve chegar a US$ 1,2 bilhão.
Segundo Lopes, o ingresso de IED deve ganhar ainda mais força nos próximos meses. Ele avalia que a entrada de dólares no País teve reforço após a concessão de grau de investimento ao Brasil por duas das principais agências de classificação de risco, Standard & Poor's e Fitch, em abril e maio deste ano, respectivamente, o que acelerou o ingresso de investidores em ações e títulos públicos. Altamir também afirmou que, em termos proporcionais, o déficit esperado para 2008 - de 1,49% do PIB - é pequeno se comparado a outros países.
Balança comercial 4.077
Exportações 13.647
Importações 9.791
Balanço de serviços e rendas -4.372
Juros -339
Viagens internacionais* -274
Lucros e dividendos -2.887
Outros** -872
Transferências unilaterais 365
Saldo em transações correntes -151
Saldo em transações em 1 ano (em % do PIB) - 0,36
* inclui compras feitas do Brasil pela internet em lojas estrangeiras
** transportes, seguros, despesas governamentais, entre outros
Especialistas discordam das análises do governo
O estoque de todos os recursos estrangeiros no Brasil, incluindo aplicações financeiras, investimentos produtivos e empréstimos, atingiu US$ 939,1 bilhões em dezembro 2007, de acordo com os dados divulgados ontem. Em setembro do ano passado, o chamado passivo externo do Brasil estava em US$ 869 bilhões e em dezembro de 2006, em US$ 623,3 bilhões. Descontando-se o estoque de investimentos de brasileiros no exterior, que somava US$ 365 bilhões em dezembro do ano passado, o saldo líquido de investimentos estrangeiros, ou passivo externo líquido, fechou 2007 em US$ 574,1 bilhões, alta de 49,35% ante a posição de 2006.Esse crescimento dividiu a opinião de especialistas.
A professora de economia da Unicamp Daniela Prates é do grupo que vê com preocupação o aumento no passivo externo líquido. Segundo ela, a alta nos investimentos em ações e títulos significa um aumento no capital de curto prazo, que pode sair a qualquer momento do Brasil, pressionando o câmbio, a inflação e o crescimento. Além disso, ela pondera que o crescimento do estoque de IED, embora tenha um perfil de longo prazo, gera pressão de saída de dólares para remessas de lucros e dividendos.
Já para o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos das Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica, Luiz Afonso Lima, a alta no passivo externo líquido foi positiva e não representa uma piora na vulnerabilidade brasileira. Isto porque, explicou, parte relevante foi decorrente da alta no IED e também porque a forte elevação no estoque de investimentos em ações ocorreu pela sua valorização.
Dívida externa total do Brasil
sobe para US$ 202,9 bilhões
Com os números relativos a maio, a dívida externa total do Brasil atingiu US$ 202,979 bilhões no quinto mês do ano. Em março, a última posição fechada estava em US$ 201,637 bilhões. Na passagem de março para maio, a dívida de médio e longo prazos passou de US$ 162,646 bilhões para US$ 164,789 bilhões. Já a dívida de curto prazo diminuiu de US$ 38,991 bilhões para US$ 38,190 bilhões entre março e maio. Na sexta-feira passada, o Banco Central informou que as reservas internacionais somam US$ 198,182 bilhões, no conceito de liquidez internacional.
A taxa de rolagem dos empréstimos de médio e longo prazos em maio foi de 228%, de acordo com o BC. No mesmo mês do ano passado, a taxa de rolagem era de 283%. A taxa de títulos (bônus, notes e commercial papers) em maio foi de 434%, ante 277% em igual mês de 2007. Já os empréstimos diretos tiveram taxa de rolagem de 109% em maio ante 295% em igual período de 2007.
As despesas com juros em maio somaram US$ 130 milhões, ante US$ 339 milhões em igual mês de 2007. No ano até maio, o gasto do País com juros totaliza US$ 2,669 bilhões, ante US$ 3,928 bilhões de janeiro a maio de 2007.
Superávit comercial de junho é 47,6% menor
Faltando apenas cinco dias úteis para fechar o mês, o superávit da balança comercial em junho já é 47,6% menor, pela média diária, que o de junho do ano passado. O saldo acumulado é de US$ 1,5 bilhão, com média diária de US$ 100,1 milhões. A queda é resultado de importações fortes, com alta de 61,8%, enquanto as exportações crescem em um ritmo muito menor, 29,9%.
As vendas externas somam em junho, até a terceira semana, US$ 12,78 bilhões, com média diária de US$ 852,3 milhões, e as importações totalizam US$ 11,28 bilhões, com média diária de US$ 752,2 milhões. Somente na semana passada, a balança comercial apresentou exportações de US$ 4,09 bilhões e importações de US$ 3,75 bilhões, resultando em superávit de US$ 346 milhões. Os dados divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior mostram que este mês aumentaram principalmente as importações de adubos e fertilizantes, combustíveis e lubrificantes, siderúrgicos e farmacêuticos.
Nas exportações, houve crescimento das vendas nas três categorias de produtos. Os embarques de itens básicos subiram 67,4% em relação a junho do ano passado por conta, principalmente, de petróleo bruto, soja em grão, minério de ferro, farelo de soja, carne de frango, bovina e suína. As exportações de semimanufaturados se expandiram 22,6%. As exportações acumulam no ano US$ 84,838 bilhões, e as importações, U$S 74,682 bilhões, com saldo positivo de US$ 10,156 bilhões.
Mercado mantém previsão de recuo de US$ 23 bilhões em conta corrente
No dia em que o Banco Central elevou a projeção de déficit em conta corrente no balanço de pagamentos para 2008, o mercado dá uma trégua momentânea. Pela primeira semana, após três semanas consecutivas de alta, as projeções do mercado captadas pela pesquisa Focus se estacionaram em um déficit em conta corrente de US$ 23 bilhões. Há um mês, a estimativa era de déficit de US$ 20 bilhões. Apesar da estabilidade, a projeção média do mercado é ainda US$ 2 bilhões superior àquela que agora é esperada pelo BC no fim do ano.
E a trégua semanal não foi seguida pelas projeções para a mesma conta em 2009, cujas estimativas continuam piorando. A mediana das apostas para o déficit em conta corrente aumentou de US$ 30,95 bilhões para US$ 31,15 bilhões. Há quatro semanas, o número estava em US$ 28 bilhões.
Com relação à balança comercial, a estimativa para o superávit em 2008 caiu de US$ 23,35 bilhões para US$ 23 bilhões. Para o próximo ano, a projeção de saldo caiu de US$ 15,61 bilhões para US$ 15 bilhões. Há um mês, os números eram, respectivamente, de US$ 24,9 bilhões e US$ 15,95 bilhões.
Já a estimativa de ingresso de Investimento Estrangeiro Direto (IED) em 2008 teve ligeira redução, de US$ 34,15 bilhões para US$ 34 bilhões. Para 2009, a estimativa permaneceu em US$ 30 bilhões pela sexta semana seguida.
A projeção para a inflação de 2008 medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) voltou a subir e está agora 1,58 ponto percentual acima do centro da meta, de 4,5%, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). No relatório semanal Focus, a previsão para o IPCA passou de 5,80% para 6,08%.
Para 2009, a projeção do IPCA subiu de 4,63% para 4,78%, superando também o centro da meta. A meta de inflação, tanto em 2008 quanto 2009, tem margem de tolerância de dois pontos percentuais, para cima ou para baixo. Ou seja, o teto da meta é de 6,50%. Na semana passada, o presidente do BC, Henrique Meirelles, admitiu que existe uma "chance teórica" de a inflação superar o teto da meta para o ano.
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