Governo vai gastar R$ 800 milhões para pagar a diferença entre o reajuste de 6,14% concedido desde janeiro e os 7,7% sancionados pelo presidente
Até agosto, o governo deverá liberar cerca de R$ 800 milhões aos aposentados que recebem mais do que um salário mínimo. O valor corresponde à diferença entre o reajuste de 6,14% que vinha sendo pago desde janeiro e o aumento de 7,72% sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No total, a despesa adicional do governo chegará a R$ 1,6 bilhão.
"Os atrasados, queremos pagar até agosto", disse na quarta-feira, 16, o ministro da Previdência, Carlos Eduardo Gabas. A folha de benefícios de julho já será rodada com o reajuste de 7,72%.
Um dia após a decisão de vetar ou não o aumento, um debate que opôs a área econômica à área política do governo, o clima era de franca camaradagem. Gabas, opositor ao veto dos 7,72%, foi saudado como "vitorioso" numa cerimônia que tinha como anfitrião o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, um defensor do veto. O elogio partiu do secretário de Planejamento e Investimentos Estratégicos, Afonso Almeida. Ao ouvi-lo, Bernardo perguntou, em tom de brincadeira: "Então, quem foi o derrotado?" "A política do governo foi vitoriosa e o ministro Paulo Bernardo foi quem encontrou a solução", disse Almeida, tentando por panos quentes na situação.
A versão foi confirmada por Gabas que, involuntariamente, deixou claro que o ministro do Planejamento mudou de posição durante a reunião final sobre o veto, terça-feira. "Você disse ao presidente Lula que tinha dificuldades, que tinha de cortar, mas que era possível achar maneiras de encaixar o reajuste no orçamento." Até então, Bernardo insistia que não tinha como acomodar os 7,72%. "Queria agradecer de público sua postura", disse Gabas. "Obrigado, Paulão!"
Delação
"Foi uma manhã de revelações", comentou Bernardo. "O Afonso mostrou de que lado estava no debate e o Gabas me delatou." Ao explicar como equacionará o reajuste de 7,72%, Gabas afirmou que aumentará a necessidade de financiamento da Previdência pelo Tesouro, mas ressaltou que o bom desempenho da economia fez com que as projeções de déficit caíssem de R$ 50 bilhões para R$ 45 bilhões.
O próprio reajuste, disse ele, injetará recursos na economia, que retornarão aos cofres públicos na forma de impostos. Além disso, a Previdência tem dívidas de R$ 400 milhões a receber e intensificará a cobrança.
"Isso vai, tranquilamente, suprir as necessidades", comentou, para só depois emendar que serão necessários cortes nas despesas. Ele informou ainda que 86% dos 8,4 milhões de aposentados que receberão o reajuste ganham até R$ 2 mil.
Gabas respondeu o comentário do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, para quem Lula tomou a decisão de dar o reajuste de 7,72% com o coração. "Para mim, agir com o coração é elogio, é diferente do Fernando Henrique, que não tem coração", atacou.
"O presidente Lula tem coração e razão também. Isso é coisa de gente invejosa, de gente fracassada."
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