Levantamento é do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário
Ana Clara deverá gastar metade de cada ano de trabalho só para pagar impostos. A constatação faz parte de um estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), divulgado ontem, que estima que a carga tributária brasileira passará dos atuais 40,51% para 50,09% após 2020.
Hoje, Ana Clara ainda está na barriga da mãe, Edinéa Borba, grávida de sete meses. Ao lado do pai, o comerciário Cassiano Prestes, Edinéa considera o atual peso dos impostos no orçamento familiar, de cerca de R$ 2 mil, muito alto. E reclama que não tem retorno em termos de saúde (conta não ter obtido autorização do Sistema Único de Saúde para tirar uma pedra da vesícula) e segurança (lembra já ter sido mantida refém em um assalto à loja que trabalhava).
O presidente do IBPT, Gilberto Amaral, explica que a perspectiva de crescimento da carga tributária baseia-se na média do aumento dos últimos anos, associada às projeções negativas da entidade quanto à aprovação de uma reforma tributária. O estudo mostra que a classe média é a que proporcionalmente mais paga impostos (confira quadro).
— Os que têm menos recursos consomem produtos da cesta básica, que têm incidência menor de tributos. E os mais ricos têm condições de se planejar e se defender da carga tributária, até comprando fora do país — afirma Fernando Bertuol, presidente da Associação da Classe Média.
Quando Carlos Borges começou sua vida profissional, em 1955, tinha de trabalhar 65 dias por ano para pagar impostos. Agora, às vésperas de se aposentar, prestando serviços de digitalização de filmes antigos, precisa em média 148 dias de labor para fazer frente aos compromissos tributários.
— Se tu pagasses quase 50% de impostos, mas chegasses no INPS (antiga sigla do Instituto Nacional do Seguro Social) e não houvesse filas ou falta de leitos, tudo bem. Mas eu, por exemplo, não pego remédio pelo SUS (Sistema Único de Saúde) por causa das filas. E há 10 anos minha mulher teve um AVC (acidente vascular cerebral) e para internar foi um Deus nos acuda — reclama Borges, que, no entanto, reconhece já ter tido um cirurgia cardíaca bem-sucedida paga pelo SUS.
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