Na primeira reunião sob o comando do presidente Alexandre Tombini, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumentou a taxa básica de juros de 10,75% para 11,25% ao ano. A decisão foi unânime e já era esperada pela maior parte do mercado financeiro. Com o aumento de 0,5 ponto percentual nos juros, o BC dá continuidade ao trabalho para desacelerar o consumo e segurar a inflação.
"O Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 11,25% a.a., sem viés, dando início a um processo de ajuste da taxa básica de juros, cujos efeitos, somados aos de ações macroprudenciais, contribuirão para que a inflação convirja para a trajetória de metas", afirma o comunicado do Copom.
Em dezembro, já foram anunciadas medidas para restringir os financiamentos com prazos superiores a 24 meses e para tirar a última parte do dinheiro injetado na economia durante a crise de 2008. Hoje, a inflação está próxima de 6%, acima do objetivo de 4,5% fixado pelo governo.
A aposta do mercado financeiro é que o juro voltará a subir nas duas próximas reuniões do Copom, nos dias 2 de março e 20 de abril, para encerrar o ano em 12,25%. A taxa só voltaria a cair no ano seguinte. Além disso, o governo promete anunciar em fevereiro um corte no orçamento que pode chegar a R$ 50 bilhões, outra medida para ajudar a segurar a demanda e a inflação no País.
Os juros retornaram ao patamar em que estavam em março de 2009. Ainda naquele ano, por causa da crise, chegariam ao menor nível da história (8,75% ao ano), mas voltariam a subir em 2010. A taxa básica determina o custo do dinheiro para os bancos e, por isso, serve de base para os juros dos empréstimos a empresas e consumidores, cuja taxa média está hoje próxima de 35% ao ano. A Selic é também um dos principais instrumentos que o BC tem para tentar controlar o ritmo de crescimento da economia e a inflação.
Essa foi a primeira reunião do Copom sob o comando de Tombini, que substituiu no início do ano Henrique Meirelles na presidência do BC. Tombini já era diretor de Normas do BC no governo anterior. Não houve mudanças, no entanto, nas demais diretorias do BC.
A próxima reunião do Copom está marcada para os dias 1 e 2 de março. A ata da reunião de hoje será divulgada pelo BC na quinta-feira da próxima semana, dia 27 de janeiro.
Efeito no crédito será reduzido, avalia Anefac
A alta de 0,50 ponto percentual da taxa básica de juros da economia terá um efeito reduzido nas operações de crédito. A avaliação é da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), que projetou o impacto da elevação da Selic, de 10,75% para 11,25% ao ano, sobre as taxas cobradas de consumidores e empresas. De acordo com a entidade, o efeito será pequeno porque "existe um deslocamento muito grande entre a taxa Selic e as taxas cobradas ao consumidor que, na média da pessoa física, atingem 119,97% ao ano". A diferença entre a Selic e o que é efetivamente cobrado das empresas também é grande.
Pelas projeções da Anefac, a alta da Selic para 11,25% ao ano fará os juros cobrados no comércio subirem de 94,27% para 95,15% ao ano. A taxa média do cartão de crédito passará de 238,30% para 239,77% ao ano, por exemplo. Entre as pessoas jurídicas, o impacto do aumento da Selic também será pequeno. Nos cálculos da Anefac, a taxa média de juros em operações de capital de giro subirá de 43,91% para 44,58% ao ano.
Entidades reforçam críticas à elevação e pedem outras medidas
Como tradicionalmente ocorre, a alta dos juros foi criticada por entidades representativas de empresários e trabalhadores. "Entendemos que o controle da inflação é uma prioridade, mas aumentar a Selic só piora a competitividade do País. Já temos os juros mais altos do mundo, o que encarece a produção no Brasil e estimula a entrada de dólares. Com isso, a cotação da moeda se desvaloriza frente ao real e prejudica as exportações", afirmou o presidente da Fiergs, Paulo Tigre. O industrial defende o uso de outros instrumentos para conter o avanço da inflação.
Já a Força Sindical disse, em nota, lamentar "que a produção, o crescimento e a geração de empregos sejam os grandes perdedores com a decisão do Copom". "Os tecnocratas do governo insistem em colocar um forte freio na economia. Uma camisa de força no setor produtivo. Não há justificativa para manter os juros neste patamar estratosférico", diz o texto assinado pelo presidente da entidade, Paulo Pereira da Silva.
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