As indústrias de bens de consumo, lideradas por bens duráveis e semi-duráveis, mantiveram em abril o mesmo ritmo apresentado no primeiro trimestre, estimuladas pela proximidade do Dia das Mães e pelo cenário de demanda doméstica aquecida, mesmo com elevação na taxa de juros e pressão de preços. A expansão segue liderada pelo setor automotivo, cujas vendas subiram 35,6% em abril na comparação com igual mês de 2007, e 29,9% no quadrimestre, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
Rogelio Golfarb, diretor de assuntos corporativos da Ford, diz que ainda não há sinais de desaceleração no setor automobilístico. "Com o desempenho apresentado pelo setor até agora, a projeção da Anfavea já pode ser considerada conservadora", afirma. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) projeta incremento de 8,9% na produção e de 17,5% nas vendas no mercado interno neste ano.
A Robert Bosch, que produz autopeças para o setor automotivo, confirma a aceleração. A empresa elevou a produção em 18% em abril em relação ao mesmo mês do ano passado, mesmo percentual acumulado no quadrimestre, diz Besaliel Botelho, vice-presidente da divisão de Sistemas a Gasolina da Robert Bosch na América Latina. Para o ano, ele projeta crescimento por volta de 10%. "O começo do ano foi muito mais forte no mercado interno e as montadoras só atenderam à demanda porque tinham estoque", afirma Botelho.
A Teksid, fabricante de peças fundidas em ferro do grupo Fiat, está operando a plena capacidade para atender a forte demanda da industria automobilística. "Estamos num ritmo bem mais forte do que no ano passado", diz Vilmar Fistarol, CEO da Teksid no Brasil. O que diferencia esse início de ano em relação ao mesmo período de 2007, segundo o executivo, é a perda de exportação, em decorrência da valorização do real frente ao dolar. "Nossas vendas externas, da ordem de 76 mil toneladas ao ano, baixaram cerca de 13%", afirma Fistarol. No mercado interno, as vendas fisicas da empresa já cresceram 10% entre janeiro e abril, na comparação com 2007. A empresa opera a quase 100% da capacidade instalada, e no ano passado operava a 85% da capacidade.
O setor de eletroeletrônicos também manteve em abril o ritmo de expansão apresentada no primeiro trimestre. A BSH Continental manteve entre janeiro e abril crescimento entre 5% e 6%. A expectativa, afirma Edson Chiari Grottoli, presidente da BSH Continental para a América do Sul, é manter essa taxa no ano de 2008. "O mercado fica mais aquecido nessa época por conta do Dia das Mães. Mas na média, é um ano de acomodação, após a expansão forte de 2006 e 2007, quando o mercado cresceu na faixa de 15%."
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), as vendas do segmento tiveram desempenho mais fraco em abril, com crescimento de 2,8%, ante 3,4% em março. Humberto Barbato, presidente da entidade, diz que a projeção de crescimento para o ano ainda está mantida em 12%. Segundo ele, alguns setores sofrem a concorrência de importados e têm dificuldades em repassar preços, sobretudo em motores, geradores, equipamentos de transmissão e geração de energia e material elétrico.
Na área têxtil, a proximidade do Dia das Mães e a chegada do frio estimulou a aceleração na produção e nas vendas. A Lupo cresceu 27% de janeiro a abril - de janeiro a março, havia crescido 22%. "Virou uma farra o tanto que estamos vendendo. A preocupação é dar conta de entregar todos os pedidos", afirma Valquírio Ferreira Cabral, diretor comercial da Lupo.
A empresa opera 24 horas por dia e está vendendo 40% acima da capacidade produtiva, que é de 700 mil dúzias de peças por mês. Por conta do resultado "inesperado" do quadrimestre, a empresa reviu a projeção para este ano de 12% para 25%. Segundo Cabral, preocupa a falta de algumas matérias-primas que estão retidas nos portos por conta da greve dos fiscais e o aumento de alguns itens em até 40%. "A Lupo segurou preços, ganhou produtividade. Até junho não faremos nenhum reajuste, mas daí para frente, os preços terão que ser revistos", disse. Nesse período, a empresa apostou em ganhos de produtividade e elevou o quadro de funcionários em quase 10% (300 pessoas), para 3.350.
Apesar da recaída das exportações, que em abril recuaram 5,3% em relação a igual período de 2007, para US$ 126 milhões, depois de sete meses consecutivos de alta, o mercado interno garantiu fôlego para o setor calçadista no primeiro quadrimestre. No mês passado, o desempenho foi favorecido pelas encomendas para o Dia das Mães e a estimativa do presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Milton Cardoso, é de que as vendas domésticas, que absorvem cerca de 80% da produção nacional de 750 milhões a 800 milhões de pares por ano, devem repetir no acumulado de 2008 a expansão de 10% registrada em 2007.
"O primeiro quadrimestre foi ótimo", disse o presidente da A.Grings, Paulo Grings. De acordo com ele, as vendas da fabricante de calçados femininos da marca Piccadilly cresceram 8% nos quatro meses em comparação com 2007, para 3,8 milhões de pares. Só em abril a expansão foi de 13,3%, para 841 mil pares, e para maio, apesar do refluxo sazonal dos pedidos do varejo, as encomendas já superam em 10% os volumes verificados no mesmo mês do ano passado.
Licenciada da marca Converse All Star para Brasil, Argentina e Uruguai, a Coopershoes, inaugurou em abril uma nova unidade que vai ajudar a elevar a produção para 6,5 milhões neste ano, sendo 70% destinados ao mercado interno, explicou o diretor financeiro Paulo Sidegum. Segundo o gerente comercial da empresa, Luciano Ferrari, as vendas cresceram entre 25% e 30% no quadrimestre em relação ao mesmo período de 2007. Em abril, a alta chegou a 32%, para 370 mil pares.
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