Economistas acham que o País, com dívida pública comparativamente modesta e grandes reservas, está mais preparado para crise
Se os efeitos no mercado financeiro do agravamento da crise grega podem ser severos, o Brasil conta ao menos com uma situação relativamente favorável em termos econômicos mais amplos para resistir à piora do cenário internacional. Com reservas de US$ 250 bilhões, e uma dívida modesta comparada ao padrão dos países problemáticos, o Brasil não está no mapa das preocupações dos investidores internacionais com a solvência dos países e dos seus setores públicos.
"O caso grego certamente foi muito mais patológico do que o do Brasil, que preserva alguma disciplina fiscal, tem alguma meta de superávit primário, e onde não se vê uma trajetória crescente de dívida", resume Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Santander no País.
Na realidade, os analistas que se debruçam sobre os possíveis impactos da crise grega no Brasil são quase unânimes em avaliar que tudo depende muito de um fator imponderável: quão grave se tornará a situação na Europa.
Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco, pondera que, no caso de uma forte desaceleração do crescimento europeu, o Brasil perderia algo pelo lado do comércio internacional, mas não seria nada trágico.
O risco maior, para Goldfajn, "é o problema europeu desorganizar outras regiões e acabar todo mundo afundando junto; o perigo não é o efeito direto, mas sim o indireto."
Schwartsman vem trabalhando no detalhamento de um paralelo entre os eventos do fim de 2008, com a quebra do Lehman Brothers, e a crise atual. Ele nota que a crise global de 2008 e 2009 teve três elementos: a fuga de capitais para os Estados Unidos, mesmo com o país sendo o epicentro da turbulência; o colapso do preço das commodities; e a contração global do crédito.
Segundo o economista, no atual episódio de turbulência, ficou evidente que houve um pouco dos dois primeiros efeitos, embora em dimensões totalmente diferentes daquelas da crise pós-Lehman. Assim, o dólar está se fortalecendo, com a fuga de capitais na direção de ativos americanos. "A desvalorização do real agora também é em parte o outro lado da moeda da valorização do dólar", ele analisa.
Baque
As commodities, por sua vez, sentiram um certo baque, o que também se liga à trajetória do dólar. Quando a moeda americana se fortalece, as commodities tendem a cair. Isso afeta em particular moedas sabidamente ligadas às commodities, como o real brasileiro e o dólar australiano.
Onde Schwartsman vê menos paralelismo entre a turbulência atual e a grande crise global é na área de crédito. Se o problema ficar confinado à Grécia, não é tão grande em termos absolutos.
Mas, mesmo que se espalhe, o estrago agora é bem conhecido, e já se reflete no preço dos papéis dos países europeus atingidos, ao contrário da crise pós-Lehman, em que o tamanho e a localização das perdas com derivativos era desconhecido, o que ajudou a disseminar o pânico.
Particularmente no Brasil, nota o economista, não parece haver agora nada parecido com as perdas de grandes empresas com derivativos cambiais que ocorreu na crise de 2008 e 2009.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, sócio da Quest Investimentos e ex-ministro das Comunicações, acha que uma das características da atual crise que a faz menos ameaçadora do que a de 2008 e 2009 é que a economia americana se encontra em melhor forma. "E o sistema bancário americano não tem essa péssima dívida que está trazendo problemas na Europa."
Mendonça de Barros considera que a situação relativamente boa do Brasil em termos de endividamento público é um dos maiores diferenciais positivos do País aos olhos dos investidores internacionais.
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