No ano que vem este fenômeno deve voltar a se repetir, ainda com maior intensidade, dizem especialistas.
Em 2010, pela primeira vez na história, os países emergentes deverão contabilizar um fluxo maior de capitais recebidos do que os países desenvolvidos. E, em 2011, essa migração de recursos - que abrange tanto o Investimento Direto Estrangeiro (IED) como o chamado investimento em carteira (ações e renda fixa) – para as economias emergentes deve se repetir ainda com maior intensidade, segundo especialistas.
Os emergentes estão recebendo uma fatia maior do volume de fluxos globais de IED, embora o tamanho do bolo total tenha diminuído nos últimos anos, como resultado da crise econômica mundial, que prejudicou as condições de financiamento dos mercados de capitais. Apenas a fatia referente ao IED que deve ser absorvida pelos mercados emergentes é estimada este ano em US$ 1,1 trilhão, segundo dados da agência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad).
No caso dos investimentos em ações, o Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês) projeta total de entrada de capital de US$ 825 bilhões nos mercados emergentes em 2010, cifra que deverá evoluir para US$ 833 bilhões no ano que vem.
As mesmas condições favoráveis ao fluxo externo para emergentes – a política fiscal frouxa do governo americano combinada à política monetária expansionista, que prevê a compra de papéis do Tesouro e juro de curto prazo ao redor de zero – devem persistir em 2011, mantendo a liquidez global alta e o dólar desvalorizado ante outras moedas.
Para o economista Andre Sacconato, da Tendências Consultoria, o fluxo de capital privado para emergentes tende a ser potencializado em 2011 porque esses países continuarão crescendo bem mais que as economias desenvolvidas. Para o Brasil, por exemplo, a Tendências trabalha com estimativa de crescimento do PIB de 4,8% no próximo ano, e para os EUA a previsão é de expansão de 2%.
Ímã do IED
Esse crescimento mais robusto dos emergentes "é o ímã do IED", afirma o presidente da Sociedade de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luis Afonso Lima, destacando que o volume de recursos destinado a plantas novas, conhecidas como greenfields, é o maior para emergentes já desde 2008.
Fatores domésticos, tais como taxa de juro elevada, são um dos componentes que ajudam a explicar essa enxurrada de recursos estrangeiros que os emergentes têm recebido, segundo o economista do Itaú Unibanco, Darwin Dib. Mas o fator determinante, diz ele, é o movimento externo do mercado de moedas, que vem sendo pautado pela aversão ao dólar.
A depreciação da divisa americana ante outras moedas importantes do mundo provoca elevação no preço das commodities, como forma de proteção diante das incertezas sobre o crescimento da economia mundial, melhorando a percepção de solvência dos países exportadores de matérias-primas, como é o caso do Brasil.
A expectativa praticamente unânime entre os economistas é de que os EUA só deverão retomar o processo de elevação da taxa básica de juros em 2012, o que então poderia colocar "uma poeirinha no fluxo", diz Sacconato. Ele lembra que os EUA têm até junho do próximo ano para despejar US$ 600 bilhões na economia. Ou seja, os EUA vão seguir inundando o mundo de dólar. "Esse dinheiro vai viajar para os emergentes", afirma o economista da Tendências.
Fatia maior de bolo menor. China, Brasil e Índia, os principais motores do crescimento da economia mundial neste novo contexto, disputam mais da metade do fluxo global de recursos estrangeiros. Esse aumento da fatia dos mercados emergentes no montante total de fluxo global de IED decorre de um processo que começou há cerca de 20 anos, mas se acelerou a partir de 2008, no pico da crise financeira mundial.
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