Não se fazem mais jovens para o mercado de trabalho como antigamente. Se antes era rotina começar a trabalhar cedo, a geração entre 16 e 24 anos está mudando essa conduta. Que o diga Bruna Vieira Mello, 21 anos, que na semana passada foi a um dos postos do Sistema Nacional de Emprego (Sine) em Porto Alegre para encaminhar documentos após deixar a empresa em que atuava. Bruna quer se dedicar aos estudos e só voltará a trabalhar após concluir a faculdade de Administração e Marketing ou caso consiga uma vaga para atuar em sua área de formação. “Minha família vai ajudar a pagar a faculdade e vou fazer mais cursos. Só a graduação não resolve”, justifica a jovem, de família de classe média.
Bruna não é exceção. Cada vez mais a população nesta faixa etária adia seu ingresso no mercado ou prioriza a escolaridade e melhor capacitação para reforçar suas chances em futura disputa por um lugar. O comportamento já é encarado por especialistas no setor como uma tendência sem volta e sinal de amadurecimento do mercado de trabalho. “Com a melhora da economia e maior oferta de emprego, imaginávamos que a busca desta geração por trabalho iria explodir. Erramos feio”, diz o economista e estatístico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Mario Rodarte, que analisa a evolução demográfica da mão de obra.
O economista investigou as estatísticas da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) entre 1999 e 2009 e constatou: a População Economicamente Ativa (PEA) na faixa mais jovem é descendente desde 2005. Até 2004, era de 443 mil indivíduos e passou a 402 mil em 2009 (quase 10% de queda). O estoque de jovens se contraiu: representava 24,3% da PEA em 1999 na RMPA, passando a 19,9% em 2009. Inversamente, a mão de obra adulta, acima de 25 anos, avançou 2,7% por ano no período.
Um padrão de país desenvolvido que contamina a economia brasileira, sugere Raul Assumpção Bastos, economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE). Os dados mostram ainda que cresce o contingente que só estuda: jovens entre 16 e 17 anos que se dedicavam ao colégio respondiam por 44% da PEA em 1999 e em 2009 pularam para 57,9%. Entre 18 e 24 anos, também avançou a taxa daqueles que preferem estudar um pouco mais antes de trabalhar ou que estão estudando e em atividades profissionais. A escolaridade agradece: reduziu a taxa de jovens com Ensino Fundamental incompleto (de 32,4% a 13,2%) e se elevou a população com Ensino Médio e Superior incompleto (33,9% para 52%).
O aspecto positivo, destaca o economista da FEE, é que a maior dedicação à escola melhora conhecimento da mão de obra e as possibilidades de assimilar novas exigências do mercado. Mas com taxas de desocupação que começam a se aproximar de um pleno emprego, Bastos adverte que passa a ser cada vez mais importante agora a garantia da qualificação dos jovens, mais que só escolaridade. “É hora de reforçar as políticas públicas para inserção desta população e de qualificar o ensino público”, defende. Tudo porque a taxa de desemprego da faixa, que recuou de 32,2% (novembro de 1999) para 17% no mesmo mês deste ano, ainda é a mais alta, confrontando com a média de 7,7% de novembro. “Uma barreira é a falta de experiência”, acrescenta Bastos.
A supervisora do Sine na Capital, Samara Seidler, atesta que a carência de qualificação restringe o preenchimento de vagas na intermediação e aponta como uma aposta das empresas: sem mão de obra pronta é hora de formatar o jovem na medida das necessidades do negócio. “Hoje há mais oferta de vagas que candidatos”, associa a supervisora. Samara observa que há melhora na escolaridade e que se verifica uma elevação na média de idade de jovens em busca do primeiro emprego, para a faixa de 18 a 20 anos.
Rodarte reforça que a situação constatada por Bastos na Região Metropolitana se repete nas demais localidades com maior concentração econômica, que combina ainda exigência por mais especialização, caso da indústria. O economista do Dieese relaciona a maior estabilidade da oferta de jovens na PEA como sintoma da mudança gradativa do perfil populacional brasileiro. O País de jovens começa a se consolidar com maior oferta de adultos e pessoas com mais idade e que também permanecem mais tempo em atividade. “Este fato deve amenizar dificuldades de suprimento de mão de obra com maior qualidade e estenderá para a década de 2050 o problema da falta de mão de obra”, projeta o estatístico.
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