Comprar sem gastar com tributos. Essa sensação foi sentida ontem por milhares de gaúchos na quarta edição do Dia da Liberdade de Impostos, data que marcou o final do período do ano em que os brasileiros só trabalharam para quitar o débito com o fisco.
Segundo a Associação da Classe Média (Aclame), que criou a data, a carga tributária consome hoje 148 dias ou 40,51% da renda do ano das pessoas. Pelo placar do impostômetro, serviço on line disponível no site www.impostometro.com.br que contabiliza a arrecadação pela União, estados e municípios, a soma de todos os tributos até ontem indicava cobrança de R$ 402,5 bilhões. Somente no Rio Grande do Sulado, considerando o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o volume era de R$ 6,57 bilhões.
O dia sem impostos começa a ganhar adeptos fora do Estado. Belo Horizonte (MG) experimentou a venda sem tributos pela primeira vez. O presidente da Aclame, Fernando Bertuol, adianta que quer chegar a São Paulo, estado mais rico do País, em 2009. Ele destaca que o foco não é ser contra os tributos, mas conscientizar a população de que a aplicação dos recursos deve ser mais eficiente, além de gerar pressão contra a criação de novas taxas e pela redução das atuais. "Política só funciona sob pressão", afirma.
Este ano cinco cidades - Porto Alegre, Cachoeira do Sul, Lajeado, Novo Hamburgo e Pelotas - aderiram à campanha com oferta de mercadorias sem impostos, que envolve empresas, profissionais liberais e entidades ligadas ao setor industrial, comercial e de serviços. Outros 20 municípios fizeram apenas ações de divulgação da data. Somente no setor de combustíveis foram 42 mil litros com redução de preço em seis postos participantes da iniciativa. Bertuol estima que as entidades e patrocinadores investiram R$ 100 mil para fazer jus a produtos livre de impostos.
Pelo quarto ano consecutivo, a Capital teve fila para as disputadas fichas com gasolina sem imposto e até sem lucro do comerciante. O Instituto da Liberdade se juntou à Aclame e ao movimento Luto pelo Brasil para patrocinar cotas de gasolina para 250 motoristas em um postos da Zona Sul. As filas de carros começaram na madrugada. O litro, que valia R$ 2,499, foi vendido por R$ 1,20. "Quem paga o grande volume de impostos é o consumidor, não o empresário. O problema é que na hora de ter segurança temos de contratar vigilância privada", lamenta Henri Chazan, vice-presidente do Instituto da Liberdade.
Novo Hamburgo, que promove pela segunda vez a ação, teve reforço das Lojas Colombo e de redes de calçados e revendas de combustível. Na fila para disputar 150 mercadorias sem tributos, o comerciante Rafael Lanzarini Leal, que mora em São Leopoldo, conseguiu ficha para comprar uma TV de tela LCD de 32 polegadas. O valor com impostos sairia por R$ 2.399,00. Mas no Dia de Liberdade de Impostos, o eletroeletrônico custou R$ 1.415,41, 41% a menos. "A gente leva um susto quando vê a diferença", reagiu o comerciante. Já a dona de casa Rosalva Güinter foi para a fila para assegurar um conjunto de panelas inox. Ela pagou R$ 270,72 em vez dos R$ 479,90 que inclui as taxas. "Gastei R$ 209,18 menos. Para quem tem renda de R$ 1 mil, é uma baita economia", comemorou Rosalva, que pretendia estrear as panelas novas no almoço de ontem.
O supervisor regional para o Vale dos Sinos da rede de eletrodomésticos, Leandro Lhamby, informou que a empresa absorveu a maior parte da conta fiscal e destacou que a ação teve êxito ao dar mais transparência na composição do preço. "Estamos também de olho no consumidor do futuro, que começa a dar mais importância para o gasto tributário", comentou Lhamby. O evento em Novo Hamburgo é encarado como festa e envolve prefeitura e Associação Comercial e Industrial e de Serviços (ACI), que abrange também Campo e Estância Velha.
A presidente da ACI, Fátima Daudt, reforçou que a meta não é declarar guerra aos tributos, mas promover a conscientização de que a arrecadação tem de reverter para benefícios da população. O palco armado pelas entidades na rua Lucas de Oliveira, Centro de Novo Hamburgo, teve apresentação de projetos de escolas privadas e públicas, que focam a educação sobre os impostos, e a Caminhada da Conscientização Tributária.
Um veículo Fiat Palio, que custa R$ 25,1 mil, foi leiloado com preço inicial de R$ 15,3 mil, que não inclui tributos. O vencedor foi quem deu o maior lance, que acabou em R$ 8,5 mil. Neste caso, valeu mais a intenção do que o preço.