Os bancos querem que o governo tome medidas para poderem dar crédito de longo prazo às empresas, que vão precisar dos recursos para financiar investimentos em infraestrutura. Mudanças na regulação, criação de novos instrumentos de captação, redução do depósito compulsório cobrado nas letras financeiras e incentivos fiscais para quem comprar títulos mais longos estão entre os pontos que estão sendo discutidos pelos bancos com os técnicos do governo. "A falta de poupança interna é um dos grandes gargalos do Brasil. Sustentar o crescimento da economia só com poupança externa não é viável", afirma o presidente do HSBC, Conrado Engel.
Nas condições atuais, os bancos dizem ser impossível emprestar com prazos maiores, de 10 a 15 anos. "Os bancos captam no curto prazo. Não é viável dar crédito de longo prazo e criar um descasamento entre prazos. É perigoso para o sistema financeiro", diz o presidente do Santander e da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Fabio Barbosa. Para ele, também é preciso pensar formas de desindexar instrumentos de captação dos Certificados de Depósito Interbancário (CDI), usados como referencial para papéis de renda fixa. "Quem vai financiar a longo prazo não quer ficar exposto a CDI."
Além de não ter um mercado de captação de longo prazo em reais, os bancos dizem estar preocupados com o cenário para as captações externas, hoje uma das maiores fontes de recursos de longo prazo. Na média, as companhias brasileiras estão conseguindo emitir papéis de 10 anos lá fora com taxas atrativas, mas a perspectiva para os próximos cinco anos é de aumento da incerteza no mercado, por conta do baixo crescimento das economias desenvolvidas, avalia Mauro Leos, vice presidente de Risco Soberano para a América Latina da Moodys. Na Zona do Euro, problemas fiscais vão continuar gerando crises e "picos de aversão ao risco".
"Não vamos poder confiar só no mercado internacional para captar. Temos que criar esse mercado em reais", diz Barbosa. Para o presidente da Febraban, também não é viável deixar todo esse mercado nas mãos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), até agora a única instituição que vem emprestando a prazos maiores. Segundo o executivo, hoje alguns bancos têm feito empréstimos de maior prazo para empresas de primeira linha. "Mas ainda é algo marginal."
Basileia 3
Além de um mercado externo mais instável, os bancos também estão preocupados com as novas regras de capital mínimo, que vêm sendo chamadas de Basileia 3. "Essas regras vão regular a liquidez dos bancos muito fortemente", diz o presidente no Brasil do banco francês BNP Paribas, Louis Bazire. Para ele, uma das soluções é desenvolver um mercado secundário no País, para dar maior segurança aos investidores que comprarem títulos de longo prazo.
Outra discussão que terá que ocorrer por conta da nova regulamentação, diz Bazire, é a redução dos depósitos compulsórios no País, que hoje estão bem acima da média internacional. Por aqui, estão na casa dos 50% dos depósitos, ante 5% em países como a Inglaterra.
Se o crédito bancário de longo prazo deslanchar, a relação entre crédito e Produto Interno Bruto (PIB) tem condições de bater na casa dos 70%, avalia o presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Adalberto Savioli . Hoje essa relação está em 46,2%.
Os executivos dos bancos participaram nesta quinta-feira do "V Seminário Internacional - Brasil 2011 Estratégias para um País em expansão", promovido pela Acrefi em São Paulo.
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