Dólar cai à menor cotação do ano; BC planeja comprar divisas da capitalização da Petrobrás e Fazenda quer usar o Fundo Soberano no câmbio
A área econômica do governo se mobiliza para conter a valorização do real ante o dólar. Na sexta-feira, 10, a moeda americana fechou na menor cotação do ano, a R$ 1,72. O 'Estado' apurou que o Banco Central (BC) vai comprar todo dólar que ingressar no Brasil em decorrência da capitalização da Petrobrás. E o Ministério da Fazenda estuda utilizar o Fundo Soberano para segurar a alta da moeda brasileira.
Nos últimos dias, aumentou substancialmente o fluxo de recursos para o Brasil, em razão de dois fatores: as captações externas, que no acumulado da semana chegaram a cerca de US$ 6 bilhões, e a proximidade da operação da Petrobrás, que será encerrada até o fim do mês.
"Não tenho cliente que venha comprar dólar. Só vender", afirmou um executivo de um banco estrangeiro, referindo-se à enorme quantidade de dólares que está entrando no País. "Não há muito o que o BC possa fazer para segurar o dólar, a não ser comprar, como, aliás, tem feito", ponderou. Até o dia 3, as aquisições do BC no ano somavam quase US$ 20 bilhões. Quinta-feira, as reservas cambiais estavam em US$ 262,4 bilhões.
Nesta semana, o BC voltou a promover dois leilões de compra de dólar por dia. A última vez que recorreu à estratégia foi em abril. Ontem, por exemplo, o dólar ficou grande parte do dia próximo de R$ 1,71. Só voltou para a casa de R$ 1,72 após o segundo leilão, realizado por volta das 15h45. No ano, o dólar acumula leve queda de 1,32%. Em setembro, a baixa é de 2,05%.
Além da expectativa de entrada do dinheiro relativo à capitalização da Petrobrás e do aumento das captações externas, outro fator tem contribuído, há mais tempo, para a alta do real: a especulação de investidores que querem aproveitar a diferença entre a taxa de juros brasileira e a de outros países, sobretudo desenvolvidos. Aqui, a taxa básica (Selic) está em 10,75% ao ano. Nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, está perto de zero.
Investidores estrangeiros mantêm uma aposta na valorização do real equivalente a US$ 11 bilhões na BM&FBovespa - em linguagem do mercado, significa que eles estão vendidos em dólar nesse valor. Os bancos estão na mesma posição, só que em US$ 14 bilhões.
O diretor executivo da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Nehme, pondera que o dinheiro da operação da Petrobrás ainda é mera especulação. "Ainda há muita incerteza sobre o que fará o investidor", afirmou.
Além disso, ele observa que grande parte dos recursos nem sequer pode entrar no País. "A Petrobrás tem a possibilidade de deixar dinheiro lá fora para, por exemplo, pagar fornecedores estrangeiros", disse. "Isso impede que o dólar afunde ainda mais."
Nehme avalia que, passada a operação da estatal, a tendência será por valorização do dólar, por causa do crescente aumento do déficit em conta corrente do Brasil (que registra as operações do País com o exterior).
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