SÃO PAULO - A crise que afeta alguns países europeus jogou novamente os mercados em um ambiente de incerteza, que aumenta a chamada aversão ao risco – ou seja, deixa os investidores mais reticentes em aplicar em ativos menos seguros, como bolsa de valores. Em tese, essa realidade pode afetar os fluxos de capitais no mundo. Mas, mesmo que isso ocorra, não terá efeito negativo sobre a economia brasileira.
A avaliação é do presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, que concedeu ao Estado uma entrevista exclusiva no fim da tarde de segunda-feira, na sede da instituição em São Paulo. “As perspectivas de crescimento da economia brasileira continuam sólidas, com expansão baseada no mercado interno”, afirmou.
“No curto prazo, digamos este ano e possivelmente no próximo, o déficit em conta corrente brasileiro será financiado pelo investimento estrangeiro direto, na medida em que a expansão do mercado doméstico já está demandando investimentos das companhias.”
Embora esteja otimista com o País, Meirelles reconhece que nem todas as perdas dos grandes bancos no mundo estão claras, o que deve contribuir para que o mercado global ainda passe por turbulências, com impactos sobre ativos brasileiros.
Para Meirelles, a dificuldade fiscal de alguns países da Europa já era previsível. “Não contávamos com um cenário de exuberância absoluta durante este ano e os próximos”, disse. É por isso, explicou, que autoridades brasileiras, como ele, alertavam os mercados para um risco de euforia. “Temos de tomar cuidado com o excesso de euforia, que leva muitas vezes a excesso de correção. O que estamos vendo é um pouco isso.”
Segundo o presidente do BC, a Europa deverá ter crescimento abaixo de 1% este ano e os Estados Unidos, desempenho um pouco melhor, “mas sujeito a incertezas e dificuldades”. Meirelles afirma que não está configurada “uma probabilidade elevada de uma recessão no modelo W”. Ou seja, uma nova queda após a recuperação vivida pela maior parte dos países no ano passado.
O presidente do BC se esquivou de dar pistas sobre os próximos passos da instituição em relação à taxa básica de juros (Selic). O mercado financeiro dá como certo um novo ciclo de elevações, com início entre março e abril. “Não predefinimos uma estratégia (para a política monetária). A cada reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), tomamos a decisão com base nas informações existentes”, afirmou.
Meirelles também rebateu as críticas de setores da sociedade que defendem que o BC intervenha no mercado de câmbio para evitar que o real continue perdendo espaço em relação ao dólar – a moeda americana, que valia R$ 1,72 no início do ano, chegou a ser negociada por R$ 1,90 na semana passada. Ontem, fechou cotada a R$ 1,847.
“Acho curioso. Quando o dólar estava caindo e passou de R$ 1,90, houve críticas muito fortes de que o BC estava ‘deixando’ o dólar. Agora que a moeda se aproxima de R$ 1,90, mas subindo, o BC é criticado por deixar subir para esse nível.” O presidente do BC também evitou falar sobre uma eventual saída do BC para se candidatar a algum cargo eletivo.
|