O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse hoje que, no médio prazo, o déficit nas transações correntes deve levar a uma depreciação do real, mas considerou que o fenômeno ainda não ocorre porque o País continua recebendo volumosa quantidade de investimentos estrangeiros em portfólio no mercado financeiro, nas compras de títulos e de ações. "O déficit deveria puxar uma desvalorização (do câmbio), mas há outros fatores, como o fluxo financeiro para o Brasil, que sustenta oferta de dólares para o mercado", disse. Mantega acrescentou que, apesar do descompasso entre a tendência de queda no real e a formação de preços futuros, o governo não irá alterar nenhuma regra para regular o câmbio.
"Não estamos pensando em mexer nos mecanismos regulatórios", afirmou. Para o ministro, a adoção da cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) na entrada de capitais no País cumpriu o objetivo de conter a volatilidade do câmbio e evitar uma apreciação exagerada do real. Apesar de afirmar não enxergar uma forte ação especulativa, Mantega defendeu a ação do Banco Central (BC) no mercado futuro de câmbio, seja por meio de operações de swap (troca), seja por meio da limitação da exposição dos bancos. "Sou favorável à atuação do BC, quando oportuna", completou.
Crescimento do PIB
O ministro da Fazenda avaliou ainda que a economia brasileira tem "facilmente" potencial para crescer "7%, 8%", mas o governo não deixa essa expansão ocorrer para não provocar problemas "preocupantes" para as contas externas. "A gente não deixa a economia crescer muito. A economia facilmente conseguiria crescer 7% e 8%. É uma economia que tem força, potencial de dinamismo, mas não deixamos, para não ter problemas de déficit mais preocupantes e desequilíbrios entre importações e exportações", disse.
Na avaliação do ministro, o déficit em conta corrente do balanço de pagamentos do Brasil com o exterior ocorre também em função de maiores investimentos. "Esse déficit significa que estamos investindo mais. Isso é positivo", destacou Mantega. Segundo ele, o déficit em transações correntes tem ocorrido com superávit comercial, o que não aconteceu em alguns momentos do passado.
"O nível de investimento significa que estamos usando o déficit para investimento. Isso é bom porque investimento gera exportação", disse Mantega. Ele acrescentou que as empresas também regulam as suas atividades externas de acordo com o mercado interno. "Quando o mercado interno está bombando, elas preferem colocar as suas mercadorias no mercado interno do que no externo. Mas se o nível de crescimento do mercado interno diminui, aí as empresas vão buscar mais no mercado externo", afirmou.
O ministro da Fazenda disse que resolveu comentar o resultado das contas externas para fazer uma avaliação mais aprofundada, diante das manchetes dos jornais que mostraram uma deterioração do déficit da conta corrente. "Às vezes, os jornalistas tendem a dar uma visão mais apimentada, senão não despertaria atenção", disse. Ele avaliou, no entanto, que o resultado não é alarmista e que a situação das contas externas é confortável. Mais uma vez, lembrou que a economia brasileira tem a menor vulnerabilidade já alcançada pelo País.
|