O Ministério da Fazenda ainda não entrou publicamente no debate sobre o efeito do crédito subsidiado na taxa Selic, mas, nos bastidores, a área técnica da pasta defende com convicção a política de o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) fornecer crédito mais barato para estimular investimentos. A alegação é que, por causa do juro elevado da economia brasileira, o crédito subsidiado é essencial para que o potencial de crescimento do País aumente e não haja "voo de galinha" - forte expansão econômica seguida de paralisação da atividade.
Já o Banco Central considera possível que, indiretamente, o crédito subsidiado cause uma elevação da taxa Selic. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o presidente do BC, Henrique Meirelles, afirmou que a política de crédito direcionado enfraquece a política monetária, demandando taxa de juros básica maior. "Existe um efeito sim, é uma hipótese muito boa, mas é difícil de medir", diz Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Santander no Brasil.
Ele afirma não conhecer país no qual o crédito direcionado seja equivalente a um terço do crédito total, como no Brasil. Essa característica pode ajudar a explicar por que a taxa de juro real neutra, isto é, que não aumenta nem reduz a inflação, é muito mais alta no Brasil do em quase todos os outros países. "Como o crédito direcionado é fornecido a taxas muito inferiores às do mercado, ele tem um efeito expansivo sobre a demanda", diz Schwartsman, observando que o BNDES é responsável por 60% do crédito direcionado.
O entendimento do Ministério da Fazenda é o oposto. "O governo precisa dar crédito subsidiado porque existem falhas de mercado, derivadas do fato de a Selic ser altíssima", diz uma fonte do Ministério. "Sem isso, não haveria crescimento do PIB potencial (isto é, crescimento não inflacionário). Se os juros fossem menores, não haveria necessidade de crédito subsidiado", acrescentou.
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