O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a garantir que o controle da inflação continuará prioritário em seu governo. Em discurso realizado durante homenagem que recebeu na manhã de ontem na BM&F Bovespa pela conquista da classificação de grau de investimento pelo Brasil, Lula admitiu que o País enfrenta uma pressão inflacionária sobre os alimentos, o que considera um fenômeno global.
Apesar disso, ele assegurou que o Brasil tem de ter o compromisso de não permitir que a inflação atrapalhe "o sonho que o País conquistou". Lula reafirmou que, embora haja um movimento mundial de alta de preços, não é possível permitir que os aumentos se expandam, colocando em risco as conquistas do País.
O presidente disse que a crise de alimentos no mundo deveria ser classificada de "desafio". Ele assegurou que o Brasil tem condições de dar um grande salto de qualidade na área agrícola e está preparado para levar seus combustíveis, como o biodiesel, para o mercado internacional.
Apesar de afirmar que manterá a inflação sob controle em seu governo, Lula disse que os mecanismos utilizados para esse controle não devem prejudicar o crescimento sustentável do País. "O Brasil pode atravessar esta onda de crise mundial e continuar em um ritmo de crescimento sustentável", destacou. Ele lembrou que a taxa de investimentos, hoje em torno de 18% do Produto Interno Bruto (PIB), deve chegar a 21% em 2010.
Ao falar das medidas que seu governo vem tomando para controlar a inflação, Lula elogiou a postura do Banco Central, destacando que a política monetária em vigor vem garantindo o controle da inflação sem prejudicar o ritmo de crescimento da economia. "A inflação não é só responsabilidade do Banco Central e do Ministério da Fazenda, mas de todos", afirmou.
Na avaliação do presidente, o Brasil atingiu um círculo virtuoso, destacando que a aceleração do crescimento foi feita com a inclusão social. "Uma das maiores vantagens da economia brasileira é a potencialidade do seu mercado interno", destacou ele, citando alguns programas desenvolvidos por sua gestão, como o Bolsa Família e o PAC. Animado com o resultado da economia, Lula frisou: "Queremos ter pelo menos dez anos de crescimento sustentável para compensar os 20 anos sem crescimento no País". Apesar das conquistas, Lula fez um "mea culpa", dizendo que ainda há muito a ser feito na área tributária e de regulação.
Brasil entra em círculo virtuoso depois de adotar medidas duras, acredita Meirelles
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse, na cerimônia na BM&F, que o Brasil entra em um ciclo virtuoso após a adoção de medidas duras, mas necessárias. Meirelles comemorou a expansão do mercado de capitais no País e creditou o desempenho à estabilidade econômica. "Nos últimos anos, a consolidação da estabilidade da economia brasileira ganhou maior previsibilidade, o que está levando ao alongamento dos horizontes de planejamento. Como conseqüência, o Brasil entra em um círculo virtuoso, depois de medidas duras, porém absolutamente necessárias para o crescimento do País", afirmou. Para Meirelles, a expansão do mercado de capitais é produto da estabilidade econômica e do crescimento. "Não pode ter crescimento de mercado em um País instável", disse.
Para o presidente do BC, o País ganha respeito no cenário internacional. Ele citou recente artigo publicado no jornal Le Monde, que diz que o presidente do Federal Reserve (Fed, o BC americano), Ben Bernanke, deveria inspirar-se na política monetária brasileira. Segundo o jornal francês, a "política de juros altos saneou a economia brasileira".
Mantega assegura que País continuará
a crescer mesmo com pressão mundial
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o País continuará crescendo mesmo com a inflação mundial. "Vamos controlar a inflação e o crescimento vai continuar a despeito desses problemas que atribulam a economia mundial e a brasileira em menor escala", disse, na homenagem da BM&F Bovespa ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à obtenção do grau de investimento pelo Brasil.
Em seu discurso, no auditório da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), Mantega afirmou que é a hora de o Brasil mostrar sua solidez em um momento de forte choque de preço das commodities (matérias-primas) e crise no mercado financeiro internacional. "Hoje reunimos as condições que não havia no passado para enfrentar uma crise desta natureza. Embora o Brasil sofra alguns impactos, é um dos menos afetados por essa onda inflacionária, e isso devemos ao acerto de nossas políticas econômica, monetária e fiscal", disse.
O ministro da Fazenda afirmou que o governo Lula está controlando a inflação com instrumentos fortes, citando o aumento do superávit primário e o aumento na taxa básica de juros. Na sua avaliação, o governo não dará trégua e não vai permitir a volta da inflação. E assegurou: "Não vamos abortar o crescimento".
IPC-S desacelera com ritmo menor de elevação das altas
A redução do ritmo de alta nos preços de alimentos no varejo desacelerou o crescimento do Índice de Preços ao Consumidor - Semanal (IPC-S) na semana terminada no dia 15. O indicador subiu 1,07% no período, enquanto que na semana anterior a alta havia sido de 1,12%. De acordo com a Fundação Getulio Vargas (FGV), os preços do grupo alimentos passaram de alta de 2,98% para 2,78% na semana passada.
Esse setor foi beneficiado por avanços menos expressivos de preços em hortaliças e legumes (de 12,48% para 9,37%); panificados e biscoitos (de 4,77% para 3,71%); óleos e gorduras (de 0,82% para 0,11%) e laticínios (de 1,20% para 0,92%).
Das sete classes de despesa usadas para cálculo do IPC-S, quatro apresentaram elevação de preços menos intensa, entre 7 e 15 de junho. Além de alimentação, é o caso de vestuário (de 0,46% para 0,39%); saúde e cuidados pessoais (de 0,73% para 0,67%); e transportes (de 0,17% para 0,09%).
Ministro Paulo Bernardo desacredita
a pesquisa Focus e segue otimista
O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse que as novas previsões do mercado financeiro para a alta da inflação neste ano podem não se confirmar. Ele se referiu à expectativa divulgada hoje no relatório de mercado Focus, a pesquisa semanal do Banco Central com o mercado financeiro. Os economistas ouvidos pelo BC aumentaram a previsão de alta dos preços em 2008 para 5,8%.
O número está acima do centro da meta de inflação para este ano, que é de 4,5%. Em relação aos IGPs, que servem de base para o reajuste de aluguéis e tarifas, as previsões já chegam a 10% de inflação. "Vocês viram que o Focus sempre erra, né? Se você fizer uma pesquisa sobre a pesquisa Focus, você vai ver que o índice de acerto não é lá muito grande", disse o ministro. "Eles vão correndo atrás dos acontecimentos."
Paulo Bernardo disse não acreditar que haja o risco de a inflação ficar acima do teto da meta, ou seja, de 6,5% (4,5% mais dois pontos percentuais de tolerância). "Temos de estar sempre alertas para essa questão da inflação. O governo não acha razoável descuidar, mas também não achamos que é motivo para ficar alarmado."
O ministro não quis afirmar qual será a meta de inflação que será fixada pelo governo para 2010, cuja divulgação será no fim do mês. Mas lembrou que a previsão feita na época do lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), baseada nas expectativas do mercado, era também de 4,5%. "O programa do PAC é um programa para quatro anos e nós fizemos uma projeção de metas de crescimento e de inflação. A de inflação, deixamos bem claro, é baseada nas previsões de mercado. Nós não fazemos projeção."
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