O desempenho da economia gaúcha é promissor e, o que é melhor, está descolado da crise fiscal do Estado. O diagnóstico foi ressaltado por especialistas, quinta-feira, no painel que buscou delinear os desafios da economia regional nos próximos anos. O debate integrou o primeiro dia do 4º Encontro de Economia Gaúcha, promovido pela Fundação de Economia e Estatística (FEE) e pela Faculdade de Administração, Contabilidade e Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), que se encerra nesta sexta no prédio 50 do campus da Pucrs, em Porto Alegre. O problema é que o baixo investimento público, que deve ficar em 3% da receita líquida do Estado em 2008, já apresenta sua conta.
A pressão por mais serviços e por maior qualidade em áreas como educação e segurança exigirá resposta do governo, sinalizaram os quatro economistas do painel, ex-ocupantes ou ocupantes de funções públicas estaduais. Já a conjuntura internacional, com maior demanda por alimentos de origem animal e vegetal e por fontes alternativas de energias, como os biocombustíveis, é extremamente favorável ao Estado, ressaltaram os painelistas. Segundo o economista João Carlos Brum Torres, que foi secretário de Planejamento nos governos Antônio Britto (1995 a 1998) e Germano Rigotto (2003 a 2006), a economia gaúcha mantém estrutura estável de participação no cenário nacional nos últimos 40 a 50 anos, com participação entre 7,5% e 8% da atividade do País. "Outra vantagem é a maior abertura ao mercado externo, de 20%, enquanto o País tem 8%", comparou Torres, reforçando a oportunidade de crescimento com ampliação das vendas externas.
O ex-secretário de Planejamento de Brito e Rigotto alertou, porém, para a restrição fiscal, como remédio para resolver a crise das finanças. "Chegou ao insustentável". Torres cobrou maior "inteligência" na gestão da receita pública e atribuiu a situação atual à busca de governos passados pelo almejado estado de bem-estar social, mas sem olhar o equilíbrio financeiro.
FEE aposta na eficiência gerencial
Durante o encontro de economia na Pucrs, o presidente da FEE, Adelar Fochezatto, reforçou a importância do Estado na geração de ambiente favorável ao desenvolvimento. Para Fochezatto, os programas estruturantes e o financiamento de R$ 1 bilhão, obtido com o Banco Mundial (Bird), devem melhorar a eficiência do setor. "É um refinanciamento com vantagens em relação aos anteriores, com juro muito mais baixo e maior período de pagamento, além de ocorrer com uma instituição internacional", opinou Fochezatto.
O presidente da FEE ponderou que a única fragilidade da economia local é a área primária, que ganha mais impulso com a demanda mundial por alimentos aquecida. Fochezatto justificou que o desempenho só não vai bem quando ocorre seca. Os investimentos privados, que somam R$ 31 bilhões entre 2007 e 2008, determinarão mudanças em regiões mais atrasadas, como a Metade Sul.
Cláudio Accurso, professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e ex-secretário de Planejamento do governo Pedro Simon, nos anos 80, reforçou que a capacidade de investimento do setor público precisa ser resolvida. Accurso defendeu medidas para assegurar a irrigação das lavouras, que previniria quebras de produtividade. Para o ex-secretário, o setor agropecuário continuará a fazer a diferença na busca de mercados, principalmente o internacional, ao lado de maior incentivo ao desenvolvimento da área metalmecânica. "Mas deveríamos cuidar mais das exportações", recomendou o professor aposentado. Accurso criticou a falta de dados sobre os resultados e custos dos serviços gerados pelo setor público. "Ninguém mede produtividade da área pública", lamentou.
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