Uma inadimplência menor tem impacto direto sobre os spreads bancários, e, portanto, sobre as taxas de juros ao consumidor. A inadimplência do consumidor está relacionada basicamente a dois fatores: condição financeira e existência de garantias. Nos últimos oito anos, os dois fatores contribuíram para a queda da inadimplência, que ocorreu mesmo com um expressivo aumento da dívida das famílias.
A enorme queda da taxa de desemprego foi acompanhada por um aumento da formalização das relações de trabalho. Ou seja, a condição financeira das famílias, primeiro fator da inadimplência, melhorou tanto porque mais pessoas estão trabalhando quanto porque os empregos agora são formais e, portanto, mais estáveis. Com mais certeza dos rendimentos, as famílias podem comprometer um porcentual maior da renda com dívidas sem serem assaltados por súbitas quedas no rendimento.
A exigência de garantias (bens ou dinheiro) ajuda a selecionar o cliente e contribui para inadimplência menor. Assim, a implementação do crédito consignado, no fim de 2003, permitiu a uma parcela maior da população tomar crédito com garantia, o que reduziu spreads e juros. Igualmente contribuiu para a queda da inadimplência o avanço do crédito com alienação fiduciária, no qual o emprestador fica com o bem em garantia até que todas as prestações sejam pagas. No mesmo sentido deve contribuir a recente aprovação do cadastro positivo, que divulga o histórico do bom pagador, que se vê, assim, estimulado a pagar em dia para ter acesso a juros menores.
Evidentemente, a inadimplência também está sujeita a ciclos econômicos. Por isso, entendemos que, apesar da melhora recente, a inadimplência do consumidor deve se elevar levemente em 2011. O esperado aperto monetário, associado a um crescimento menor, deve levar a uma menor criação de empregos e a reajustes salariais menos generosos. Para alguns, isso pode significar dificuldades de pagar todos os compromissos assumidos. O Banco Central, aliás, já verificou que, em outubro, houve um leve aumento do porcentual de atrasos há mais de 90 dias. Foi o primeiro aumento em 4 meses
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