RIO - A inflação sentida em março pelas famílias de baixa renda, com ganhos mensais entre um e 2,5 salários mínimos, foi recorde, segundo série histórica do indicador, iniciada em 2004. O Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1 (IPC-C1) subiu 1,40% no mês passado, após avançar 0,90% em fevereiro. Os preços dos alimentos, que subiram 3,31%, de 1,41%, na mesma base de comparação, representaram a maior contribuição para a formação do resultado do indicador e também registraram em março a mais intensa elevação dos últimos seis anos.
Na prática, a maioria dos alimentos mais consumidos entre os mais pobres mostrou inflação intensa em março, o que levou à taxa maior do indicador. Mas segundo o economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) André Braz, a pressão na inflação sentida pelos mais pobres em março veio principalmente de alimentos in natura. As fortes chuvas registradas no início do ano prejudicaram a oferta deste tipo de produto, o que levou à disparada nos preços do setor.
"Os preços dos alimentos in natura representaram 56% do total da inflação dos alimentos em março e 54% do total do IPC-C1", afirmou. "Se não fossem os in natura, o indicador teria caído pela metade e subido 0,71%, que é o cálculo do IPC-C1 excluindo este tipo de alimento", acrescentou. Entre os exemplos de in natura citados pelo economista está o comportamento de hortaliças e legumes, cuja taxa de inflação disparou (de 3,72% para 13,69%) e registrou em março a mais intensa elevação desde dezembro de 2008, quando o segmento teve inflação de 14,34%. Também houve aceleração nos preços de frutas (de 1,49% para 2,99%).
Além dos in natura, outros movimentos pressionaram o setor de alimentação. O feijão carioquinha subiu 8,46% em março, após cair 0,27% em fevereiro - o mais forte aumento desde junho de 2008 (15,57%). Este produto responde por 0,5% do orçamento mensal familiar da faixa de renda mais baixa da população. "O feijão carioquinha continua subindo e pode subir até 30% em algumas capitais, ainda em abril", afirmou Braz, da FGV. Ele observou ainda que o item também pode ter tido sua oferta prejudicada devido às fortes chuvas que caíram no País, recentemente.
Outro destaque foi o preço do leite tipo longa vida, que também mostrou aceleração (de 4,63% para 8,16%) na passagem de fevereiro para março. "Desde janeiro, ele vem acumulando aumentos de preços consecutivos", afirmou o especialista. Braz lembrou que o mercado brasileiro está enfrentando agora o início da "entressafra" na captação de leite, o que reduz a oferta e aumenta os preços.
Braz também comentou que houve mudança na trajetória de preço da carne bovina (de -0,42% para +1,34%). Os cortes de carne que subiram de preço foram os mais consumidos pelas famílias mais pobres, ou seja, as denominadas "carnes de segunda". Este tipo de carne está sendo deslocada para o mercado internacional, devido ao aumento na procura por este tipo de item, graças à gradual recuperação na demanda internacional, no cenário pós-crise. Entre os exemplos de aceleração de preços estão acém (de 1,51% para 1,81%), patinho (de -0,62% para 0,66%), pá ou palheta (de -0,01% para 2,83%), peito (de -0,28% para 4,14%), carne moída (de 0,68% para 1,94%) e carne seca (de -2,62% para 2,30%).
Abril
Para abril, o economista não acredita em uma continuidade no processo de aceleração do IPC-C1. "Não acho que vá continuar a subir deste jeito. Na margem, notamos que os preços dos in natura estão subindo menos. Ou seja, é possível que eles continuem a desacelerar até o fim deste mês, diminuindo a influência no IPC-C1 e reduzindo a taxa para abril", explicou.
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