Juros mais altos, prazos menores de financiamento e gradual aumento do desemprego. Esse é o quadro esperado após as medidas tomadas pelo Banco Central (BC) nos últimos dois meses para reduzir crédito, consumo e, por tabela, a inflação. Nesse cenário, é preciso aumentar a cautela com o endividamento, pois as condições de crédito já pioraram.
O BC informou no final de janeiro que financiamentos de veículos e operações de crédito pessoal estavam 18% abaixo dos níveis de novembro. A taxa média do juro ao consumidor passou de 39% ao ano, naquele mês, para 45% no início deste ano, acima do apurado na crise de 2008/2009.
O resultado final desse novo cenário é a desaceleração da economia, o que afeta diretamente o bolso das pessoas, explica o economista-chefe do Itaú, Ilan Goldfajn. "Quando o crescimento diminui, o ganho de renda é menor e, às vezes, o desemprego, que estava bem baixinho, aumenta um pouco. Gente que tem emprego não vai ter, pessoas que esperavam ganhar mais de repente não vão ganhar tanto", disse.
O vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel de Oliveira, observa que os prazos de financiamento já estão menores e diz que os juros devem continuar subindo. "O momento é de cautela. O custo do crédito está maior e, eventualmente, podemos ter desemprego", disse.
A principal recomendação de Oliveira é evitar se endividar no longo prazo. Ele também sugere que os consumidores busquem linhas de crédito mais baratas, como o penhor de joias da Caixa ou o empréstimo consignado (com desconto em holerite), em vez de linhas pré-aprovadas, como cheque especial, cartão de crédito, e o saque em caixa eletrônico. "Os empréstimos mais fáceis são os mais caros. A facilidade tem um preço", disse.
Em dezembro, o BC começou a esfriar a economia para controlar a alta da inflação. Foram anunciadas restrições ao crédito para o consumo com prazos acima de 24 meses e a retirada de R$ 61 bilhões da economia (na prática, mais de R$ 65 bilhões foram recolhidos).
São medidas chamadas de macroprudenciais, termo que virou moda após a turbulência financeira de 2008 para se referir a ações de prevenção a crises. Aqui, no entanto, estão sendo usadas para desaquecer a economia.
Além disso, o BC também aumentou em janeiro a Selic (taxa básica que serve de referência para os juros praticados no País) de 10,75% para 11,25% ao ano.
"As duas políticas desaceleram a economia, mas temos mais experiência sobre o efeito da Selic do que das medidas macroprudenciais, o que cria um risco de a economia esfriar demais ou de menos", observa Goldfajn.
Apesar disso, o economista não acredita numa alta forte do desemprego e da inadimplência, a não ser que o controle da inflação seja negligenciado agora, exigindo medidas mais duras depois.
A expectativa do banco é de que o ritmo de crescimento da economia brasileira caia para 4% em 2011 (ante mais de 7% em 2010).
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